Produtos de limpeza: balanço aromatizado com otimismo

Produção caiu em 2022, mas o setor deve começar a repor a perda este ano, confia o porta-voz da Abipla
Desodorização: produtos mais elaborados para fidelizar o consumidor.
Desodorização: produtos mais elaborados para fidelizar o consumidor.

Inflação, empobrecimento e reajustes nas matérias-primas, energia e combustíveis atiraram, no ano passado, o setor nacional de saneantes na superlotada vala dos bens de consumo de giro rápido com queda nos volumes e, decorrência em boa parte dos reajustes nos custos e preços, subida na receita.  A nova edição do anuário da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla) aponta para recuo de 5,7% na produção industrial e vendas no varejo da ordem de US$ 6.874 bilhões, acima dos saldos de 2020 e 2021, faturamento a cargo de um universo estimado em 2.806 empresas (CNPJs ativos na Receita), das quais apenas 16 grandes e 87 médias. Na entrevista seguir, Paulo Engler, diretor executivo da Abipla, põe fé na reanimação da produção de saneantes a partir deste ano, num ambiente de preços mais estáveis, e endossa a projeção de que o mercado brasileiro de produtos de limpeza, sala vip para PET e PEAD em embalagens, engorde 35% em quatro anos.

Em relação a 2021 e 2020, o anuário indica quedas sensíveis em volumes, no exercício de 2022, nas vendas de amaciantes, sabão em barra, produtos para lavadoras de louça, desinfetantes, concentrados de limpeza e inseticidas líquidos? Quais as justificativas?

Paulo Engler: embalagens maiores para produtos de uso constante para atrair consumidor movido a preço.
Paulo Engler: embalagens maiores para produtos de uso constante para atrair consumidor movido a preço.

Da cesta citada, apenas o sabão em barra e os inseticidas líquidos tiveram uma queda maior que a média setorial no ano, que fechou com retração de 5,7% na produção. Os demais tiveram resultados bastante próximos – ou até melhores – da baixa geral do setor em 2022. A pressão de preços sofrida pela indústria e a consequente parte do repasse dessa alta ao consumidor são as principais causas da diminuição da produção. Mas é preciso ressaltar que, de forma geral, apesar do aumento dos preços de produtos de limpeza, os fabricantes não repassaram na integralidade seu aumento de custos. Caso isso acontecesse, a queda poderia ser maior.

Ainda em relação a 2021 e 2020, o anuário indica aumento sensíveis em volumes, no exercício de 2022, nas vendas de produtos para banheiros, esponjas sintéticas e inseticidas aerossóis. O que aconteceu?

Em geral, inseticidas apresentam maior volatilidade de um ano para o outro, a depender das condições climáticas e de infestação de cada região, e 2022 não foi ano de alta na produção para essa categoria, com queda em todos os seus segmentos. Entendemos as evoluções na produção de limpadores para banheiros e esponjas, em um ano de retração geral, como um movimento natural de mercado que tem potencial para crescer, mas que sofreu muito com os aumentos nos custos de produção.

Limpadores para banheiro: categoria de saneantes de crescimento expressivo no ano passado.
Limpadores para banheiro: categoria de saneantes de crescimento expressivo no ano passado.

Inflação, carestia e perda do poder aquisitivo acentuaram no consumidor padrão de saneantes as compras movidas a preços em 2022. Quais ações de brand owners para preservar a fidelização desse cliente você destaca?

A indústria é muito atenta ao comportamento dos consumidores e costuma, com sucesso, antecipar tendências e cenários. A estratégia adotada, é claro, é individual de cada empresa, mas talvez valha um destaque para o desenvolvimento de linhas focadas no custo-benefício, com embalagens maiores de produtos de uso constante, e itens como os multiuso de cunho mais tecnológico, voltados à praticidade e eficácia na limpeza, desodorização ou desinfecção de ambientes e superfícies. Vale também ressaltar a criação de linhas de sachês e refis, que permitem que os consumidores reaproveitem aplicadores de saneantes já disponíveis em casa.

