A distribuição de resinas virou 2015 com leves queimaduras de primeiro grau, pois fez o dever de casa para tomar pé na realidade, enxugando custos e restringindo crédito, e tirou sangue da concorrência importada acuada pelo câmbio. Não há razão para o movimento parar este ano, mas pintam novos poréns. Logo de cara, consta a piora do piripaque nacional, espelhado em 60 milhões de inadimplentes e PIB previsto agora para – 4%. Polietileno (PP) e polipropileno (PP) são termômetros da economia e a contração dela aleija de bate pronto a galera mais desguarnecida: classes sociais e empresas do andar de baixo, como as dominantes no varejo do plástico. Além do mais, os distribuidores engasgam com o pepino das revendas alimentadas por polietileno (PE) e polipropileno nacionais, procedentes de grandes consumidores. O xis do problema é que, para obter boas condições de preços da Braskem, única produtora de PP e PE no país, essas indústrias precisam manter os robustos volumes habituais de compras sob uma crise que hoje aborta a permanência dos níveis de ocupação de suas fábricas registrados nos bons tempos. Com vendas em queda assombrando o caixa, os transformadores em foco encaram uma encruzilhada. Ou reduzem as compras de resinas, pondo em risco o tapete vermelho a eles estendido pela petroquímica, ou então, topam adquirir a quantidade costumeira, canalizando para o varejo lotes maiores do que os volumes excedentes com que tradicionalmente abastecem a revenda autônoma. Acontece que, do outro lado do balcão, a freguesia anda inapetente. Nesta entrevista, Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast) e da empresa Activas pincela o panorama.
PR – Qual a estimativa das vendas de resinas commodities pela distribuição em 2015?
Gonçalves – As distribuidoras filiadas à Adirplast venderam na faixa de 378.000 toneladas no ano passado (ver box na página ao lado). Quanto à segmentação do movimento, as vendas de polietilenos (PE) totalizaram 223.025 toneladas; as de polipropileno (PP), 94.700 e as de poliestireno (PS), 40.978 toneladas.
PR – E quanto ao movimento de especialidades e plásticos de engenharia por esses agentes?
Gonçalves – O saldo de 2015 aferido pela Adirplast quase chegou a 20.000 toneladas. O movimento foi puxado por 8.406 toneladas de copolímeros de acrilonitrila butadieno estireno (ABS e SAN) e 5.026 de copolímero de álcool etileno vinílico (EVA). A seguir, entram 1.887 toneladas de policarbonato (PC) e 1.873 de poliacetal (POM). No compartimento dos três dígitos, formam acrílicos (polimetilmetacrilatos) com 827 toneladas e poliamidas 6 e 6.6, respectivamente com 310 e 72 toneladas. A lista fecha 98 toneladas vendidas de poliuretano e 57 de borrachas natural e nitrílica.
PR – Acredita que os distribuidores de PP e PE voltarão a tirar mais mercado das importações até dezembro e esse retraimento das compras externas deve garantir aos agentes da Braskem mais um ano no azul?
Gonçalves – Visualizamos para 2016 o mesmo cenário de 2015. Ou seja, importações limitadas devido à queda dos preços do petróleo e valorização do dólar, fatores que devolveram competitividade à petroquímica brasileira e resultaram na redução de, em média, 10% da quantidade de matéria-prima importada comercializada no país. Mas isso não significa que os distribuidores autorizados desfrutem de um oceano azul no balanço deste ano, pois existe uma estruturada rede de varejo de resinas importadas ou nacionais.
MaxiQuim: mercado encolhe e distribuição cresce
“Apesar do cenário político e econômico, a distribuição deve ampliar sua participação de mercado este ano”, sustenta Solange Stumpf, sócia diretora da consultoria MaxiQuim. A projeção é justificada como resultado “da diversificação do risco de crédito que fornecedores de resinas, nacionais ou de fora, praticam em períodos de economia fragilizada”, ela sintetiza. Postas sob a lupa da consultora, as vendas de 378.000 toneladas pelos distribuidores em 2015 traduzem queda algo acima de 7% perante o saldo de 2014. “Apesar do declínio, a fatia da distribuição nacional deve ter crescido, pois o mercado como um tudo caiu”, deduz Solange.
A analista dimensiona em 17% o recuo aferido no ano passado na importação de resinas commodities, cortesia do binômio crise/câmbio. “Os desembarques de polipropileno (PP) e polietileno (PE) diminuíram,respectivamente, 16% e 9% no ano passado versus 2014”, ela distingue. Manda a lógica que os distribuidores locais tenham se deliciado com a situação, mas Solange percebe o efeito mais saliente desse encolhimento das importações no âmbito das transformadoras de médio porte. “Em geral, as empresas que importam resinas não são atendidas pelos distribuidores, cuja clientela compra volumes pequenos e não costuma recorrer ao fornecimento do exterior”.
