A prova dos nove no freezer de supermercados evidencia uma baixa pesada e sem volta para os cartuchos de cartão numa vitrine de alimentos. A sangria foi aberta pela BRF ao introduzir uma embalagem flexível, desenhada desde 2015 a quatro mãos com a transformadora catarinense Videplast, em 40 itens de duas categorias de seus congelados: pratos prontos e empanados. “Estamos avaliando transpor essa substituição do cartão para mais seis categorias integrantes do estudo inicial”, adianta Geraldo Cofcewicz, gerente executivo de pesquisa e desenvolvimento de embalagens da BRF. “Nosso trabalho é contínuo e não há prazo de implementação do filme em outros produtos, embora seja tecnicamente possível”.
A implantação das mudanças que escantearam o cartão, ele situa, remontam a agosto de 2016 e foram concluídas recentemente. “Continuam a ser monitoradas”, acentua o executivo. A BRF tomou a iniciativa da troca, ele atesta, e a escolha de pratos prontos e empanados para iniciar a investida foi pautada pelos crivos técnico e comercial. “Apesar do esforço necessário para viabilizar a mudança, as possibilidades de êxito eram reais, favorecendo a sustentabilidade através da otimização no consumo de materiais e a competitividade, pela redução de custos, além de atender a uma expectativa captada em pesquisa entre clientes consultados”.
Ao listar as vantagens da substituição, Cofcewicz deixa claro um jogo de ganha ganha nas três frentes envolvidas: a manufatura na BRF, o ponto de venda (PDV) e o consumidor de congelados. “O custo de produção é inferior ao do trabalho com cartão, as perdas em linha com a embalagem flexível também podem ser mais reduzidas, o volume de inventário/estoque a ser administrado é muito menor e, além de não molhar e de ocupar menos espaço nos freezers domésticos, ela resiste mais a ambientes úmidos e congelados”.
Nos idos de 2001, bem antes da sua fusão com a rival Perdigão, da qual resultou a BRF, a Sadia já recorria a embalagens flexíveis para acondicionar comida pronta congelada, como fusilli com calabresa al sugo. “Conceitualmente, a solução que adotamos agora é a mesma, mas o produto difere por completo do que fazemos hoje”, distingue o gerente. “O prato citado tratava-se da mistura de massa pré-cozida congelada, com ingredientes como legumes e que requeriam a sua transferência para uma panela para o preparo da comida ser finalizado, enquanto hoje oferecemos o produto pronto numa bandeja de cartão (embalagem primária) onde pode ser preparado (cozimento)”.
A BRF quebrou um paradigma ao varrer de seus empanados e pratos prontos a estrutura de cartão. “A margem de manobra das embalagens flexíveis restringia-se a produtos de altos volumes de produção por item”, explica Cofcewicz. “Ou seja, encontrávamos nos cartuchos de cartão a possibilidade de atender nossos volumes com custos competitivos”. No âmbito dos filmes laminados, rememora, o trabalho na linha de produção da BRF começou com quantidades modestas e grande diversificação. “Hoje em dia operamos com números bem maiores e o apoio de uma transformadora de embalagens cuja qualificação aumentou devido à evolução de seu parque de máquinas, seja na capacidade de atendimento como na flexibilização dos volumes de produção”.
Com 31 anos de milhagem em mercados como cárneos, a Videplast, sediada em Videira, no oeste catarinense, hoje opera filiais no Paraná, Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso. Sua proeminência em embalagens flexíveis e stretch decorre de um arsenal tecnológico no qual reluzem, por exemplo, coextrusoras blown Reifenhäuser de 9 e 11 camadas; a coextrusora cast Macri de 7 camadas e flexográficas Bobst e Windmoeller & Hoelscher. “A estrutura do laminado desenvolvido com a BRF inclui poliéster biorientado (BOPET) conjugado com polietileno coextrusado com polipropileno”, descreve o sócio executivo Geraldo Denardi”. O filme é impresso em linhas flexo de 10 cores munidas de clichês especiais”. Conforme detalha, o emprego de polietileno linear base octeno ou metaloceno tornou prescindível a alternativa do copolímero de eteno acetato de vinila (EVA) para melhorar a resistência à perfuração, elasticidade e adesão do filme à superfície do alimento. “E por se tratar de produto congelado, não há necessidade de agente de barreira no laminado”, completa Denardi.
As impressões colhidas nos PDVs indicam para a BRF que a mudança de embalagem emplacou. “Do lado dos supermercados”, delimita Cofcewicz, “servem de exemplo o reconhecimento da facilidade oferecida aos promotores na reposição e distribuição de produtos na gôndola, a colocação de mais itens no mesmo espaço antes disponível para o cartão e o aprimoramento notado na impressão e qualidade de comunicação da embalagem”. Do lado do público, o executivo cita a constatada percepção de um produto inovador, que cabe melhor no freezer e mais protegido pela embalagem. “O mercado amadureceu e está pronto para experimentar mais possibilidades em termos de embalagens. A ousadia nesse sentido em novas categorias de produtos é um desejo do cliente da BRF. Vamos aguardar para verificar se, de fato, essa mudança é definitiva”, ele pondera. •