Mahindra abre capô de trator ao plástico

Campo fértil para peça termoformada pela Plasolution
Trator 7095: capô plástico homologado pelo custo competitivo e resistência às altas temperaturas do motor.
Trator 7095: capô plástico homologado pelo custo competitivo e resistência às altas temperaturas do motor.

Implementos agrícolas maiores e conectados deram o tom da Agrishow 2023, a maior feira do setor que puxa o PIB do Brasil. Nas entrelinhas desses equipamentos, também lateja a tendência de aliar à aura 4.0 da tecnologia os plus da leveza, estética e economia de combustível e de custos de produção. Daí a inclinação em agro veículos por contemplar termoplásticos commodities e de engenharia com peças no passado cativas do aço, elastômeros e polímeros termofixos. Na montagem de maio do mega desfile do agronegócio nacional, essa tendência de migração silenciosa do segmento para o uso crescente dos plásticos nos equipamentos foi flagrada num lançamento da subsidiária brasileira da indiana Mahindra: um vistoso trator plataformado cujo motor de 95 cv é recoberto com capô de abertura total, termoformado com resina não revelada. Nesta entrevista, um capítulo importante do alargamento dos espaços para o plástico em veículos para plantio, cultivo e semeadura é registrado por Anderson Melo, diretor operacional da Mahindra no Brasil, e Luana Gomes, gerente comercial da Plasolution, sua supridora de peças plásticas mais relevantes.

Anderson Melo: termoplásticos são ameaça para aço, borracha e termofixos em agroveículos.
Anderson Melo: termoplásticos são ameaça para aço, borracha e termofixos em agroveículos.

Qual é o modelo de trator lançado com capô de plástico na Agrishow?
Anderson Melo – É o trator 7095, destinado a agricultores de médio porte para as mais diversas atividades no campo. É ideal para ser utilizado em longas jornadas diárias de trabalho, para as quais uma boa ergonomia é fundamental. Além disso, o veículo apresenta grande capacidade operacional, um atributo que garante excelente rendimento em operações de preparo de solo, cultivo e plantio.

Por que a Mahindra optou por equipar este trator com capô de plástico em lugar do tradicional metal?
Anderson Melo e Luana Gomes – Os motivos foram o custo/peça competitivo e o custo acessível de entrada do ferramental. Vale considerar que o gasto com um ferramental de estampagem é extremamente alto. Além disso, o plástico proporciona uma peça leve, de ótimo acabamento, design robusto e resistência a altas temperaturas.

Luana Gomes: peças plásticas são mais leves, estruturadas, reforçadas e melhor acabadas.
Luana Gomes: peças plásticas são mais leves, estruturadas, reforçadas e melhor acabadas.

Qual o tipo de resina utilizada  no capô e qual o processo de moldagem utilizado?
Anderson Melo e Luana Gomes – Não citaremos o nome do tipo da resina, mas assinalamos sua adequação à termoformagem e injeção. O material empregado apresenta um custo competitivo e atende aos requisitos de resistência à temperatura para esse tipo de aplicação, por ter excelente condição de acabamento e por ser um material estrutural, o que justifica sua seleção para o capô. Já há no mercado aplicações em capôs de tratores à base de plástico premium, porém a custo muito alto. O material que escolhemos já foi testado e aprovado em versão anterior desse novo capô e agora, trouxemos ao trator 7095 um design mais moderno e um conceito de peça mais reforçado. Com isso, lançamos o plástico como excelente alternativa e custo competitivo para essa aplicação. No mercado atual, ainda se utilizam muitos materiais e processos de manufatura nesse tipo de peça, a exemplo de aço, moldagem de placas que integram termofixos e fibra de vidro submetidos à compressão e compactação (sheet moulding compound (SMC), peças de (termofixo) diciclopentadieno moldadas por injeção reativa (reaction injection moulding/RIM)). Mas tratam-se de opções mais pesadas e caras, nem sempre reutilizáveis e com uma condição de acabamento inferior.

