Petroquímica: mudam os pesos na balança do planejamento

Critérios para viabilizar investimentos ficaram mais complicados, atesta John Richardson, da Icis
Petroquímica: mudam os pesos na balança do planejamento

Boa parte das petroquímicas ainda se aferra à crença num setor de ciclos de alta e baixa alternados ao sabor da economia, a exemplo do atual quadro recessivo, observa em artigo no portal da consultoria Icis o blogueiro John Richardson. Trata-se de miopia da gema, ele rechaça, salientando que a indústria hoje passa por grande mudança secular, um abalo incomum em seu histórico e o similar mais próximo foi o chamado superciclo de investimentos (1992-2021), atiçado pelo tom mais liberal e saltos olímpicos da economia da China.

O consultor Paul Hodges, outro blogueiro do portal Icis, considera o finado superciclo um efeito  embriagador de crenças em regra irracionais dos empreendedores. Entre elas, a certeza no eterno crescimento de dois dígitos da China e na permanência do barril de petróleo nas alturas de US$100. Richardson acha que, daqui para a frente, a sorte da petroquímica mundial depende de um emaranhado de forças cuja complexidade transcende a antiga fórmula do cálculo da elasticidade do consumo perante o PIB, adotada no século XX para decidir a montagem de fábricas, de capacidades então de alcance apenas regional.

Richardson abre a exposição de seus fundamentos com uma mexida na demografia. A maioria dos países desenvolvidos membros do G-20, ele nota, está envelhecendo e representa mais de 70% da demanda mundial de PE. Assim, tem caído o efetivo em idade de trabalho e o crescimento populacional marca por queda na taxa de natalidade e aumento da faixa idosa. O blogueiro da Icis argumenta que, em grande parte, a saída óbvia para essa sinuca seria franquear a imigração em países penalizados pela demografia, mas essa alternativa é podada pela resistência do I Mundo a imigrantes de países subdesenvolvidos. Além do mais, mesmo em regiões e países bem providos de jovens, são poucos aqueles dispostos a buscar vida melhor e escapar dos efeitos climáticos nos centros desenvolvidos, pois cientes da aversão ali manifestada a trabalhadores estrangeiros.

O aquecimento global, julga o blogueiro, pode ser em grande parte mitigado nos países ricos. Ocorre, porém, que as nações do mundo em desenvolvimento exclusive China não conseguem  financiamentos e tecnologias para atenuar baques climáticos. Na Índia, ilustra Richardson, mais de 70% da força de trabalho fica ao ar livre.

A China é o epicentro da encrenca na indústria química mundial, distingue o expert da Icis. Ex-eldorado da manufatura mundial, a China hoje tende a diminuir sua demanda de produtos químicos devido ao envelhecimento da população, governo endividado, colapso imobiliário e tensões geopolíticas em curso com o Ocidente desde a era Trump. Dessa mixórdia, deduz Richardson, tende a irromper a ótica de um mundo bipolar (China e aliados X EUA e aliados) e estilhaçado em mercados regionais, estropiando assim o conceito da globalização ideal, alega Richardson.

Outra pedra no sapato de quem ousar tecer futurologias: petroleiras tendem a dominar a produção petroquímica mundial, para compensar o declínio do consumo de gasolina e diesel entrevisto na escalada do carro elétrico, observa Richardson. Ou seja, refinarias de petróleo dessas companhias servindo à produção em linha reta de produtos químicos/petroquímicos em lugar da etapa antes prioritária da geração de combustíveis de fonte fóssil.

Líder mundial na eletrificação veicular, a China hoje corre para a produção autossuficiente de uma quantidade crescente de resinas e outros produtos químicos. Desse modo, pondera Richardson, seus ex-fornecedores internacionais, como os do Sudeste Asiático e Oriente Médio, precisam cada vez mais redirecionar para o resto do planeta suas exportações antes dirigidas ao mercado chinês. Por tabela, essa manobra contribui para piorar a mega oferta mundial de resinas como PP, PVC ou PET grau fibra.

Richardson salienta que o mundo se meteu numa revolução industrial orquestrada pela proteção ambiental abraçada ao crescimento econômico, um tremor de terra cujo desfecho ele não ousa prever. Mas o blogueiro sublinha que companhias químicas/petroquímicas não integradas upstream, com plantas fora dos locais considerados adequados em termos geopolíticos e mais vulneráveis aos ataques de importações concorrentes (efeito também da queda dos pedidos da cliente China) podem se dar bem nesse furacão. A chave mestra para elas, afirma Richardson, é concentrar o foco em oportunidades ocultas no desenvolvimento sustentável. Para bom entendedor, assistir o incêndio em resinas commodities na sala vip das especialidades.

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