Plásticos e meio ambiente não compõem um oximoro – combinação de palavras de sentido oposto que parecem se excluir mutuamente. Ao contrário, a indústria plástica mundial pode dissipar a aversão pública ao material à medida em que for demonstrando resultados concretos de seu compromisso com a sustentabilidade, como volumes ascendentes de reciclagem, deixa claro nesta entrevista um medalhão do setor na Alemanha, Jan Hendrik Ostgathe, sócio executivo da Kreyenborg, suprassumo em equipamentos para cristalização/secagem de resinas e de supressão de odores em resíduos pós-consumo.
1A indústria do plástico é alvo de críticas do grande público. O que seria necessário para as pessoas apreciarem o material e sua contribuição à qualidade de vida?
Imagine um mundo sem plástico. Como proteger alimentos sem embalagem plástica? Como ficariam pesados os carros, aviões e garrafas de bebidas? Como a medicina ficaria sem plásticos? Os exemplos são incontáveis. Afinal, qual seria o impacto disso tudo em nossas vidas e no meio ambiente? Plásticos são um material incrível e é preciso que se continue a apreciá-los e assegurar sua reciclagem em vez de jogar fora seus resíduos pós-consumo. Se nós, como a indústria do plástico, prosseguirmos provendo matérias-primas recicláveis e a investir no processo de reciclagem, decerto mudaremos para sempre a atual percepção pública do material.
2Quais os principais tipos de resíduos plásticos pós-consumo que deverão, inescapavelmente, sair da reciclagem mecânica para a química?
Do nosso ponto de vista, as reciclagens mecânica e química permanecerão coexistindo. As unidades de reciclagem química são complexas e dependentes de altos investimentos. Para alternativas multimaterial, a reciclagem química aparenta acenar com vantagens em determinados enfoques. Já no tocante a termoplásticos puros, tipo PET e polietilenos, enxergamos vantagem para a reciclagem mecânica, inclusive em termos de economia de energia. Por exemplo, flakes de PET presente em embalagens de alimentos pós-consumo podem ser extrusados diretamente para sua reciclagem mecânica.
3A adoção de standards de cores para plásticos pós-consumo poderia contribuir para a triagem prévia de materiais para a reciclagem mecânica. Por que essa medida ainda não foi regulada na Alemanha e União Europeia?
No plano geral, os requisitos europeus para cores em reciclados já são rigorosos. Além do mais, consumidores e fabricantes de produtos demonstram querer cores vivas e transparência nas embalagens. Lógico que seria mais fácil para a reciclagem se mudássemos nossas exigências em relação a essas características visuais. Mas trata-se de questão mais ligada aos critérios da sociedade como um todo do que à posição da indústria do plástico.
4Grande volume de lixo plástico é incinerado na Alemanha por motivos como os altos custos de sua reciclagem mecânica. O que sugere para tornar essa reciclagem um trabalho rentável?
É preciso considerar, de início, que a taxa alemã de reciclagem de plástico já é bem elevada pelos padrões internacionais. Em termos de PET, por exemplo, nosso sistema de depósito para garrafas pós-consumo, mediante remuneração do consumidor pela devolução, assegura que uma parcela acima de 94% dessas embalagens de PET vendidas na Alemanha seja reciclada, configurando assim uma solução muito bem sucedida. A propósito, pergunto porque o Brasil não transpõe nesse sistema de depósito (nota – ainda embrionário em garrafas PET no país) a outras correntes de valor para resíduos plásticos, como os de embalagens de alimentos, frascos de xampus etc. Vou regularmente ao Brasil porque minha esposa é brasileira e é onde sua família vive. Vejo que muito lixo reciclável é recolhido por cooperativas. Esse tipo de sistema de depósito, fora das garrafas PET, também não existe aqui na Alemanha e tenho pensado se sua implantação também não faria sentido para impulsionar ainda mais a reciclagem de plásticos por aqui. •