Peça técnica já é, pela geometria complexa e espessuras em regra diminutas, um artefato plástico intrincado de injetar. A dificuldade se agrava se a matéria-prima empregada for resina reciclada. Usina de produtos e soluções em eletroeletrônicos nas áreas de material elétrico de instalação e automação predial e residencial, a Exatron realizou essa proeza ao incorporar aparas industriais à injeção de determinados componentes, como a base, de um de seus campeões de vendas: a linha de sensores de presença. Impelido pelos focos da empresa gaúcha em inovação e produtividade, este feito tem seu mérito compartilhado pelo time de P&D e um parque de injetoras alemãs Arburg usuário de cinco moldes de canal quente para produzir os cinco itens dos sensores – os maiores em ciclo de 14 segundos e os menores em 12. Nesta entrevista, Regis Haubert, CEO desta indústria há 49 na ativa e sediada em planta de 11.000 m² em Canoas, a 19 km de Porto Alegre, detalha os meandros dessa injeção show de circularidade.
Quantas injetoras dispõe na planta em Canoas, quais as marcas, idade média delas e forças de fechamento mínima e máxima?
Hoje em dia, dispomos de nove injetoras Arburg com idade média de três anos e forças de fechamento de 40 a 300 toneladas. São linhas hidráulicas com inverter, somando capacidade de injeção 100t/mês e trabalham com resinas como ABS, PC, PP, PBT, PE, PA e TPE. Contamos também com nove robôs para extração e inserção de peças nas máquinas e tarefas sequenciais pós-injeção.
A Exatron possui matrizaria ou encomenda a terceiros os moldes de injeção?
Desenvolvemos o design e indicadores das características mecânicas das peças plásticas, e terceirizamos a confecção dos moldes. Realizamos internamente as manutenções preventivas e terceirizamos as alterações e a manutenção corretiva das matrizes.
Como suas aparas industriais são recicladas?
Reciclamos internamente, garantindo a qualidade com o uso de peneiras, filtros magnéticos e por radiofrequência, meios que conseguem separar partículas não magnéticas e degradadas.
O volume máximo de apara que hoje geramos está na faixa de 150 kg/mês, muito abaixo da média nacional. Portanto, nossa geração de aparas é pequena. Os moldes são idealizados para não ter galhos e aparas
Quais as peças injetadas com aparas recicladas?
Tratam-se de partes internas dos sensores de presença e não sensíveis à ‘binagem’ de cor (oscilação de tonalidades por lote de reciclado). Desse modo, podemos utilizar todo o nosso reciclado derivado das aparas. Ainda não utilizamos este material recuperado em outros produtos porque nosso processo de injeção produz pouco galho a ser destinado ao processo de reciclagem. Para alguns produtos de coloração escura, caso de determinadas peças sem problema de ‘binagem’, utilizamos um processo continuo de uso pós-industrial. Nosso parque de máquinas de alta pressão e velocidade de injeção nos possibilita utilizar aparas, mesmo em itens de parede fina, garantindo a performance independentemente da quantidade incorporada de polímero reciclado. Nosso processo é baseado em estabilidade e repetibilidade dos parâmetros de injeção. A propósito, contamos com abastecimento da água para as injetoras sempre na mesma temperatura, seja qual for o volume de produção e as condições térmicas do ambiente.
A Exatron divulga para o cliente do sensor de presença o uso de plástico reciclado no produto?
Como utilizamos reciclado somente em pequena escala e nas partes internas dos sensores, ainda não estamos divulgando.
Por que a injetora ALLROUNDER 570 C GOLDEN EDITION é a mais adequada de suas máquinas para produzir peças de sensores contendo aparas recicladas?
Essa máquina possui uma série de diferenciais que ajudam muito na repetibilidade da produção, seja qual for a quantidade empregada de reciclados. Dentre os diversos parâmetros podemos citar a visualização gráfica, em tempo real, das reações do molde frente ao polímero durante a injeção. Podemos, assim, acompanhar todo o tempo de ciclo, independentemente das alterações nos índices de fluidez na moldagem.
Como a Exatron tem lidado com a insuficiência mundial de microchips?
