“Mudar paradigmas é difícil e custoso”
Otimista de raiz e de carteirinha, Paulo Francisco da Silva, CEO da renomada consultoria em reciclagem Agora vai Brasil, reconhece vários dos inatacados buracos e lombadas na pista do plástico recuperado no país, mas insiste em que algo começa, de leve, a mudar no percurso. Como exemplo, ele cita o gradual reconhecimento de que plástico reciclado de melhor padrão não merece o conceito de uma forma de subtrair gastos fabris que marca o recuperado movido só a preço. “Mudar paradigmas é difícil e custoso, depende de persistência, evolução tecnológica e implantação bem montada”, ele pondera. Para a ideia vingar, ele assinala, o mercado precisa, influenciado pela circularidade, a começar a separar o preço do reciclado e sua cadeia de abastecimento da cotação da resina virgem. Na direção, encaixa, “nossa velocidade de aplicação dos percentuais de reciclados nas formulações de transformados é capitaneada por grandes consumidores múltis e locais de embalagens”. Mas essa relativa boa vontade em considerar a valorização do recuperado não desce redonda e embute contradição. “Os brand owners atuam sob a obrigatoriedade de atender a preceitos sustentáveis tipo ESG, mas todos afirmam a recusa em pagar por plásticos reciclados mais caro que pelos virgens, informação que chega à cadeia de suprimento deles, mas não ao público final. Em suma, o fator rentabilidade segue forte nessas decisões”.
Adepto do bordão de que não há mal que sempre dure, Silva também confia na retirada de uma crônica pedra no sapato da sustentabilidade no Brasil: o crescimento regular de plástico alvo de descarte incorreto. Para virar o jogo, o consultor põe fé na educação ambiental da população, estimulada por brand owners, e na disseminação de serviços privados de gestão de resíduos industriais. “Envolvem coleta, separação e repasse da sucata a empresas cadastradas e com documentação em dia e que, por fim, destinam essa matéria-prima a recicladores formais ou transformadores com braço na recuperação de plástico pós-consumo”. Na mesma trilha do combate ao descarte incorreto, Silva sugere adicionar aos preços de produtos finais um montante a ser recolhido em sua venda e encaminhado a gestores de lixo, responsáveis pelo repasse do resíduo pré-beneficiado a recicladores. A questão resvala para o desafio de conciliar a atividade de catadores (responsáveis por 90% da coleta de refugo plástico), hoje marcada como política de inclusão social, com uma reciclagem de cunho menos bem eficiente e mais empresarial. De um lado, aponta, está a indústria com uma tecnologia em constante evolução e, do outro as limitações de capacidade física e conhecimentos básicos de resinas como poliolefinas. “A Inclusão dos catadores na cadeia recicladora é necessária e bem-vinda, mas não se pode deixar um segmento inteiro da indústria plástica dependente do abastecimento deles”. •
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