Futuro do carro elétrico nos EUA depende da China

Mineração chinesa dita mercado global de elementos de terras raras para baterias
Bateria de carro elétrico: China agrava brecha na cadeia de suprimentos norte-americana.
Bateria de carro elétrico: China agrava brecha na cadeia de suprimentos norte-americana.

Formadoras de preços e opinião em petróleo e poliolefinas, a Exxon Mobil e Chevron aplicaram este ano mais de US$ 100 bilhões em duas aquisições estratégicas. Embolsaram a Pioneer e Hess, duas das maiores mineradoras dos EUA, dedicadas à extração de petróleo e gás natural de reservas de xisto. Exxon e Chevron são revenciadas pontas de lança da indústria plástica na corrida por energia limpa e derivados, mas evidenciaram nessas transações a crença de que, por mais loas que sejam feitas à economia circular, as fontes fósseis ainda vão demorar um tempão para sair da vida real.

É uma ducha de água fria na estratégia do governo Biden de liberar, a título de incentivos, centenas de bilhões de dólares na transição da indústria norte-americana rumo aos carros elétricos. A intenção inicial acalentada (já em revisão silenciosa) era o país chegar a 2030 com metade da venda de carros novos alinhados com a eletrificação, conforme noticiou o site Plastics News. A postura sustentável de Biden motivou montadoras e sistemistas a se voltarem para adequar suas capacidades ao frenesi com o carro elétrico, deixando em segundo plano a cadeia de suprimentos. Foi em meio a essa excitação do setor, aliás, que se intensificaram, no palco do plástico, as inquietações com o futuro dos materiais de engenharia nos autos. Afinal, sua presença maciça em componentes do motor a combustão dará vez a uma quantidade exígua no conjunto da bateria do carro. Aliás, o próprio carro elétrico requer poucas centenas de peças.

Não há, para os plásticos de engenharia, mercado alternativo com envergadura capaz de compensar esta perda de aplicações automotivas que, a título de momentâneo consolo para os polímeros nobres, ninguém arrisca prever quando acontecerá nos EUA. Em considerações repassadas ao jornal Automotive News, o analista Matt Weiberg, da REE Supply Consultants, botou o dedo na ferida. “Todo motor automotivo requer um magneto de ignição cuja fabricação exige pequenas quantidades de elementos de terras raras para rodar sob altas temperaturas”.

Os minerais críticos em questão, vitais para dar corpo a produtos como chips ou itens-chave do motor elétrico, incluem, por exempo, térbio e disprósio, cita Weinberg. Em artigo postado no veículo irmão Plastics News, Lindsay Chappel, editor de Automotive News, admite que quem domina (70%) o mercado mundial de terras raras é a China, com quem os EUA vive às turras desde a era Trump. A China também responde por 85% da capacidade global de mineração e processamento de terras raras, acentua Chappel. A América do Norte, por seu turno, possui a segunda reserva mundial desses elementos, mas, na contramão dos chineses, não investiu na mineração, atividade vista pela sociedade como confusa, de trabalho intensivo, poluente e prejudicial à natureza e saúde, motivos aliás para o fechamento de várias minas nos EUA.

A China lidera a montagem de carros elétricos e embolsa 90% da produção mundial de ânodos de baterias de íons de lítio, cujas peças utilizam grafite, mineral do qual o país é também a fonte nº1. O grafite, por sinal, contém grafeno, nanomaterial que hoje engatinha no beneficiamento de plásticos mundo afora, Brasil incluso. Pois em 20 de outubro, postou o jornal Financial Times, o governo de Pequim engrossou o domínio sobre a cadeia da bateria do carro elétrico restringindo suas exportações de grafite. Como é pouco transparente a formação de preços desse elemento composto de carbono, ditada pela China, os bancos em regra resistem a financiar minerações alternativas de grafite em locais como África e Austrália, assinala o Financial Times.

Por essas e outras, as ações da ExxonMobil e Chevron dispararam.

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