Cabo de guerra

Na garupa da economia circular, poliolefinas querem desbancar BOPET de laminados

Menos é mais virou lema da economia circular para a concepção de embalagens. Ele pega em cheio os flexíveis laminados multimaterial, pois, além da coleta complicada do refugo pós-consumo, a incompatibilidade entre diversos polímeros da composição converge para um pecado venial no catecismo da sustentabilidade: a reciclagem mecânica complexa e custosa. Para acertar o passo com a nova dança, meio mundo na cadeia plástica hoje tateia saídas do imbróglio, mediante a substituição de embalagens superdimensionadas por espartanas, de estrutura reduzida ao necessário e de reciclagem simples e sem delongas. Abaixo da linha d’água, o cenário soa estimulante para o cinzelamento de propriedades de polipropileno (PP) e polietileno (PE), de modo a avançarem sobre polímeros inconciliáveis com eles e que inviabilizam a reciclagem do laminado direta ao ponto. É este o alarme que zumbe para o filme de poliéster biorientado (BOPET) de baixa espessura em seu maior mercado, as embalagens flexíveis.

“As grandes vantagens de BOPET sobre filmes de poliolefinas são a estabilidade térmica e rigidez”, aponta Alessandra de Almeida Lucas, professora associada do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Conforme explica, a alta resistência térmica do poliéster em relação às películas de PE ou PP utilizadas na face oposta da selagem facilita o trabalho nos equipamentos de envase, em particular nos modelos mais antigos e desprovidos de muitos recursos. Por sua vez, a elevada rigidez de BOPET favorece a produtividade e qualidade final de laminados rotogravados. “Assegura excelência no registro de cores neste processo de impressão que exige do filme mais desempenho mecânico”. Em embalagens flexíveis, assinala Alessandra, BOPET (inclusive metalizado, para afiar o poder de barreira) tem lugar em laminados com outros filmes que complementam as propriedades solicitadas pelo conteúdo acondicionado, a exemplo de pouches para alimentos, cosméticos e produtos de limpeza. “Pouches esterilizáveis ainda são a grande aplicação de BOPET, tal como laminados dependentes de alta resistência térmica para adequação ao envase a quente”, ela distingue.

Alessandra sente forte a pressão sustentável na cadeia plástica para descomplicar a reciclabilidade de laminados multimaterial. “Mas não se pode ignorar entraves como o descarte incorreto dessas embalagens e sua coleta desafiadora”. Entre as alternativas em estudo para melhorar o poder de barreira de flexíveis laminados, a professora destaca cargas bidimensionais, como argilas, grafites e grafenos. “Agem como barreira física à passagem de moléculas de gases e líquidos permeantes”. Na mesma trilha, ela insere nanomateriais de fontes renováveis, a exemplo de celulose. “Barreiras de óxidos de sílica e alumínio já foram anunciadas no Japão pela Toppan, detentora aliás de tecnologia de filme multicamada à base de diferentes grades de um único material: BOPET e PP biorientado (BOPP)”, ela expõe. “Já a tecnologia RecycleReady da Dow utiliza apenas PE para filmes multicamada destinados embalagens como stand up pouches (SUP) e tecnologias de coextrusão permitem combinar até nove camadas de diferentes grades do mesmo material”. Retomando o fio do mercado japonês, Alessandra comenta o avanço ali de laminados à base de filme convencional de PE com filme biorientado (BOPE) ou mono orientado (MOPE) da mesma resina, para dar cartão vermelho a BOPET e tornar assim a estrutura 100% reciclável. “Petroquímicas vêm desenvolvendo grades de PE de resistência térmica capaz de substituir BOPET e outros filmes com menor temperatura de fusão para a face de selagem”, ela acrescenta. “Por seu turno, a a biorientação e mono orientação garantem ao fime de PE rigidez, brilho e transparência no nível de BOPP e BOPET e, em conjunto com a formulação, melhoram o poder de barreira da estrutura final”.

O horizonte encerra um sabor agridoce para BOPET, deixa claro a professora da UFSCAR. “O aumento da população mundial implica maior demanda para embalagens de alta barreira, de modo que o consumo de BOPET deve subir, apesar de ceder terreno para embalagens monomaterial”. Em resposta a esta turbulência, Alessandra acha que os fornecedores do filme de poliéster devem imergir na criação de embalagens 100% de PET, nas pegadas da japonesa Toppan.

