PP e o século da Ásia

Destino do mega excedente da resina está nas mãos do continente
Petroquímica na Coreia do Sul: dificuldade para compensar as vendas declinantes de PP para China..
Petroquímica na Coreia do Sul: dificuldade para compensar as vendas declinantes de PP para China..

Ao cobrir a mega exposição tecnológica asiática Beyond Expo 2023, realizada na China ao final de maio, Assis Moreira, correspondente do jornal Valor constatou um consenso num debate entre formadores de opinião: o século XXI será o século da Ásia. Entre os sinais nessa direção, pingaram na mesa redonda constatações de que China e Índia compareceram, em 2022, com 50% do crescimento da economia global e, apenas o PIB do Sudeste Asiático, com 700 milhões de pessoas, deve saltar de 5% a 8% durante esta década, bombeado pela montanha de recursos despejada na região. Amarrando-se as pontas e transpondo-as para o reduto de PP, o quadro sinaliza uma manobra radical no comércio global da poliolefina, como deixa claro no site da consultoria Icis o blogueiro John Richardson.

O cenário já preteja a partir do hiper excedente da resina. Nas planilhas da Icis, a capacidade global de PP deve exceder em 21 milhões de toneladas a demanda este ano. A título de referência, entre 1990 e 2022, o excedente pairou na média anual de 6 milhões de toneladas. Nesse enrosco, a China desequilibra o tabuleiro com o registro de consumo, em 2022, de 107 milhões de toneladas de resinas poliolefínicas, estirênicas e PVC contra 82 milhões absorvidas pelos países desenvolvidos no mesmo período. No plano geral da atualidade, a China não tem como voltar aos bons tempos em que crescia com garbo dois dígitos anuais, pois hoje seu mercado interno convalesce de anemia (desde o fim da pandemia), pepino agravado pela crise de confiança do consumidor e do zilionário estouro da bolha imobiliária local. O consenso no mercado é de que, mesmo que o governo de Pequim corra agora com subsídios, financiamentos e demais afagos camaradas, a economia chinesa não salta da cama da noite para o dia. Como PP é termômetro extraoficial dos rumos de bens essenciais e duráveis, John Richardson acredita que o consumo do polímero recue 1% este ano na China versus o saldo anterior, declínio traduzido em 500.000 toneladas.

Nesse horizonte enevoado, outra aparição do século asiático provém da autonomia chinesa na produção de PP (em especial, homopolímero). Cálculos cruzados pela Icis dão que essa autossuficiência bateu em a 100% em 2020 e deve passar a 124% este ano. Daí também a descida sem anestesia nas importações chinesas de PP: de 6,1 milhões de toneladas em 2020, estão previstas para fechar em 2,7 milhões no exercício atual. No bojo da queda, pulsa a noção de que, mesmo com a economia hoje combalida, destino algum chega perto da China em volumes importados de PP. Pelas lentes da Icis, Turquia e África devem vir logo abaixo da China importando este ano, respectivamente 2,6 milhões e 1,5 milhão de toneladas, enquanto na América Latina 900.000 toneladas devem ser desembarcadas no acumulado de janeiro a dezembro. No balcão dos maiores exportadores de PP do planeta, irrompe uma sinuca: a situação de países mais próximos da China, caso da Coreia do Sul: exportou 3,4 milhões de toneladas de PP no ano passado e a China abocanhou 29% dessas compras externas, percentual duro de ser compensado com o fornecimento a outros mercados. A propósito, apimenta Richardson, diferenças cambiais, tarifárias e nas condições de pagamento, assim como a frequência de cargas menores solicitadas, em regra levam grandes exportadores de PP à preferência por atender África e América Latina via traders. Acontece que a diversificação de clientes hoje determinada pela autossuficiência e retração da China, argumenta o blogueiro, pode levar os principais exportadores de PP a aderir à modalidade mais rentável das vendas diretas.

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