Jacques Siekierski é, de longe, o maior inovador da indústria de embalagens plásticas no Brasil. Foi o introdutor no país de produtos como copos descartáveis, potes de iogurte, zíper de plástico e de uma infinidade de soluções em flexíveis, a exemplo de sacos valvulados, rótulos manga, filmes coextrusados, sacos para leite, bisnagas laminadas e, para não estender demais o batalhão de exemplos, sacos de lixo.
Pois os sacos de lixo trazidos por Jacques no século passado foram submetidos a uma ‘tropicalização’ silenciosa antes de debutarem na praça, pois baseada em constrangedora mentalidade brasileira então em vigor, como ele revelou em entrevista a Plásticos em Revista cinco anos atrás. “Nos anos 1950, ainda havia um approach algo elitista no mercado. Por exemplo, quando introduzi o saco de lixo, eu cogitei, baseado na experiência europeia, agregar um aroma tipo baunilha à embalagem, para atenuar o mal-estar causado pelo fedor para quem lidava com o lixo. Ao sugerir isso para alguém ouvi que era bobagem pura, pois quem se incumbia do lixo eram as empregadas e não as madames. A ideia morreu aí”. Corte para 70 anos depois: passou para o lugar comum a oferta de sacos de lixo perfumados com fragrâncias tipo lavanda, para anular o mau odor dos detritos. Lógico que esta evolução foi influenciada pela massificação do consumo da embalagem; pela redução de custos de tecnologias incorporadas (caso da inserção dos aromas nos filmes) e até pelos direitos trabalhistas e remuneração condigna conquistados pelas empregadas domésticas, além das facilidades de toda ordem introduzidas no cotidiano doméstico. O mundo é outro.
Guardadas as devidas proporções e a título apenas de apresentação de outra prova do peso do correr do tempo, outro argumento muito ouvido e ultra desatrelado da realidade é o de que uma indústria, em particular de manufatura (transformação no sentido geral), deve ser considerada de interesse estratégico nacional por gerar muito emprego. Tem um porém: a digitalização, automação, ChatGPT e demais miçangas da inteligência artificial já enxugam de forma drástica os postos de trabalho nos parques fabris. Fábrica moderna é a que emprega pouca gente. Da mesma forma que banco faz tudo para o povo não baixar na agência, a manufatura hoje apanha sem dó da capacidade de geração de emprego do setor de serviços – que o digam shoppings ou call centers. Daí porque soa tão anacrônico ouvir, por exemplo, facções do empresariado manufatureiro defendendo fechamento do mercado para evitar desemprego, tal como políticos discursando sobre o papel exponencial da Zona Franca por atrair com privilégios fiscais, de efeitos ruinosos para a economia nacional, indústrias de transformação que eles enaltecem como bem-vindas fontes de muitos postos de trabalho para a população local.
No âmbito estrito do setor plástico, a questão da mão de obra embute ainda uma bomba relógio de alcance mundial, já ativada e sem estratégia de combate definida pelo empresariado atarantado. As novas gerações querem distância do trabalho na cadeia plástica, em particular nas indústrias de transformação. Uma ojeriza explicada nos sites e rodas de palpites por viradas demográficas (por exemplo, expansão da população europeia idosa versus redução de taxas de natalidade), o poder sedutor de setores de maior margem para a criatividade digital, carreiras mais rápidas em serviços, desinformação sobre o trabalho na manufatura e, por fim, pesa no quadro a imagem ambiental do plástico de geni sintética que a opinião pública ama odiar. Grande parte dessas justificativas pode ser transposta para o Brasil, onde a cadeia plástica também se ressente de um problema estridente, embora comentado a boca pequena: cursos como os de Engenharia de Materiais, de sobrevida ameaçada pelas turmas declinantes de alunos.
O setor precisa se mexer para provar que uma propriedade do plástico não está caindo em desuso neste mundo novo: a resistência a quedas. •
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