Jogo de conjunto
“BOPET trouxe características fantásticas às embalagens flexíveis, ampliando sua vida útil e preservando o frescor, crocância, sabor e aroma”, reconhece Luis Fernando Dagnone Cassinelli, professor do curso de pós-graduação em embalagens plásticas do Instituto Mauá de Tecnologia e CEO da empresa de consultoria e paticipações Avantec BR. “Não consigo ver uma estrutura de plástico flexível para acondicionar alimentos como snacks, café ou molhos atomatados sem um termoplástico com poder de barreira a gases. E o produto para isso é BOPET”. Cassinelli considera muito complexa uma solução para facilitar a reciclagem de laminados mediante a simplificação de sua estrutura com a supressão de BOPET, cujo papel seria assumido por novos grades de poliolefinas dotados de atributos como maior poder de barreira e resistência térmica. “A saída passa por uma proposta de valor envolvendo a cooperação de toda a cadeia: desde o projeto e o aval de brand owners à embalagem de estrutura simplificada e contendo o mínimo de polímeros incompatíveis até o manuseio no supermercado e pelo consumidor, o descarte do refugo e sua reciclagem”.

Cassineli acena com tecnologias consolidadas para facilitar a reciclagem de flexíveis como laminados de BOPET/poliolefinas, impressos ou metalizados. “Uma delas são agentes poliméricos compatíveis com dois ou mais materiais, permitindo que se integrem e confiram melhores propriedades mecânicas ao reciclado”, ele esclarece. “Alternativa mais recente é a delaminação da embalagem multicamada, com retirada de impressão e metalização, proporcionando assim reciclados de desempenho bem próximo dos materiais virgens antes da laminação”.

BOPP com pé no reciclado
A belicosidade de BOPP para apear BOPET de flexíveis laminados promete recrudescer. “Vemos BOPET dando lugar a BOPP de alta barreira até mesmo em retortable packaging (esterilização por autoclave), onde o poliéster reinava sem rivais até anos atrás”, ilustra Sérgio Bianchini, gerente de exportações da Polo Films, mola propulsora nacional em BOPP.
O fogo de barragem ambientalista incentiva o setor plástico a desenvolver materiais e embarcar em projetos de embalagens multicamada de reciclagem facilitada. Bianchini aproveita a deixa para enfatizar que o reduto de BOPP caminha nesse sentido, como provam filmes food grade da Polo com teor de reciclado (aparas industriais). “Também trabalhamos em pesquisas para gerar compatibilização polimérica, ou seja, flexíveis monomaterial de melhores características ópticas, mecânicas e de barreira, filmes em linha com a economia circular, com redução de custos na separação e reciclagem”.

Bianchini chama a atenção para avanços em copolímeros, terpolímeros e aditivos contendo cadeias carbônicas de diferentes pesos moleculares nas estruturas de PP e PE. “Oferecem complementação ou modificações de propriedades ao polímero originalmente a desejar em determinada característica técnica”, ele acentua. “O resultado é a incorporação de novas propriedades a filmes de poliolefinas, assemelhando-os a outros polímeros polares como BOPET e poliamida biorientada (BOPA)”. Para apertar o cerco sobre BOPET, BOPP requer aumento das propriedades mecânicas com maior estabilidade a altas temperaturas, condições que contribuem para a velocidade da laminação e para a rigidez e estrutura final do filme, explica Bianchini, brandindo lançamentos da Polo nessa direção.

Caminho sem volta
“Com a evolução dos processos de embalagem e substratos alternativos, cai em desuso o termo ‘insubstituível’ para grande parte das aplicações de BOPET em flexíveis laminados”, vaticina Aldo Mortara, diretor comercial da Vitopel, bússola em BOPP. “Fora alguns usos de alta demanda, BOPET pode dar lugar a filmes poliolefínicos em prejuízo para o processo de embalagem ou proteção do conteúdo acondicionado, como exemplificam soluções para SUP 100% de PE ou PP, uma estrutura que se viabiliza por mostrar diferença relevante entre as temperaturas de selagem interna e externa”.

