No Brasil o passado costuma ser o futuro do presente. Essa máxima ganha aval com a trombeteada intenção do governo, repercutida pelo jornal Valor Econômico, de ressuscitar o programa social Água para Todos. Consta de um pacote de providências emergenciais com o intuito de amparar 658 municípios açoitados pela seca, aninhando mais de 350.000 famílias do meio rural na linha da pobreza e sem água encanada. Se o palavrório descer do palanque e se fluir mesmo a não especificada verba para tirar da apatia esse flanco da infraestrutura, o setor de rotomoldagem de PE pode botar Veuve Clicquot no gelo e chamar trio elétrico. Afinal, o pivô do pacote de iniciativas é a distribuição de cisternas de plástico ou cimento a uma população cujo grosso (80%) fica no semiárido nordestino e o restante no Rio Grande do Sul.
Criado em 2011, o programa Água para Todos absorveu até seu final, em 2019, mais de R$ 4,2 bilhões na construção e entrega de cisternas de PE com capacidade individual de 16.000 litros – na maioria dos casos de água potável e a fração minoritária para produção de alimentos. Antes dessa iniciativa, no primeiro mandato de Lula, surgiu em 2003 o programa Cisternas que atravessou a era Dilma e distribuiu os últimos reservatórios nos anos Temer, totalizando 1,3 milhão de unidades implantadas em 1.200 municípios. Em 2015, no ápice da erupção das compras de cisternas pela máquina pública, a Braskem, único produtor de de polietileno de média densidade linear no país, estimava em 175.000 t/a o consumo dessa resina para rotomoldagem sob estímulo da produção dos reservatórios entregues pelo governo. De lá para cá, o movimento de cisternas desabou e, entre os segmentos de PE roto, aumentou a tradicional dianteira das caixas d’água, em especial como tapa-buraco para a população pobre não servida por redes de água.
