China agrava superoferta de olefinas

Excedente chinês de eteno e propeno deve totalizar 32 milhões de toneladas este ano
Xi Jinping: ênfase nas exportações para contornar a crise econômica interna.
Xi Jinping: ênfase nas exportações para contornar a crise econômica interna.

Se depender da China, não haverá respeito tão cedo para o excedente (demanda subtraída da capacidade) que espezinha os spreads e taxas operacionais no mercado global de olefinas e derivados. Rastreio da consultoria Icis projeta para 2025 excedentes chineses recordes, da ordem de 11.5 milhões de toneladas para eteno e de 20.3 milhões de toneladas para propeno. A título de referência, os mesmos indicadores fecharam 2024 com 5.2 milhões de toneladas de eteno e 12.9 milhões de propeno. Os mega saltos dos dois petroquímicos básicos são atribuídos a uma conjuntura resultante do enfraquecimento da demanda da China desde o fim do superciclo mundial de investimentos petroquímicos (1992-2021) até a obsessão do governo de Xi Jinping em contornar a crise econômica mediante a exportação de manufaturados e, no âmbito dos termoplásticos, tirando proveito da competitividade permitida pela integração de refinarias de petróleo à geração de resinas via nafta.

Analista e blogueiro do site Icis, John Richardson ressalva que as estimativas para este ano envolvem crackers e plantas que, em vários casos, podem não cumprir o cronograma de partida. Ou seja, traduz o expert, capacidade nominal não significa produção real. De qualquer modo, ele contrapõe, os empreendimentos confirmados e em construção avançada indicam uma senhora engorda no já rotundo excedente da China suficiente para atormentar a fundo o mercado global de materiais como poliolefinas. Para uma ideia de como o bicho pega e vai continuar pegando nos próximos anos, as projeções da Icis atribuem à China a maior fatia (31%) na capacidade global de eteno calculada para 2025 (participação de 13% em 2024). Por sua vez, os EUA  devem responder por 20% do mesmo total previsto para este ano (21% em 2024). Richardson comenta que os EUA seguirão ampliando sua capacidade de eteno, no embalo do Trump à energia fóssil e com foco nas exportações, na garupa dos custos imbatíveis de seu gás natural (proveniente do xisto e bacias petrolíferas) e da maturidade do consumo norte-americano do monômero. Mesmo sem vantagens equiparáveis às dos EUA em termos de matéria-prima, Richardson acredita que a China vá pelo mesmo caminho para desovar a produção sobrante. Uma incógnita no ar é a viabilidade dessa investida num mercado mundial fragmentado e com países receptivos à adoção de barreiras tarifárias para importações capazes de abalar a produção doméstica menos competitiva em escala, tecnologia ou rota produtiva, a exemplo da subida para 20% nas alíquotas brasileiras para resinas do exterior, decretada pelo governo em 2024.

A barra também pesa para os lados do propeno. A varredura da Icis contempla a China com a principal participação, de 35%, no excedente global desse petroquímico básico (detinha parcela de 26% em 2024). Trata-se de um índice muito acima do vice-líder no ranking, o nordeste asiático (exclusive China e inclusive Oriente Médio), região possuidora da fração de 15% (17% em 2024).

Para sobressaltar de vez o cenário perturbador do mercado petroquímico, o banco de dados da Icis brinda a China com 50% da capacidade mundial de PVC; 45% em PS; 43% em PP e 59% em ABS.

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