Mortara constata BOPET entronizado em aplicações nas quais sua presença se justifica, como laminados para produtos como carnes processadas, dependentes de altíssima barreira a gases, ou produtos secos e desidratados, dependentes de altíssima barreira a umidade”. O diretor sustenta que, pelo galope da carruagem, a caça a soluções disruptivas de embalagens alternativas a BOPET é caminho sem volta. “Um clássico exemplo é o saco tipo almofada de café moído e torrado, antes dominado por BOPET impresso e metalizado na interface conjugado a filme selante de PE”, descreve Mortara. A embalagem exige alguma permeabilidade, ele nota, para o gás carbônico gerado pelo café escapar para atmosfera externa. “BOPET imperava no laminado por causa do defasado parque fabril para envase nas torrefadoras”, comenta o especialista. “Hoje em dia a realidade é outra e não há razão para se conservar um flexível multisubstrato em detrimento de um laminado mais sustentável, à base de BOPP com poliolefina”.

Mortara considera ponto pacífico o desenvolvimento de embalagens de reciclagem facilitada, substituindo BOPET em laminados com poliolefinas, em reverência à economia circular. ”O movimento deve começar pelas embalagens mais complexas, com laminações de até três substratos, e passar pelas estruturas que prescindem dos atributos de BOPET, caso do café torrado e moído em embalagem almofada”. Essa escalada sobre BOPET, encaixa o diretor, vem sendo turbinada pela evolução dos grades de PP e a inserção de novas características em BOPP, que tem um ponto forte em laminados na selagem a quente a baixo custo. “Por exemplo, filmes de alta barreira que protegem melhor alimentos sensíveis à oxidação; melhor relação espessura /gramatura em filmes perolizados e películas com aumento de rigidez ou selagem aprimorada”. Esta bateria de aperfeiçoamentos, confia Mortara, abrirá espaço para BOPP em laminados que hoje recorrem a BOPET devido ao poder de barreira ou rigidez, como embalagens de cereais e alimentos desidratados. Como referência das rupturas que pisam o palco, o diretor ressalta um patente do filme da Vitopel diferenciado pela junção de barreira e rigidez elevadas com excelência na selagem e resistência ao impacto. “Poderá substituir BOPET reduzindo a complexidade do laminado”, ele antevê. “Hoje em dia, por sinal, já proporcionamos com apenas dois filmes de BOPP uma solução de alta barreira e resistência de selagem e ao impacto”.

Barreira crucial
Com milhagem platinum de voo em filmes de poliolefinas, Cláudio Marcondes, diretor técnico da P7 Additives, agente da grife alemã de masters Argus, traça a margem de manobra de BOPET. “Supera BOPP em características ópticas, resistência a óleo e produtos ácidos e propriedades mecânicas como rigidez e resistência à tração e ranhuras”, delimita. Outros pontos altos do filme de poliéster, ele prossegue, alinham a capacidade de suportar altas temperaturas durante o processamento e a temperatura de fusão sob medida para embalagens de alimentos cozidos em forno ou micro-ondas. “BOPET confere barreira excelente ao oxigênio e moderada quanto à umidade e apresenta menos alongamentos que BOPP na impressão e laminação”. Entre as embalagens nas quais BOPET desfruta de indicação preferencial, Marcondes cita as de rações úmidas (pet food) submetidas à esterilização por autoclave (retort pouch), sob condições severas de temperatura e pressão.

Marcondes está antenado na busca, tornada fervilhante pela economia circular, de recicláveis soluções de embalagens poliolefínicas, à base de PP e BOPP para uma gama extensa de aplicações, sem comprometer a proteção e shelf life do conteúdo. É esta a sua leitura das pesquisas de alternativas de coatings de alta barreira e desenvolvimentos como a coextrusão de filmes biaxialmente orientados de 13 camadas e 100% recicláveis. O incremento do poder de barreira (ao oxigênio, umidade, luz, contaminantes externos etc) é condição crucial, sublinha o especialista, para BOPP abocanhar mais terreno de BOPT em laminados. “Tudo se resume à chamada adequação total da embalagem ao uso em vista, ou seja, como um filme ou estrutura laminada deve atender a critérios como vedação ou validade diretamente relacionados ao poder de barreira”, ele sumariza.