PR – Na conjuntura atual, o que incomoda mais os distribuidores de PP e PE: a revenda de resina importada ou da nacional, esta a cargo de varejistas supridos por transformadores?
Gonçalves – O que mais incomoda a distribuição oficial – e assim sempre foi – é a falta de igualdade nas condições de competição, seja o canal a revenda de resina importada ou então a nacional comercializada por grandes transformadores. Os distribuidores hoje atendem a cerca de 8.000 transformadoras e o desnível na concorrência ocorre principalmente na órbita fiscal. Os inúmeros decretos, instruções e determinações tributárias invalidam a competição entre distribuidores oficiais e revendas. A redução e simplificação da carga de impostos seriam os maiores benefícios à livre concorrência no setor industrial.
PR – Qual a participação da revenda independente de resina nacional no varejo de PE e PP?
Gonçalves – Há ciclos de altos e baixos na fatia dessa revenda via grande transformador. No últimos 10 anos, em linhas gerais e de forma macro, os números variam de 45% a 65% de participação no varejo. Acho que estamos numa fase boa, pois projetamos para este ano patamares que pendem para 40-45% para a revenda independente e 60-65% para a distribuição oficial.
PR – Quais os mercados atingidos pela revenda de resina nacional, servida pelo grande transformador, e fora do alcance dos agentes autorizados de PE e PP?
Gonçalves – O mercado é o mesmo para todos. A revenda alimentada pelo grande transformador atinge um perfil de empresas diferente das que buscam negócios com a distribuição. A revenda é menos criteriosa em relação à concessão de crédito, à análise de risco do cliente; concede prazo maior de pagamento e efetua a venda com maiores riscos comerciais. Entre os segmentos de maior número de clientes potenciais para esse canal, constam pequenos produtores de filmes.
PR – Por quais motivos é expressiva a incidência da informalidade na revenda de resina repassada por grandes transformadores ?
Gonçalves – A questão é complexa.Assim como a Receita Federal se aperfeiçoa, principalmente com ligações entre as cadeias setoriais, a informalidade também se refina. Ao final das contas, quanto menor o risco de punições, maior é a atração pela informalidade ou, principalmente, pelas pedaladas fiscais praticadas pelos empresários. Muitos transformadores ainda optam pela revenda informal devido às facilidades encontradas no momento da negociação, a exemplo de preço, prazo e forma de pagamento . O motivo dessas empresas optarem pela venda informal é o ganho financeiro proporcionado. Para empresas desse perfil, o risco de uma autuação pelo Fisco é visto como remoto.Muitos desses empresários estão preocupados apenas com o ganho a curto prazo e não com a solidez e perpetuação da sua empresa.
PR – Apesar da continuidade da recessão e da piora do fôlego financeiro dos compradores do varejo, as suas projeções são de um movimento total, incluindo distribuição e revenda autônoma, na faixa de 900.000 a 1.000.000 de toneladas de resinas, basicamente o patamar de três anos atrás. Como esse cálculo se sustenta se o consumo aparente de resinas cai há três anos e os transformadores menores são os mais descapitalizados para resistir à crise?
Gonçalves – Minha projeção se pauta na mudança de perfil de compras. A petroquímica está mais exigente na concessão de crédito, os grandes transformadores estão comprando volumes menores, de forma mais fracionada e com entregas just in time, pois não têm capital para deixar material parado em estoque. Todos esses fatores combinados com a queda das importações, já citada em questão anterior, sustentaram minha estimativa.
PR – A título de referência da gravidade da conjuntura, quantos clientes da Activas pediram recuperação judicial ou falência em 2015?
Gonçalves – Como fomos muito mais criteriosos na liberação de crédito, apenas duas indústrias de nossa carteira de clientes ativos pediram recuperação ou falência no ano passado. A propósito, percebo neste ano grande oportunidade de crescimento para a Activas, fruto de ações adotadas de reestruturação da gestão, como adequação do número de funcionários à operação, controle de gastos e custos, redução no prazo médio de recebimento e nos dias de giro de estoque. Na logística, toda a nossa frota será renovada este ano.
