Embora suas vendas estejam longe dos medalhões da indústria automobilística, a Tesla, fabricante de carros elétricos do zilionário Elon Musk, já vale no mercado acionário norte-americano mais que todas as montadoras do planeta juntas, propelida pelas apostas de meio mundo em seu crescimento superlativo. Pois a Tesla do plástico é a reciclagem avançada ou química. No momento, ela ainda fraqueja em escala e preços para encarar a resina virgem, mas o consenso reinante é de que o caminho sem volta da economia circular e a decorrente pregação em prol do plástico reciclado pós-consumo de alto padrão trabalham para a reciclagem química apressar sua entrada no cotidiano da sustentabilidade e solidificar um mercado de peso para seus produtos. Palpiteiros sustentam que, com a velocidade das mudanças tecnológicas hoje em dia, a Tesla do plástico periga engatar a quinta antes do que supõem os futurólogos de plantão.
Nos EUA, onde chovem empreendimentos na reciclagem avançada, a Braskem, como maior produtora local de polipropileno (PP), forma entre as companhias que mais lenha atiram nessa fogueira do futuro da indústria plástica, como prova o projeto articulado com a parceira norte-americana Encina. “Uma vez desenvolvido o acordo para suprimento de matéria-prima e obtida a aprovação do financiamento, esperada este ano, o plano é implantar uma capacidade de reciclagem por pirólise catalítica através da qual a Encina transformará resíduos plásticos em propeno para utilizarmos na produção de PP”, adianta Luiz Alberto Falcon, responsável pela plataforma de reciclagem química da petroquímica brasileira. Conforme foi trombeteado, a unidade recicladora vai operar, na faixa inicial de 175.000 t/a (podendo chegar a 350.000 t/a) para gerar mais de 90.000 t/a de propeno.
A recuperação avançada de plástico pós-consumo comporta diversas rotas, várias delas já palmilhadas pela Braskem. No caso, a preferência pela pirólise, a via mais trilhada da reciclagem química hoje em dia, vingou pelas justificativas técnica e econômica providas à ideia de fornecer propeno de alma verde às seis fábricas de PP da empresa nos EUA, conta Falcon. O panorama atual de oferta restrita e preços acima do polímero virgem de origem fóssil não murcha as expectativas da Braskem em relação aos termoplásticos para segundo uso. “Produtos resultantes de matéria-prima resultante da reciclagem avançada vão desempenhar um papel importante no nosso futuro portfólio de resinas”, sublinha o executivo. Braskem e Encina, ele adianta, já se debruçam sobre a idealização do esquema logístico, qualidade da produção e certificação do futuro propeno gerado de sucata plástica, monômero hoje de limitada disponibilidade nos EUA. Ainda nessa pegada, Falcon enquadra esta investida entre as alternativas para ajudar a acelerar a transição da sua empresa para tecnologias de produção e matérias-primas mais em linha com a economia circular.
Além do propeno, a Encina dispõe de tecnologia de pirólise para gerar benzeno, tolueno e xileno de resíduos pós-consumo, tendo verberado por sinal a intenção de fincar uma unidade de reciclagem química em regiões como a América Latina. Falcon olha com boa vontade e comedimento esse entusiasmo da empresa aliada da Braskem. “O foco inicial da nossa parceria é a execução bem sucedida do projeto nos EUA, capacitando-nos a operar uma fábrica maior munida da tecnologia da Encina”, ele pondera. “Isso contribuirá para a disponibilidade de propeno derivado de refugo plástico reciclado para produzirmos PP. O êxito dessa empreitada talvez possa ser repetido em futuras oportunidades internacionais, inclusive no Brasil”. •