Escala e sustentabilidade são os vetores que estão reconfigurando, por cobranças da clientela de brand owners (companhias donas de marcas top de produtos de consumo), o reduto dos produtores de embalagens plásticas. Nº1 do Brasil em flexíveis e um maciste em pré-formas e garrafas PET, a Valgroup acentua seu alinhamento a esta tendência vestida de verde neon associando-se Deink Brasil, recicladora de aparas industriais de filmes impressos com planta de 400 t/mês em Itupeva (SP).
Eduardo Berkovitz, diretor de relações institucionais e compliance da Valgroup, não abre o investimento, a participação societária adquirida nem como fica a composição do quadro de controle desta recicladora fundada há apenas três anos e gerida até aqui pela família Mani, também pulsante em flexíveis com a Epema, transformadora em Araraquara (SP) em vias de passar de 1.500 para 2.000 t/mês. Berkovitz assinala que, hoje em dia, seu conglomerado recicla internamente 100.000 t/a de PET e 30.000 t/a de flexíveis. A propósito, rejeitos de filmes, ainda mais impressos, constituem resíduos mais complexos de reciclar que os de plástico rígido.
Ultra capitalizada e com livre acesso a brand owners e licenciadores internacionais de tecnologias, a Valgroup poderia investir sozinha na montagem da estaca zero de uma fábrica recicladora de porte relevante para seus filmes pós-industriais impressos. No entanto, o grupo optou pela sociedade numa planta menor, novata e da qual aliás foi um dos primeiros clientes. “Além de já operar comercialmente, a Deink Brasil possui a exclusividade no Brasil para patente e exploração de sua tecnologia, fatores que aceleraram pelo menos em três anos nossa estratégia de reciclar flexíveis”. O licenciador da Deink é a espanhola Cadel Deinking e sua solução se diferencia pelos sistemas de remoção de tinta (destintamento) do refugo flexível e do tratamento de água no processo. Berkovitz retoma o fio reiterando que a intenção da Valgroup é singrar no verde mar operando em ciclo completo. “Enviamos à Deink todo o refugo gerado na nossa produção de filmes e o reciclado obtido será reutilizado na composição de nossas embalagens”.
Signatária do programa de sustentabilidade da fundação norte-americana Ellen MacArthur, estrela guia da economia circular, a Valgroup persegue a meta de reciclar 100% do que produz até 2040. “Portanto, teremos de aumentar o volume reciclado de PET e flexíveis”, completa Berkovitz. Nessa toada, ele já brande o investimento não revelado em outra planta da Deink que parte em outubro em Minas Gerais, estado onde a Valgroup roda três fábricas de flexíveis em municípios incentivados – Itamonte, Itanhandu e Passa Quatro. “Esta próxima unidade elevará a capacidade da Deink à faixa de 8.000 t/a e na escolha do local pesaram variáveis como logística, disponibilidade de matéria-prima e aspectos fiscais”, sumariza o diretor.
A planta da Deink em Itupeva hoje roda com 75% de ocupação e o restante da capacidade é destinado a melhorias de processo e testagem de outros tipos de material, informa Rogerio Mani, membro do conselho administrativo da recicladora. “Ela opera centrada na recuperação de aparas industriais flexíveis e na filial em Minas começaremos a lidar com resíduos pós-consumo de plásticos rígidos”, ele explica. “Optamos por ganhar domínio tecnológico na primeira planta para darmos então passos mais ousados”. Mais à frente, adianta o dirigente, a reciclagem química segue nos planos da Deink para complementar a reciclagem mecânica hoje pivô das atenções dos acionistas. Por sinal, encaixa Mani, o ingresso da Valgroup suscitou na recicladora a mudança de sociedade limitada para sociedade anônima.
As aparas servidas pela Valgroup e Epema não monopolizam a margem de manobra da Deink, salienta Mani. “A empresa está aberta a todos os transformadores interessados em sua proposta”, ele delimita. “A preferência recai pelo trabalho com projetos que integrem a recicladora, o transformador e o brand owner”. •