Arcos Dorados recusa explicar banimento de descartáveis plásticos

Falta argumento e sobra autopromoção na decisão da operadora do McDonald’s
Arcos Dorados: veto a descartáveis plásticos sem justificativa técnica.
Arcos Dorados: veto a descartáveis plásticos sem justificativa técnica.

Por mais intensa que seja a adesão a uma crença, não há a menor relação disso com sua veracidade. Esta máxima foi cunhada pelo filósofo Baruch Spinoza no século XVII e permanece sacudida e forte até hoje, como evidencia a Arcos Dorados, maior operadora da rede McDonald’s na América Latina. Em release na primeira quinzena de março, ela se jactava de sua decisão de rejeitar plásticos de uso único, medida que resultou na redução de 48% de artefatos como embalagens de sobremesa, canudos e tampas de bebidas em seus restaurantes. Sob a mesma justificativa de zelo para com o meio ambiente, a Arcos Dorados informava ainda ter deixado de enviar descartáveis plásticos por serviços de delivery, alinhada com a iniciativa Amigos da Natureza, criada pelo parceiro iFood para promover a redução de resíduos  a partir das entregas de comida pronta.

Em busca de esclarecimentos substanciais e não de autoexaltação de conduta dita sustentável, Plásticos em Revista enviou em 13 de março para os experts em economia circular da Arcos Dorados, através de sua assessoria de imprensa InPress Porter Novelli, as seguintes perguntas:

  1. Você considera os descartáveis plásticos (no delivery ou no consumo na lanchonete/bar/restaurante) produtos que caminham mundialmente para a extinção, devido à economia circular? Justificar seu ponto de vista.
  2. No I Mundo, produtos como descartáveis plásticos são alvo de reciclagem química e, na condição de reciclados, podem ser reutilizados em embalagens de alimentos ou novamente em descartáveis. Este reaproveitamento pode levar os descartáveis plásticos a voltarem a ser utilizados por empresas que hoje os rejeitam, caso de redes de fast food ou de delivery de comida pronta? Explicar.
  3. Trecho do release : “A Arcos Dorados já diminuiu em 48% a presença do material (plástico) nos restaurantes e alcançou mais de 90% das embalagens a partir de papel cartonado certificado”. Pergunta: a única ferramenta científica universalmente aceita para medir a sustentabilidade de um material, desde sua produção ao descarte final, chama-se Análise de Ciclo de Vida. A unanimidade dessas análises atesta que papel cartonado é menos sustentável que plástico. Em seu esforço para banir descartáveis plásticos a Arcos Dorados considerou a avaliação das Análises de Ciclo de Vida? Explicar.
  4. A Arcos Dorados e/ou o iFood já foram procurados no Brasil por representações do plástico ou fornecedores de  descartáveis plásticos para esclarecer sobre a sustentabilidade desses produtos? Explicar.
  5. Descartáveis plásticos acrescidos de aditivos oxibiodegradáveis também estão sob veto da Arcos Dorados e/ou iFood? Justificar a resposta.

Após seguidas cobranças do editor de Plásticos em Revista pelo envio das informações, o assessor de imprensa Felipe Marques remeteu em 24 de março esta resposta por WhatsApp em nome do cliente Arcos Dorados: “Como eu te disse, estamos com demandas e agendas muito movimentadas.Tem um super evento neste fim de semana, viagem internacional dos porta-vozes nas próximas semanas. Sendo assim, prefiro não te deixar mais pendurado, ok?  Por ora precisaremos deixar de participar”.

Apesar de décadas da revolução digital em todas frentes da área de comunicação, assessorias de imprensa como a da Arcos Dorados teimam em recorrer a pretextos habituais nos tempos pré- digitais para se esquivar de dar as informações solicitadas. É o caso da alegada impossibilidade de contatar fontes em viagem, facilidade hoje viabilizada por celular em qualquer canto desse planeta  conectado.

Argumentos sempre viajaram bem pela comunicação presencial ou virtual. Quanto à falta deles, Spinoza ainda tem a última palavra.

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