Para incrementar essa performance em filmes de BOPP, Marcondes abre o arsenal de masters da Argus. “Controlam de forma espetacular propriedades como deslizamento, antiestaticidade, proteção UV, antifog, baixas temperaturas de solda, barreira, encolhimentos e muito ou pouco brilho”, salienta o agente. “Além do uso individual desses materiais, temos como fornecer o master conforme as peculiaridades da extrusora do cliente. Ou seja, podemos fazer combinações de masters para ele, aliando a melhor performance com menor custo”.
Roberto Castilho, diretor comercial para materiais auxiliares da LyondellBasell na América do Sul, julga que, exceção feita a aplicações muito específicas como as dependentes de alta resistência térmica, BOPP pode hoje substituir BOPET em flexíveis laminados. Essa viabilidade técnica ganha impulso com a economia circular, ele reconhece. “Há uma tendência de manter as poliolefinas, que podem ser recicladas juntas, em estruturas como BOPP/BOPP, BOPP/PE ou PP cast/PE”, ilustra Castilho. Além de prover agentes compatibilizantes, a LyondellBasell acompanha o culto à sustentabilidade com soluções como o master Polybatch AP 1374. “Amplia a tensão superficial do filme poliolefínico e a força de adesão entre as camadas, facilitando a laminação”, fecha Castilho.

Arquitetura molecular
Única produtora de PP e PE no país, a Braskem também se acerca sem afobação das possibilidades entreabertas pela pregação ambiental para tirar BOPP de laminados flexíveis, facilitando assim sua reciclagem.”A vida útil prolongada, barreira, aromas, rigidez, resistência térmica e o acabamento conferido à embalagem podem limitar, a princípio, o desafio da troca de BOPET por soluções poliolefínicas monomaterial, em especial no caso de aplicações com prazo de validade (shelf stable)”, ponderam Marcelo Neves e Renato Ditomaso, respectivamente líder de engenharia de aplicação de PEs flexíveis e responsável por desenvolvimento de negócios de reciclgem e economia circular da companhia. “Em contribuição a essa agenda, estamos trabalhando com alguns brand owners no desenvolvimento de embalagens poliolefínicas não laminadas, sem adesivos e de melhor qualidade no seu desempenho e no segundo uso, após a reciclagem.”

Ditomaso e Neves sustentam que um aditivo no motor desse esforço é conferido pelos avanços na arquitetura molecular dos novos grades de PP e PE, permitindo desenhar produtos alinhados às tendências e requisitos do momento. “Tratam-se de materiais associados a processos como coating, mono e biorientação ou impressão com cura via feixe de elétrons (Electron Beam/EB)”, ilustram os dois executivos. “A depender dos produtos envasados, podem ser alternativas para embalagens alimentícias com prazo de validade, na trilha do espaço já conquistado no acondicionamento de cosméticos e produtos de limpeza”. Uma sacada recente e em linha com o agito de prospecções para botinar BOPET de flexíveis à base de polímeros incompatíveis é o SUP monomaterial não laminado e 100% de PE, gestado pela petroquímica e a convertedora Antilhas.

Cartão amarelo

Filme mono estirado de PE caminha para tirar BOPET do jogo em laminados

cartao amarelo

Não é só no flanco das matérias-primas que arde a procura de meios para escantear poliéster biorientado (BOPET) de filmes multimaterial, em gesto que combina apreço à economia circular com vendas de poliolefinas. No salão nobre das extrusoras, pelo menos dois diamantes globais, as alemãs Windmoeller & Hoelscher (W&H) e Reifenhäuser já brilham com sistemas de mono orientação de filmes de polietilenos (PE), qualificando-os assim para substituir à altura BOPET em laminados, tornando-os monomaterial e de fácil reciclagem. Um divisor de águas tecnológico já adquirido por não revelados transformadores do Brasil.
“Desconheço circunstâncias em que BOPET seja insubstituível”, sustenta Carsten Mader, gerente da W&H. “Trata-se de um produto muito tradicional e maduro quanto a características técnicas e performance no processamento”, ele descreve. “Comparado a soluções alternativas atuais, BOPET as supera em resistência térmica, o que facilita seu desempenho em envasadoras automáticas. No entanto, nós, como fabricantes de máquinas, estamos trabalhando com a petroquímica e o mercado de embalagens para chegar a soluções recicláveis em laminados com a mesma eficiência do BOPET”.

