Heineken considera sustentável rejeitar PET

Até os anos 1990, a criançada da classe média para cima só tomava refrigerante em fins de semana ou festividades e água mineral, por sua vez, perdia longe para o consumo nacional de água potável da bica. O pivô dessa restrição era o envase desses líquidos em frascos de vidro, de baixas tiragens e preços altos. Pois essas algemas foram partidas pela entrada em cena de PET. Foi a possibilidade da produção em escalas de massa a custos inimagináveis com o vidro ou lata que levou a marco na qualidade de vida do brasileiro: a democratização do consumo que alçou o país à linha de frente dos maiores mercados mundiais de água mineral e refrigerantes. Por sinal, foi esta redução dos gastos de manufatura e rompimento com limitações elitistas proporcionados por PET que pavimentaram a profusão atual de marcas menores ou regionais de bebidas carbonatadas não alcoólicas, tipo tubaínas, ou ainda de sucos. Além dessa ruptura nos mercados onde hoje reina, PET se impõe pela excelência na sustentabilidade como a resina mais reciclada no planeta e a única permitida por regulamentações sanitárias a ser utilizada em embalagens de alimentos nas vestes der material reciclado bottle to bottle (grau alimentício);

Apesar de todos esses predicados do poliéster, ultra notórios para quem lida com embalagens, o Grupo Heineken  trombeteia na mídia o seu esforço para despontar para o público leigo como evangelista da circularidade por minimizar o consumo da resina nas garrafas de suas bebidas não alcoólicas: Água Schin, Schin Tônica, Skinka e os refrigerantes Itubaína, Viva Schin e FYs. “Parte dessas iniciativas está atrelada à redução do uso do plástico e à circularidade de 100% desse material nos canais ON e OFF Trade”, apregoa em release o grupo que também se apresenta como vice líder entre as cervejarias no Brasil. “Um ano após anunciar a retirada de embalagens de garrafas PET 1 e 2 litros das suas marcas Itubaína, FYs, Skinka e Viva Schin e as PETs de 1,5 litro das marcas Skinka e Água Schin, a companhia já deixou de comercializar cerca de 14 mil toneladas de embalagens plásticas no Brasil.” No arremete, a Heineken salienta que essa decisão resultou na redução de 80% do volume de PET do portfólio no Brasil ou 25% de diminuição da quantidade total de plástico aqui utilizada pelo grupo.

Só tem um porém na arenga verde néon da Heineken. Na contramão do seu alto teor de  ecomarketing, ela não apresenta a menor validade na instância definitiva dos fundamentos científicos, como prova, entre outros, o cientista independente Chris DeArmitt, em seu livro “Plastics Paradoxx” (O Paradoxo dos Plásticos), cuja leitura desvenda a penúria dialética dos salvadores do planeta que crucificam o material em praça pública. Trecho que fala por si: “A (consultoria) Franklin Associates  fez uma análise do-berço-ao-túmulo e descobriu que PET era significativamente mais ecológico que vidro e alumínio porque criava menos gases do efeito estufa, usava menos energia e gerava menos resíduos. O relatório mostra que migrar do PET para o alumínio significaria dobrar a incidência de dióxido de carbono  e consumir cerca de 50% a mais de energia”. Revisão de estudos sobre embalagens de bebidas publicada em 2013 pelos pesquisadores norte-americanos T.H. Owen e K.Boyd atesta que, como transcreve DeArmitt em sua obra, PET apresenta-se como o material de menor impacto Ambiental) em relação ao vidro e ao alumínio, principalmente quando é reciclado e quando são utilizados recipientes maiores”. Ao final dessa parte em seu livro escancara este texto grifado:

“Mentira nº1 – Papel, algodão, vidro e metal são mais sustentáveis do que plásticos.

Verdade – Plásticos comuns como PE, PP e PET são as melhores escolhas de acordo com várias análises independentes de ciclo de vida em todo o mundo. A substituição do plástico resulta vem muito material mais usado, mais energia consumida. Mais resíduos e mais dióxido de carbono”.

Em bom e castiço “cervejês”, ao passar pelo gargalo da ciência a exuberância dita sustentável da Heineken não parece descer redondo.

Deixe um comentário