Commodities: balança comercial menos desnivelada
O governo, através do Sistema Alice, fechou os indicadores de 2015 sobre o comércio exterior de termoplásticos brasileiros, aqui repassados pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Na raia dos estirênicos, as importações do monômero não acusam o baque da crise e câmbio, pois totalizaram 176.096, 140 toneladas no ano passado, acima das 156.025,22 toneladas trazidas em 2014. Já as exportações brasileiras de estireno cravaram 20.188,940 toneladas em 2015, um salto olímpico a partir das 4.314,847 toneladas precedentes. Quanto a poliestireno (PS), as importações limitaram-se a 24.994,077 toneladas no último período contra as 31.393,899 em 2014. As exportações, por seu turno, atingiram 39.938,069 toneladas em 2015, bem acima das módicas 19.979,052 anteriores. A reboque do nocaute da construção civil, da evaporação do crédito e da seca nas verbas do governo, as importações de PVC fecharam o ano passado em 339.067,339 toneladas contra 432.365, 839 em 2014. As exportações do vinil somaram 82.619,734 toneladas no último exercício contra simbólicas 13.961,004 um ano antes. Na raia de polipropileno (PP), as importações desceram de 306.744,827 toneladas em 2014 para 257.775,669 em 2015, quando as exportações fecharam em 382.656,282 toneladas versus 404.196,250 anteriores. A propósito, a Braskem, única fonte nacional de PP, produziu 1.510.363 toneladas em 2015 contra 1.592.491 em 2014. Na seara de PET, as importações empalideceram com a entrada em cena da capacidade plena da PetroquímicaSuape. Os desembarques ficaram em 51.009,259 toneladas em 2015, mais de 50% aquém das 115. 085,980 importadas no período antecedente.
Polietilenos (PE) compõem, na moldura de 2015, o caso mais vistoso de ocupação do terreno das importações no mercado interno pelo produto nacional. Na esfera da resina de alta densidade, (PEAD), as importações emplacaram 280.640,433 toneladas em 2015 frente a 334.764,625 anteriores, enquanto as exportações avançaram de 359.455,809 toneladas em 2014 para 394.696,412 no exercício passado. Quanto ao polímero de baixa densidade (PEBD), as importações declinaram de 154.844,997 toneladas em 2014 para 133.118,368 em 2015, mesmo período em que as exportações alcançaram 230.047,981 toneladas contra 166.957,543 um ano antes. Por fim, as importações brasileiras de polietileno de baixa densidade linear (PEBDL) variaram bem de leve: 378.559,483 toneladas em 2015 contra 381.873,619 em 2014. Por sua vez, as exportações saíram de 197.314,747 toneladas em 2014 para 289.213,430 no ano passado. No pano de fundo, a Braskem, única fornecedora de PEs no país, produziu (todos os tipos) 2.648.820 toneladas em 2015, à frente das 2.414.521 geradas no exercício precedente.
A revenda perde terreno
Distribuidores aumentam a presença no varejo de PP e PE
“Pelo menos desde o segundo trimestre de 2015, o mercado de resinas passa por retração, mas nossos distribuidores fizeram a lição de casa e estão prontos para crescer”, confia Antonio Luis Acetoze, gerente de distribuição da Braskem. Nos últimos anos, explica, os cinco agentes – Activas, Eteno, Fortymil, Mais Polímeros e Nova Piramidal – lapidaram suas estruturas de gestão e implantaram ferramentas de controle financeiro e de performance. “Garantiram assim a entrega de mais e melhores serviços com agilidade”, percebe o executivo. Ao lado dessas ações e da camisa de força cambial na concorrência importada, a garantia de disponibilidade, qualidade e segurança fiscal dos produtos da Braskem, ele amarra, contemplaram os distribuidores em 2015 com aumento da sua participação num mercado com cerca de 5.000 clientes e com crescimento expressivo no primeiro trimestre de 2016. Entre os respaldos recentes à trajetória da rede, Acetoze cita o envolvimento da Braskem na estruturação de ferramentas de crédito como seguros, fundos e o mecanismo de escrow account (conta bancária na qual é depositada por determinado período parte do montante de uma operação, para fazer frente a passivos que possam surgir nos anos seguintes ao fechamento do negócio).
“Este é um ano para manter a lição de casa em dia, investir na qualificação de pessoal e atentar para as oportunidades para crescer de forma consistente”, estabelece Aparecido Luis Camacho Gomes, gerente comercial da Mais Polímeros. Entre as ações nesse sentido, ele pinça a inauguração da filial no Centro-Oeste, em Aparecida de Goiânia, o aumento do aparato de telemarketing e a compra de outro caminhão truck para a operação em São Paulo. “Somos otimistas, apesar do quadro desanimador”, define o executivo. Numa panorâmica, ele atribui aos distribuidores a média de 50% do volume total do varejo de resinas. “Ou seja, o segmento tem grande potencial, mesmo sob retração do mercado”.