Montamos um grupo de trabalho unindo os processos de suprimentos, importação, engenharia de produtos e produção para mitigar o problema da falta de semicondutores, principalmente os microcontroladores e microprocessadores. Rastreamos, então, os estoques e as disponibilidades dos principais componentes, com programações de suprimento extensivas até o final de 2023. Outra ação realizada pelo grupo foi a alteração de alguns projetos para utilizarmos microchips de outros fabricantes. No momento, desfrutamos uma estabilidade no fornecimento, sendo que a previsão de normalidade está prevista para o segundo semestre. Trazemos microchips dos EUA, China, Taiwan, Hong Kong, Filipinas, Indonésia, Singapura e Vietnã.
Como avalia a incidência da automação e digitalização nas etapas da manufatura na Exatron?
Com o advento da indústria 4.0, a transformação digital do setor industrial se tornou preponderante, ainda mais diante competitividade imposta pela globalização. Há 10 anos, tínhamos uns quatro robôs na manufatura; hoje são 40. Nossa engenharia industrial trabalha agora em 10 projetos de automação de etapas da produção.
Quais os seus produtos campeões de venda ?
A empresa iniciou em 1984 com a fabricação de uma minuteria, aquele temporizador usado para iluminação de corredores e escadarias de edifícios. Hoje, nosso portfólio abriga cerca de 250 produtos e fabricamos mais de 10 milhões de unidades deles ao ano. Somos líderes de mercado em sensores de presença para iluminação há 20 anos consecutivos; há 13 anos em relé fotocontrolador para iluminação pública e há 10 anos em minuterias Entre nossas inovações marcantes, destaco a tecnologia exclusiva SXC – Smart X-control para sensores e relés. É um APP no qual o instalador pode programar os ajustes do produto (temporização, sensibilidade, nível de luz etc) através do flash da lanterna do celular, tal como um código morse de luz. Hoje, Essa tecnologia contabiliza mais de um milhão de acessos e 200 mil usuários..
Como a empresa se saiu em 2022 versus 2021 e qual a expectativa em relação à demanda atual para seus produtos, complicada pela inflação e crédito escasso e caro?
Fechamos o ano passado com crescimento de 15% em relação a 2021. Prevíamos para 2023 um salto da ordem de 20%. Devido ao momento político-econômico, revisamos a estimativa para uma expansão de até 10%.
É de se tirar o chapéu
“A Exatron utiliza somente injetoras da nossa série GOLDEN EDITION munidas do sistema de otimização de consumo de energia chamado Pacote de Produtividade”, atesta Leandro Goulart, gerente nacional de vendas no Brasil da alemã Arburg, ás de ouros global em tecnologias de injeção. Custo/benefício, distingue o executivo, é o fator-chave para a escolha da máquina ALLROUNDER 570 C GOLDEN EDITION para a recente produção com aparas recicladas de partes dos sensores de presença da indústria gaúcha. “Tratam-se de injetoras cuja excelência na repetibilidade e dinâmica provém do sistema hidráulico servo-regulado em todos os eixos (closed loop/malha fechada”, atribui Goulart.
Outra conveniência desse sistema: eventuais variações na matéria-prima reciclada, a exemplo de indicadores de fluidez e temperatura, são automaticamente compensadas durante o processo através da servoválvula. “Ela proporciona esta regulagem aumentando ou baixando a pressão de injeção com o objetivo de manter a mesma vazão de injeção e, em decorrência, a repetibilidade do processo”, esclarece o gerente.
Com 200 toneladas de força de fechamento, a injetora ALLROUNDER 570 C produz, utilizando também aparas recicladas, peças dos sensores da Exatron com respaldo de outro diferencial da Arburg: o sistema de robótica MULTILIFT SELECT. “Quando se utiliza um robô em injetora do mesmo fabricante acontece a integração física total entre eles”, pondera Goulart. “Afinal, essa solução da Arburg na planta do cliente em Canoas (RS) faz com que os dois equipamentos partilhem o mesmo comando, o que consolida o robô como parte integrante da injetora, permitindo movimentos simultâneos entre ambos, aumentando assim a produtividade do conjunto”.