Para pasmo dos economistas, crentes em geral num percentual bem menor, o PIB dos EUA, mesmo às voltas com juros recordes enregelando o crédito, cresceram 2,4% no segundo trimestre, mantendo o pique do salto de 2,3% no primeiro. Esquiva a abrir números, a China saiu da primeira metade do ano com indicadores ambivalentes. De um lado, seu PIB progrediu muito pouco no período, sobrecarregado pelo estouro da bolha imobiliária, desemprego alto entre jovens e governos estaduais e municipais endividados. Do outro, acontece que a China continua sem concorrentes à sua altura nos bens de valor que fornece e, prega uma corrente deve suportar por cinco anos taxa média de crescimento anual de 3% a 4%, enquanto sua economia deflacionada absorve a crise imobiliária e diversos excessos de capacidade. O Brasil, por sua vez, virou o semestre sob deflação, crédito caro e demanda combalida, mas ainda assim as vendas nos supermercados cresceram 2,47% e, em bens duráveis as vendas de eletroeletrônicos subiram 13% de janeiro a junho último. Com fábricas nos EUA, China e, há 10 anos no Brasil, através da Injequaly, a Viking Plastics, listada entre as 100 maiores transformadoras norte-americanas de injeção e controlada pelo fundo Spell Capital, comprova com a continuidade de seu crescimento, a tiracolo de clientes parceiros globais do naipe de GM e Whirlpool, que a sinistrose mundial não é bem o que o noticiário pinta. Nesta entrevista, a interpretação da conjuntura por Kelly Goodsel, CEO da Viking Plastics, e Fernando Esteves, diretor de desenvolvimento da Injequaly, bate feito oportuna aragem de otimismo.
Viking Plastics ingressou na China em 2008, com a economia ultra aquecida. Hoje, o país tem deflação, perda de consumo, crise imobiliária e retração dos investidores internacionais. Como este ambiente afeta a operação chinesa da Viking?
Kelly Goodsel – O ambiente macroeconômico nos países onde produzimos afeta os mercados e clientes atendidos, em linha com o dito de que a maré cheia levanta por igual todos os barcos. No entanto, dado o tamanho dos mercados em que participamos, como EUA, China e Brasil, e devido à envergadura atingida pela nossa empresa, concluímos que há um bocado de oportunidades de crescimento para capturarmos onde atuamos – indústria automobilística, de caminhões pesados e produtos de consumo.
Como Viking Plastics avalia a possibilidade de instalar planta no Sudeste da Ásia, em países que estão recebendo investimentos da cadeia do plástico internacional antes dirigidos à China?
Kelly Goodsel – Temos sido bem-sucedidos em implantar fábricas, principalmente por uma estratégia de aquisições, descobrindo grandes parceiros em busca de investimentos, suporte para o crescimento do negócio, compartilhamento de tecnologias e acesso à carteira de clientes da Viking. Dessa forma, diante da possibilidade de acesso a mercados onde ainda não estamos, tipo Índia e Europa, a tomada da decisão é complexa, por incluir incógnitas tipo ‘O que nossos clientes precisam ?’ , ‘ De que modo podemos encontrar um parceiro local com facilidade?’ ou ‘ ‘ Temos condições de oferecer benefícios ao parceiro escolhido?’
Como avalia o desempenho de suas 3 plantas nos EUA no primeiro semestre e, com base nesta avaliação, qual a expectativa para o exercício inteiro de 2023 x 202?
Kelly Goodsel – A Viking Plástics teve uma performance sólida no primeiro semestre. Uma estabilidade e normalidade bem-vindas após os períodos perturbados pela covid em 2020 e instabilidade no suprimento e pressão da inflação em 2021 e 2022. Nossas plantas nos EUA estão rodando com mais eficiência e o negócio se comporta melhor que nos anos precedentes.
Qual a expectativa para as vendas da Viking Plastics este ano e como divide o movimento estimado entre suas operações nos EUA, China e Brasil?
Kelly Goodsel – Para 2023 e 2024, a melhor descrição das perspectivas para nossas vendas é a seguinte. Cada país/mercado onde atuamos está crescendo, embora a taxas diferentes e por razões idem. Na China por exemplo, nós temos a menor capacidade instalada de injeção e menor parque de injetoras do nosso grupo. Portanto, apesar da economia chinesa em maré baixa, nosso negócio cresce e a uma base percentual capaz de fechar o ano entre as maiores dos nossos mercados. O negócio no Brasil, por sua vez, continua a crescer a ponto de motivar o acréscimo de mais injetoras à capacidade instalada da Injequaly. Nos EUA estão o grosso de nossa capacidade produtiva e os maiores aumentos nas atuais vendas do grupo. Conclusão: as vendas da Viking Plastics continuam crescentes, embora no plano geral do grupo, isso esteja acontecendo a uma taxa menor de expansão.
A Viking Plastics incorporou a Injequaly em 2013. Qual o seu perfil inicial e a atual dimensão da operação brasileira?
Fernando Esteves– Após sua incorporação pela Viking, a Injequaly teve acesso a todos os clientes automotivos e linha branca do grupo, sobretudo os americanos como GM, Ford e Whirlpool, uma abertura criadora de novos horizontes e oportunidades de crescimento. Em 2003 a Injequaly dispunha de 10 injetoras de 60 a 320 toneladas e capacidade instalada de 3.200 t/a ano concentrada em Itaquaquecetuba. Hoje em dia, considerando as três plantas (nota: unidades em Joinville/SC e Rio Claro/SP), dispomos de 64 injetoras de 120 a 2.000 toneladas, inclusos modelos bicomponente, além de processos complementares como heat transfer, serigrafia e solda. A capacidade instalada de injeção hoje soma 19.520 t /a.
Desde 2022 a economia do Brasil se retraiu, pressionada por juros altos, crédito caro e escasso, inflação e perda do poder aquisitivo da população, um quadro sem previsão de mudança e que prejudica o principal mercado das peças da Injequaly: bens duráveis, como carros e linha branca. Com base neste cenário, qual a expectativa para os resultados da Injequaly este ano versus 2022?
Fernando Esteves – Apesar do cenário financeiro desfavorável em 2022, a pandemia de certo modo acabou ajudando a impulsionar as compras de alguns segmentos, o conceito ‘fica em casa’ acabou ajudando a impulsionar as compras de eletrodomésticos. Além disso. a Injequaly atua forte no crescente mercado de energia solar, caso de peças para o conjunto de engrenagens de rastreadores solares (tracker) de usinas fotovoltaicas. Nos últimos anos temos operado com ocupação média de 82% as três plantas das Injequaly.
A maior parte dos concorrentes brasileiros da Injequaly passa por maus momentos por serem indústrias com foco apenas no Brasil e insuficientemente capitalizadas. Considera o momento atraente para a Viking comprar concorrentes no Brasil ou fundir a Injequaly com algum deles?
Kelly Goodsel – No momento, estamos focados em fazer crescer nosso negócio com os clientes existentes ou novos. Se surgir à nossa frente uma empresa que configure um alvo para aquisição que consideremos acertado, decerto estaremos interessados em explorar a oportunidade.
Quais os eventuais planos de investimentos no aumento da produção e/ou produtividade previstos para 2024 na Injequaly?
Fernando Esteves – Pretendemos dobrar o tamanho da planta em Joinville até 2024. Por ser empreendimento recente, ainda não atingiu a capacidade dimensionada no nosso plano de negócio. Também estamos evoluindo na questão da indústria 4.0, fazendo com que todos os equipamentos fiquem interligados com nosso sistema de forma online e sincronizada, tal como a Viking opera nos EUA.