No plano imediato, nota o analista, as principais pedras no sapato da rede da Braskem são a queda no consumo de PP e PE, a incerteza que empaca investimentos e projetos por parte dos transformadores e a enxaqueca da inadimplência. À guisa de referência, Camacho abre que, de 2015 para cá, oito clientes da Mais pediram recuperação judicial, com base numa cifra total estimada em R$ 750.000. “Além do mais, aumentaram a frequência de atrasos nos pagamentos, os pedidos de prorrogações e os calotes com ação judicial de cobrança girando entre R$ 1,5 mi e R$ 2 mi”, deplora. “Esse montante não entrou no caixa da empresa, o que nos levou ao extremo conservadorismo na concessão e gestão de créditos”.
São coisas nossas
O samba “Não tem tradução” é um clássico de Noel Rosa que o setor plástico brasileiro pode cantar em relação a uma peculiaridade sua: o costume de transformador comercializar no varejo de polietileno e polipropileno, via revenda independente, resina comprada direto da Braskem com esta finalidade – e não para ser consumida na produção. “A realidade do varejo brasileiro do plástico é única no mundo; não posso dizer que essa prática não exista em outros lugares, mas, conhecendo o jogo do mercado internacional, é extremamente rara”, vaticina Roberto Ribeiro, presidente da consultoria norte-americana Townsend Solutions. Na contramão de seus distribuidores, que enxergam vivo e forte esse comércio rival desde sempre, Antonio Luis Acetoze, gerente de distribuição da Braskem, o nega com veemência. “A revenda de resina nacional não é uma prática que compartilhamos, não temos indicador algum que sinalize se a prática existe e em quais mercados ou segmentos acontecem”.
Meio mundo na praça identifica essa modalidade sui generis de revenda quase como um ativo fixo do varejo de poliolefinas, em especial no segmento de filmes do Estado de São Paulo. Por que essa praxe perdura? Ribeiro responde: “ Porque é vantajosa para quem pratica e, sem mudanças estruturais para reverter essa situação, continuará atraente”. Outro segredo de polichinelo no ramo é a incidência de informalidade nesse comércio. Indagado sobre esta preferência pela venda no paralelo, Ribeiro a justifica com a grande vantagem assim desfrutada pelo transformador em termos do que o consultor denomina com inspiração de flexibilidade contábil-financeira. “Se a matéria-prima fosse vendida formalmente, ele perderia as vantagens proporcionadas pelo modelo comercial adotado”, coloca o analista. “Trata-se, em suma, de fazer dinheiro.Nada contra essa intenção. O problema surge quando se recorre a ferramentas ‘não usuais’ para se ganhar mais”. Ribeiro vai além: “só existe revenda sonegadora porque existe comprador sonegador. Como mudar essa prática em vigor desde o século passado? Não tem milagre, é fechando essas portas de sonegação”. O consultor também enxerga essa distorção enraizada em variáveis atreladas ao perfil da transformação brasileira, pontos vulneráveis volta e meia martelados como escala,produtividade, tributação e custos. “O Brasil é um mercado da ordem de 5 milhões de toneladas mobilizadas por cerca de 6.000 transformadores ativos, resultando num consumo muito baixo de resinas por empresa”, ele coloca. “Já os EUA são um mercado cinco vezes maior com um número de transformadores muito parecido com o nosso”. Aí tem.
Malefícios de benefícios
Wilson Cataldi e Amauri dos Santos, sócios e diretores da Piramidal, também se inquietam com a escalada do endividamento na praça. “Pelo nosso controle de um universo superior a 5.000 transformadores em todo o país, os indicadores de inadimplência dobraram em 2015 frente a 2014, mas a incidência de não recebimento cresceu cerca de 30%”, eles constatam. Com mais de 30 anos de janela no varejo do plástico, os dois dirigentes julgam que, em geral, transformadores micro e pequeno não recorrem muito ao expediente da recuperação judicial. “Não passam de dois ou três clientes ao ano”, afirmam.
A Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast) não vê razão para alterar sua projeção de 900.000 a 1 milhão de t/a de resinas para situar as vendas totais no varejo do plástico, o mesmo patamar estimado nos últimos três anos. Cataldi e Santos pensam diferente. “Atualizamos esses números e concluímos que o movimento caiu para cerca de 800.000 toneladas em 2015”, eles sustentam. “Afinal, a demanda do varejo também afinou e a clientela micro e pequena tem sofrido com dificuldades, embora haja quem esteja conseguindo passar pela crise devido à boa gestão”.