Em sintonia com essa transição, Mader comenta que o filme mono orientado de PE para deslocar BOPET resultou de forte procura no mercado por uma alternativa mais reciclável que os laminados multimaterial convencionais. “Ao longo desse desenvolvimento, aprimoramos nosso equipamento de estiramento em linha (MDO) de extrusora blown para proporcionar os melhores resultados de performance e qualidade final”. O filme estirado de PE ainda é um feito recente, com espaço para evoluir, embora com demanda crescente e vendas globais. “Entramos na fase de desenvolvimento conjunto com produtores de resinas para desenhar grades mais ajustados ao processo de estiramento”, adianta o especialista.

Márcio Luiz Viviani, agente da Reifenhäuser no Brasil, acentua já ser tecnicamente viável uma estrutura 100% de poliolefinas facilmente recicláveis para assumir o papel de BOPET em flexíveis laminados. “Mas esse intento requer uma cuidadosa escolha da resina e um processo adequado para se obter um filme de características similares ao BOPET”, ele ressalta.

O sistema Ultra Stretch patenteado pela Reifenhäuser já firmou reputação produzindo filmes poliolefínicos mono orientados, aptos a fazer as vezes de BOPET em laminados. “Uma das maiores dificuldades para se obter este filme é a memória do material após o estiramento”, ele assinala. ”Quando a película é submetida a altas temperaturas, como na selagem durante o processo de envase, ela tende a encolher, gerando uma versão defeituosa e um aspecto deformado no pacote. A Reifenhäuser superou este desafio posicionando a unidade de estiramento no topo da torre da máquina, logo após a colapsagem do balão, ao contrário de outros sistemas que posicionam o dispositivo na fase final (downstream) do processo na extrusão blown”.

O sistema da Reifenhäuser pode ser agregado a qualquer extrusora blown, assinala Viviani. “Mas ele requer uma super estrutura de torre, pois pesa algumas dezenas de toneladas”.
Viviani ressalta a economia energética como predicado chave do sistema Ultra Stretch. ”O filme é estirado ainda quente, sem exigir grande reaquecimento para o processo”. Outro chamariz é o fato de o filme ser estirado em estado praticamente amorfo. “Isso gera muito menos stress no processo”. Viviani arremata o show de bola com o maior tempo que o filme desfruta, desde o topo da torre ao embobinamento, ensejando um relaxamento muito melhor. “Proporciona uma película muito mais estável e com menor incidência de encolhimento”, completa o técnico.

Nada de atirar a toalha

Terphane se empenha em realçar os atributos sustentáveis de BOPET

BOPET sustentavel

Única produtora no Brasil de filmes de poliéster biorientado (BOPET), com capacidade estimada em 6.000 t/mês em Pernambuco, a Terphane, controlada da norte-americana Tredegar, não assiste de braços cruzados às tentativas de banir seu produto de embalagens flexíveis mundialmente efetuada por uma cruzada das poliolefinas à sombra das pressões da economia circular em prol de laminados de reciclagem simplificada. Nesta entrevista, André Gani, diretor de vendas e marketing da Terphane, reage ao tiroteio apresentando os predicados sustentáveis intrínsecos do filme de poliéster e as ações de sua empresa para entrosar suas tecnologias com os propósitos ambientalistas.

Em quais circunstâncias BOPET mostra-se ainda insubstituível na composição de filmes laminados?
O filme de BOPET garante excelente maquinabilidade para os convertedores de flexíveis e fabricantes de bens de consumo, além de estabilidade nos processos de conversão e envase, altíssima resistência térmica, mecânica e química e excelente barreira a gases e aromas. Todos estes atributos combinados trazem à cadeia de embalagens maior eficiência e velocidade nas linhas de produção e menores custos operacionais e de perdas nos processos. Estes impactos muito positivos estendem-se ao ponto de vista ambiental. Afinal, ao diminuir as perdas nas linhas de conversão e envase, toda a cadeia se beneficia de uma menor pegada de carbono, efeito da economia energética e da redução de produtos rejeitados. Categorias como atomatados, cafés, leite em pó, pet food e itens de higiene e limpeza se beneficiam dessas características do BOPET.

Como dimensiona o segmento de flexíveis laminados nas vendas totais de BOPET no Brasil?
Por política interna, não divulgamos informações relativas a market share, mas confirmo tratar-se de um mercado muito relevante. Além da penetração em embalagens flexíveis, BOPET tem presença expressiva em alguns mercados industriais, como liner para a indústria de rótulos, filmes automotivos e construção civil. Algumas destas aplicações utilizam filmes mais espessos. No mercado de filmes com baixa espessura (12 micra por exemplo) o segmento de embalagens flexíveis está em primeiro lugar.

