Cansada de repor o corrimão de alumínio de uma avenida à beira-mar, volta e meia furtado para desmanche e revenda do metal, a prefeitura do Rio deu um basta e anunciou a instalação de uma mureta protetora de plástico. Justificativa: material tão resistente quanto a opção original, bem mais barato e, por isso mesmo, sem mercado paralelo atraente.
Desde que veio à luz e ganhou escala global, o plástico se impôs por aliar ao seu desempenho o chamariz de matéria-prima acessível, mais em conta que as concorrentes. O conceito de commodity eficaz e barata fez o plástico democratizar o consumo de um monte de produtos antes restritos às classes abonadas, pois sua manufatura dependia de insumos mais caros e de produção limitada.
A vida roda e já cobra repaginar esse conceito. Plástico permanece sinônimo de acessível. No entanto, a prática o expõe como um produto cada vez menos ao alcance do bolso padrão popular, em particular nos países emergentes. Os motivos, de cunho interno e externo, são velhos conhecidos da cadeia do plástico. Acontece que pinta um divisor de águas: os preços internacionais das resinas vão continuar a inflar e numa intensidade que promete descolar do plástico o adjetivo barato. Em suma, seu preço seguirá mais baixo que metal, vidro, madeira etc e tal. Mas o sarrafo está subindo e trata-se de um viés de alta que se prenuncia tão prolongado que põe em xeque o futuro de transformadores sem fôlego financeiro para aguentar o tranco.
E por que o caminho é sem volta? Os universitários respondem: porque os preços das fontes de energia (petróleo, gás natural e carvão) chegaram às nuvens e nelas se aboletarão por muito tempo. Antes do novo normal, preços mais elevados de combustíveis encorajavam os produtores a ampliar a oferta. Amrita Sen, influente analista da consultoria Energy Aspects, nota que, no passado, estoques e a capacidade de óleo e gás amorteciam o desequilíbrio absorvendo o choque mundial até os preços altos impulsionarem a produção para atender a demanda crescente.
A transição energética está virando essa mesa, como mostra a inércia do lado da oferta de óleo e gás para reagir às cotações alpinistas. Deu no Financial Times: os investimentos de petrolíferas múltis para extrair combustíveis fósseis cairam à metade de 2011 a 2021. Amrita Sen: o investimento mundial em bens de capital para explorar petróleo em 2020 e 2021 é 25% inferior ao necessário para manter estável a produção de 100 milhões de barris/dia, patamar já superado pela demanda global. O desarranjo é obra da pandemia, pivô no ano passado da drástica redução na oferta de energia, e do evangelho ambientalista gerando escassez de óleo e gás natural, atribui o consultor Adriano Pires. Noves-fora, sobram investidores em debandada do petróleo e gás e a elite banqueira, agora verde de carteirinha, foge como o diabo da cruz da ideia de financiar algo em combustíveis fósseis que, a propósito, representam desde 1980 cerca de 85% do consumo mundial de fontes de energia.
Para salgar a chaga exposta, a oferta de alternativas de fontes renováveis progride acanhada perante o alarmismo ambientalista. Ou seja, meio caminho andado para a piora dos preços do óleo, gás e carvão. Do lado verde, porém, nada como uma facada no bolso para mudar o comportamento de gente abraçada à energia fóssil em prol da renovável. E como lembra Amrita Sen, uma baixa artificial nos preços do óleo, gás e eletricidade tornaria mais lento o ansiado embarque das pessoas na energia verde. Em suma, sem preço salgado de energia, como os da gasolina que hoje esfolam os brasileiros, a vitória contra as mudanças climáticas fica nas promessas trombeteadas na COP 26 e os preços dos plásticos, vale o duplo sentido, continuarão por cima. •
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