Para os dois distribuidores, a zika mais nociva ao mercado hoje em dia são as revendas abastecidas por resina remetida de fábricas controladas por grandes transformadores e sediadas em Estados que concedem incentivos fiscais. Cataldi e Santos não descem a pormenores, mas até as empilhadeiras dos galpões sabem que uma referência óbvia do que eles falam são as unidades montadas em municípios fluminenses, como Três Rios e Bom Jardim, por grandes produtores paulistas de flexíveis, todos eles, aliás, clientes de carteirinha da Braskem. “Esses benefícios acabam assim repassados às revendas, dificultando as condições do distribuidor autorizado para competir”, criticam Cataldi e Santos.
Em contrapartida, os agentes oficiais têm na manga ases impensáveis para o revendedor autônomo, seja de resina nacional ou de fora.“Muitos transformadores buscam produtos com idoneidade fiscal e procedência e garantia asseguradas, condições disponíveis com exclusividade no distribuidor autorizado e, para completar,o portfólio de resinas dele é bem mais amplo que o da revenda”, ponderam Cataldi e Santos. Além dessas balas no tambor, o histórico da Piramidal comprova que a distribuição tem a seu favor uma criatividade e senso de oportunismo sem par nos demais canais varejistas. Uma sacada recente diz respeito à forma de pagamento, o Piramidal Card. Com site para autoatendimento e sem taxa de anuidade, o Piramidal Card opera com boleto mandado pelo correio para pagamento, até a data de vencimento, em qualquer agência bancária. “O Piramidal Card tem nos auxiliado muito a conceder limites adicionais de compras a vários clientes, o que está fazendo toda a diferença”, comemoram os dois dirigentes.
Lupa no cadastro
A relutância em conceder crédito foi elevada ao cubo, entre os distribuidores, pela economia em parafuso. “Desde 2015 intensificamos a análise da saúde financeira dos clientes e reduzimos os prazos de pagamento”, informa Ricardo Mason, diretor da Fortymil. “É preciso estar preparado para abrir mão de algumas vendas e clientes, o que não é fácil para uma empresa de DNA comercial”. Ao menos até 2017, ele julga, campeará a escassez de crédito. “Principalmente por parte dos bancos”, frisa. “Somado à redução do consumo, isso vai aumentar a fragilidade do mercado dos pequenos transformadores”. Para Mason, com ou sem crise, quem mais pisa no calo dos distribuidores é a revenda autônoma de resina importada, à sombra de anomalias tributárias.
Única distribuidora da Braskem sediada no Nordeste, a Eteno registra aumento de inadimplência numa região onde o empresariado sempre conviveu com escassez de crédito. “Entre nossos clientes, a falta de gestão de crédito e do controle do custo de produção foram as principais causas do descumprimento de compromissos financeiros no ano passado”, assinala o diretor Rodrigo Brayner Fernandes. “Diante desse quadro, adequamos os limites de pagamento a tempo de reduzir danos, ainda assim registramos alguns pedidos de recuperação judicial e falência”. Do lado positivo, Brayner aponta o aumento de competitividade da resina nacional, efeito colateral do câmbio em ziguezague, e um declínio na incidência da informalidade no varejo nordestino. “Esse movimento trouxe mais clientes para a distribuição autorizada”, constata.
Fora da rede da Braskem, a Replas sobressai como agente de fabricantes internacionais de PP e PE, além de ser distribuidora autorizada de poliestireno e polipropileno biorientado da Videolar-Innova. Os irmãos Marcos e Marcelo Prando, sócios executivos da varejista, não se alarmam com os efeitos do dólar alto sobre a resina importada. “Apesar da subida do câmbio, os preços internacionais caíram e isso ajudou no equilíbrio dos preços internos que praticamos”, eles argumentam. No plano geral, eles entendem que a seca no crédito causou um baque em revendas descapitalizadas que trabalhavam com bancos e tradings. “Saíram do negócio e seus clientes migraram para os agentes filiados à Adirplast”, apontam Marcos e Marcelo. “A Replas não sairá do segmento de importação porque tem parcerias sólidas e não atende grandes players, mas as empresas abastecidas pela distribuição”. O pipocar de calotes nesse reduto também não passa batido. “No ano passado, tivemos algumas perdas não relevantes por não pagamento e dois casos de maior valor no Rio de Janeiro”, contam os dirigentes. “Mas temos conseguido driblar a inadimplência com muita atenção na concessão de crédito para as vendas”. •