Quais os desenvolvimentos e ações adotadas pela Terphane no Brasil para preservar o espaço de BOPET em laminados à base de poliolefinas sem afrontar as exigências da economia circular?
Acreditamos que as embalagens flexíveis ainda têm muito a avançar no tema de sustentabilidade e a Terphane está fazendo a sua parte nesta história. Além de todos os benefícios intrínsecos do BOPET, como permitir menores perdas na conversão de embalagens e envase – e por si só elas já geram um impacto ambiental positivo –, estamos trabalhando em diversas frentes. De todos os ‘R’s da sustentabilidade, o que está mais “na mão” da indústria é o REDUZIR, pois traz um impacto imediato na geração de resíduos sólidos, além de diminuir a pegada de carbono na distribuição dos produtos. Dessa forma, nossos clientes podem transportar mais produtos em menos embalagens. Nossa área de Business Development trabalha diretamente com os fabricantes de bens de consumo em três grandes frentes:
1- Diminuição de espessura e peso das embalagens. Conseguimos apoiar clientes e indústrias finais na criação de embalagens mais leves e que geram menos lixo.
2- Simplificação de estruturas – Trabalhamos com os clientes de forma a transformar laminadas com três, quatro ou cinco camadas em estruturas mais simples, com duas ou apenas uma camada. Já temos, aliás, clientes no mundo que utilizam embalagens de uma ou mais camadas 100% de BOPET.
3 – Substituição da folha de alumínio – Algumas estruturas dependentes de altíssima barreira (vapor d’água, gases e aromas) ainda utilizam alumínio em sua composição. Apesar de o metal comparecer em baixo percentual na estrutura, sua pegada de carbono é muito significativa, devido ao altíssimo consumo energético requerido para transformar bauxita em alumínio. A Terphane tem desenvolvido filmes de BOPET substitutos da folha de alumínio em diversas aplicações. Em decorrência, obtemos embalagens com menor pegada de carbono e mais simples de reciclar, por serem 100% plásticas.

A linha Ecophane da Terphane apresenta filmes de BOPET com realçado apelo sustentável. No entanto, um laminado de poliolefinas contendo Ecophane é complexo de ser reciclado, devido aos polímeros incompatíveis. Quais as soluções consideradas pela empresa para facilitar essa reciclagem?
Gostaria de pontuar primeiro que a plataforma Ecophane aloja filmes com teor mínimo de 30% de resina pós-consumo e a série Ecophane Bio, integrada por películas concebidas exclusivamente para o mercado brasileiro, pois sua biodegradação acontece no ambiente dos aterros sanitários que representam praticamente 100% do tratamento de resíduos no país. O filme se biodegrada em quatro anos. É um impacto ambiental positivo que nossos clientes e parceiros podem utilizar agora, assim como a linha Ecophane R com reciclado oriundo de PET grau alimentício pós-consumo.

Por sinal, tivemos o cuidado de fazer contratipos de nossos filmes mais vendidos, de modo que os clientes podem mudar do BOPET tradicional (resina virgem) para a linha Ecophane de forma rápida e fácil.

Também temos estudado muito o tema da reciclagem, inclusive no âmbito dos flexíveis laminados. A Terphane trabalha em conjunto com diversas empresas nos EUA e Ásia e temos visto muita inovação nesta área. Enxergamos dois caminhos futuros: reciclagem química (via glicólise, por exemplo) e reciclagem com recuperação energética (pirólise). Nos dois casos, as tecnologias farão a separação dos materiais quando necessário. No caso em particular da reciclagem química, o processo cuidará da separação dos tipos de materiais. Por exemplo, BOPET, PE, BOPP, alumínio, EVOH, poliamida, óxidos de alumínio e sílica. Tintas, adesivos e coating serão aglomerados. Isto já é realidade e veremos grandes investimentos sendo realizados com este propósito. No Brasil, infelizmente, ainda estamos muito atrasados. Ainda vemos praticamente todo o lixo sendo enviado para aterros sanitários sem reciclagem. Por isso, estamos focados no trabalho de positivo impacto ambiental com as linhas de BIOPET Ecophane Bio (degradação em aterro sanitário) e Ecophane R, que pega carona em PET, um dos plásticos mais reciclados no país. •

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