Arthur Hehl e sua esposa Maria fundaram em 1923, em Lossburg, Alemanha, a indústria Arburg, para fabricar equipamentos médicos e flashes para fotografia. Para moldar seus produtos, a empresa desenvolveu, em 1954, um modelo de injetora que se popularizou no mercado. Dois anos depois, largava a produção em série da máquina e o resto é a imagem atual da Arburg, na primeira fila entre os titulares europeus formadores de opinião e tecnologia na injeção mundial de plástico. Com filial de vendas desde 2.000 no Brasil, a Arburg forma entre os introdutores no país de diversos avanços em injeção, caso das máquinas elétricas, virou referência em redutos como peças técnicas, conquistou a fidelização de um crescente quadro de transformadores com apoio técnico e comercial, a exemplo da iniciativa de ajustar as condições de pagamento da máquina à situação do bolso do comprador, um senhor respiro num mercado sob inflação, retração e ruinosa, em especial para bens duráveis dependentes de peças técnicas, como a ultra ociosa indústria automobilística brasileira. Além dessa marcação de perto do mercado, a Arburg hoje procura disseminar no país o modelo de células de produção (turn key), uma praxe internacional de desembarque por aqui dificultado pelo pesadelo tributário, comenta nesta entrevista Alfredo Fuentes, diretor geral da Arburg Brasil.
Com base no observado no primeiro semestre, qual a sua expectativa em relação as vendas brasileiras de suas injetoras em 2023 versus 2022?
O primeiro semestre indicou uma estabilidade de demanda em comparação com o segundo semestre de 2022. Prevemos fechar 2023 com um nível de vendas 5% superior ao do ano passado.
Os fabricantes de bens duráveis em geral têm sido penalizados no Brasil pela inflação, juros altos e crédito limitado. Como a Arburg busca contornar esta situação retraída nestes segmentos que tanto demandam suas máquinas?
Os juros de financiamento aumentaram não só no Brasil mas também na Europa e EUA. Ou seja, o custo de aquisição de máquinas subiu e as instituições de crédito ficaram mais restritivas. Auxiliamos nossos clientes com financiamento direto pela Arburg e adaptamos o plano de pagamento à capacidade de desembolso de cada cliente. Somos, portanto, parceiros nos momentos favoráveis e desfavoráveis. Essa característica de manter relações de longo prazo independentes dos ciclos econômicos está no DNA de nossa empresa, um grupo familiar que este ano completa 100 anos de sucesso, o que indica a lealdade de nossos clientes.
Entre os tipos de bens de consumo e alto giro, quais deles mais têm procurado este ano no Brasil por injetoras Arburg?
Nos últimos anos, o segmento de embalagens, com ênfase em produtos para alimentos e cuidados pessoais, tem sido o mais dinâmico. Nossa indústria automotiva, outrora um grande mercado para injetoras, não tem investido em novos equipamentos o que faz com que outros segmentos devam ser explorados e o de bens de consumo são um destino natural, já que somos um país com 210 milhões de consumidores.
Por que o número de fabricantes de injetoras nacionais encolheu tão drasticamente no Brasil?
A dificuldade dos fabricantes nacionais de injetoras é a mesma da imensa maioria dos fabricantes de máquinas no Brasil, com honrosas exceções: não conseguem competir em preço com as máquinas chinesas por falta de escala e não conseguem se equiparar em performance com os fabricantes europeus por falta de acesso aos melhores componentes e à melhor tecnologia. Dessa forma ficam enclausurados em uma faixa do mercado restrita, com diferencial relativo a algumas fontes de financiamento subsidiado pelo governo. A indústria brasileira de equipamentos deveria buscar sua integração às cadeias globais de produção, importando livremente componentes e buscando mercado também lá fora para aumentar a escala de produção. É o que ocorre com a Embraer, por exemplo. Ela conta com um regime tributário especial que facilita este tipo de inserção global. Se podemos ser competitivos em aviões é possível sermos competitivos em outros bens de capital, mas isso requer uma mudança de mentalidade que não vejo no radar do empresariado local e muito menos do governo federal.
A Arburg tem nome também como fornecedora de projetos turn key. Os clientes no Brasil relutam diante da ideia de incumbir o fornecedor da injetora a montagem de uma célula completa de injeção, com robôs e periféricos? E como Arburg busca vencer esta resistência?
O departamento de turn key da Arburg é o que mais cresce em vendas e valor agregado de projetos em todo o mundo. Temos hubs de desenvolvimento na Alemanha, Leste Europeu, China e EUA. No Brasil enxergo duas dificuldades para uma maior demanda de projetos turn key e elas não são ligadas a uma relutância ou falta de interesse dos clientes. A primeira é o modelo tributário brasileiro. Ele opera impostos em cascata, onerando o custo final faturado por um único integrador. Esta distorção poderá ser suavizada pela reforma tributária, pois promete instituir o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), mas não sabemos quanto tempo essa norma demorará para ser implantada. O segundo entrave é a falta de escala de produção em alguns projetos, postergando muito o prazo para o retorno de investimento. Dito isso, não vejo como manter uma linha de produção competitiva sem investimentos em automação e equipamentos de ponta e as empresas bem sucedidas estão sempre aprimorando a produtividade. O momento do projeto turn key no Brasil chegará e a Arburg está apta a atender essa demanda com sua expertise global e o conhecimento da necessidade do mercado interno.
Qual a injetora Arburg mais vendida no Brasil no primeiro semestre, por quais motivos e quais as principais aplicações?
Nossa máquina ALLROUNDER modelo 570 E 2000 Golden Electric foi um dos destaques na Plástico Brasil 2023 e teve um desempenho de vendas muito bom no primeiro semestre. Trata-se de uma injetora totalmente elétrica, versátil, econômica e muito produtiva em relação a consumo energético. Ela se adequa a várias aplicações, desde peças técnicas até tampas, com tempo de ciclo até 6 segundos.
Quais as ações tomadas pela Arburg no Brasil para incrementar a assistência técnica remota pós-venda e baixar a incidência das visitas para o suporte prestado ao vivo?
Somos pioneiros na digitalização de injetoras. Desde 2014, todas as nossas máquinas estão adequadas para conexão por rede e desde 2019 nossa interface de comunicação ‘green box’, permitindo ligação fácil via ethernet, está instalada em todos os equipamentos Arburg. Uma vez conectado à rede, qualquer cliente pode receber nosso Arburg Remote Service (ARS), prescindindo da visita física de um técnico e recebendo assistência on line. Sabemos que grande parte das paradas de máquina pode ser resolvida à distância, mediante a orientação recebida de nossos especialistas. No caso de uma visita ao vivo ser necessária, o diagnóstico remoto permite ao técnico saber com exatidão o que irá encontrar em campo e já levar a peça de reposição correta. Isso aumenta muito a eficiência do atendimento, reduzindo custos de horas ao cliente. Outro aspecto importante a ser considerado: a segurança de dados. A Arburg é a primeira fabricante de injetoras contemplada com o certificado ISO 27001, referente à norma reconhecida como o padrão de referência internacional para gestão de segurança da informação. Nossos clientes têm, desse modo, a certeza de ter suas informações seguras e a integridade de suas redes preservada. •