A informalidade abocanhou no ano passado 22% do mercado de saneantes de uso doméstico e 18% no de uso profissional. Como explica a resiliência do comércio informal de saneantes enquanto o Fisco volta e meia alardeia sua modernização e abrangência? A reforma tributária pode alterar o cenário?

A fiscalização, tanto sanitária quanto tributária, é uma grande aliada no combate à informalidade e acredito que tem havido uma melhora das ferramentas de rastreio e identificação de produtos irregulares. Mas isso deve ser um trabalho perene, até porque a informalidade na produção de saneantes é problema grave de saúde pública. Além da venda de produtos fabricados sem fiscalização sanitária, a falsificação de saneantes de marcas conhecidas deve ser enfrentada. Nesse contexto, é importante também que os consumidores fiquem atentos à forma correta de uso e diluição dos saneantes e que nunca realizem misturas de produtos de limpeza que não estejam expressamente descritas no rótulo. Por seu turno, a reforma tributária implica uma modernização fiscal e, com maior rigidez nas fiscalizações tributária e sanitária, pode ajudar a coibir ações ilegais, como pirataria e contrabando.

Como avalia a incidência de microfabricantes de saneantes que subiram para as categorias de indústrias pequenas e até médias?

O Brasil é o quarto maior mercado do mundo e um dos países com maior potencial de crescimento no setor de produtos de limpeza, tanto que a previsão é que o consumo de saneantes no Brasil cresça 35% até 2027. Hoje, o consumo nacional só é menor do que o dos EUA, China e Japão. Isso abre oportunidades para empreender e se desenvolver no setor. É claro que pequenas empresas não têm o mesmo orçamento e estrutura para desenvolvimento de produtos e novas tecnologias que uma múlti presente em todos os continentes. Mas elas podem, por exemplo, atuar na produção de um insumo utilizado na fórmula de um saneante líder de mercado. Ou desenvolver uma determinada linha proprietária para distribuição localizada.

Brasil: consumo de saneantes só perde para EUA, China e Japão.
Brasil: consumo de saneantes só perde para EUA, China e Japão.

Quais as prováveis consequências e impactos sobre o esforço de brand owners de saneantes no Brasil de tornar suas embalagens cada vez mais sustentáveis diante do fato de o plástico reciclado custar hoje mais caro que o super ofertado virgem?

Entre os nossos associados, o aperfeiçoamento dos parâmetros de sustentabilidade na produção de saneantes é inegociável. As embalagens fazem parte desse processo, mas uma operação sustentável abriga diversos outros aspectos, como a otimização do uso de energia na fabricação e estocagem dos produtos, logística planejada e eficiente, resgate de embalagens e a biodegradabilidade das fórmulas. O setor tem sido bastante pródigo em encontrar soluções para uma produção sustentável.

A Abipla apoia a homologação pelo governo de uma regulamentação do uso compulsório de plástico pós-consumo reciclado em produtos transformados sem contato com alimentos?

Não temos informações sobre essa possível regulamentação, mas apoiamos incentivos para a melhoria da economia circular no Brasil que fomentem todas as etapas, incluindo recuperação, transformação e reúso de materiais reaproveitáveis.

Para a indústria de saneantes, 2023 manterá ou não a praxe recente de configurar mais um exercício com faturamento crescente e volumes em fogo brando?

Os volumes devem voltar a crescer este ano. Atingimos o pico histórico em 2019 e mantivemos o nível de produção em 2020 e 2021 até a queda de 5,7% em 2022. Na última década, na média, crescemos bem acima do PIB nacional e nossa inflação foi, costumeiramente, menor que a do índice geral. A inflação do setor foi, de fato, mais alta em 2022, mas, em 2021, por exemplo, os preços dos produtos de limpeza subiram 6,84% contra 10,16% do INPC geral. De janeiro a maio último, a categoria de produtos de limpeza apresenta alta 0,19% menor do que a inflação geral. Com os preços controlados, acredito que teremos a possibilidade de expandir a produção em cerca de 2% neste ano.

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