No caso da Mahindra, pensando num custo competitivo de ferramental e considerando o volume de máquinas, foi escolhido o processo de termoformagem do polímero termoplástico. Com isso, mostramos ao mercado que, mesmo para os fabricantes de máquinas de pequeno e médio volume, é possível dispor de um capô com custo de ferramental acessível e uma peça competitiva, reforçada e, tornamos a dizer, de excelente nível de acabamento e resistente a altas temperaturas.

Este novo trator é o primeiro da Mahindra munido de capô de plástico, ou então, é o primeiro de sua categoria na empresa montado com este tipo de capô?
Anderson Melo e Luana Gomes – A Mahindra já fornece a versão anterior desse capô em plástico e com o mesmo material.  Nessa nova versão, a empresa concebeu um design mais avançado e  e aerodinâmico e um conceito mais reforçado de peça.

Anderson Melo – Este modelo de trator foi escolhido por ser um projeto de grande conteúdo e fruto de engenharia brasileira. Está apto a receber inovações de formato, maior área de refrigeração e melhorias estéticas que atendam as tendências e o gosto do mercado.

Quais as principais peças de plástico já usadas nos tratores brasileiros da Mahindra? E quais os itens de metal ou borracha passíveis de serem substituídos por similares de plástico a curto prazo?
Anderson Melo e Luana Gomes – As principais peças plásticas já usadas pela Mahindra, todas fornecidas pela Plasolution, são painéis e revestimentos de cabine, para-lamas e tetos. Vemos o plástico ganhando força no mercado agrícola. Além de termos muitas opções de fontes de matérias-primas e acesso a tecnologias, como SMC e DCPD (o que nos ajuda em termos de disponibilidade de material e negociações comerciais), vemos muita inovação nos polímeros. Por exemplo, materiais mais resistentes e que têm ingressado em aplicações em geral detidas por aço ou borracha, e até mesmo outras tecnologias, como DCPD e SMC  que, no agronegócio, competem até mais do que o aço e borracha. Quando comparamos o plástico com esses materiais ou processos, além da possibilidade de desenvolvermos um conceito de peça reforçada e resistente à temperatura e intempéries, conseguimos oferecer ao mercado peças mais leves, de tratamento superficial  superior aos das demais alternativas e contamos com a possibilidade de um custo de ferramental mais competitivo, através da via da termoformagem para aplicações de menor volume.

Quais os itens de metal ou borracha podem vir a ser deslocados por similares de plástico nos tratores e demais implementos agrícolas brasileiros da Mahindra?
Anderson Melo e Luana Gomes – As peças com possibilidades de emprego dos plásticos são:

  • Capôs – ainda com muita aplicação em estampados (aço) e de  DCPD e SMC (processos para moldagem de  termofixos);
  • Degraus – ainda muito em aço, mas vemos a possibilidade de fabricação em plástico;
  • Transmissões – há muitas delas fundidas e vale considerar  a possibilidade de desenvolver alternativas em plástico;
  • Defletores – hoje já vemos a migração pata plásticos acontecendo nesse tipo de aplicação. No entanto, ainda são encontrados no mercado defletores em aço e termofixos moldados por SMC.
  • Tetos, para-lamas e blindagens de colheitadeira – também já se nota migração para o plástico nessas peças, embora haja bastante aplicação em SMC, DCPD e aço.

Nos casos específicos do teto, para-lama, defletores e blindagens, o plástico possibilita a fabricação de peças mais leves, estruturadas, reforçadas e melhor acabadas. Temos a possibilidade da injeção de resinas termoplásticas para artefatos alto volume e da termoformagem para peças de menor titagem.

A capitalização do agronegócio e suas safras recordes foram bem aproveitadas pela Mahindra em vendas para tratores nos últimos dois anos? E quais as expectativas para o período atual?
Anderson Melo – A Mahindra está ampliando sua capacidade produtiva e, considerados os exercícios de 2021 e 2022, foram faturadas, respectivamente, 1684 e 2170 unidades de tratores. A  propósito, nosso carro-chefe no Brasil é o trator 6075 de 80 cv e os  méritos dessa dianteira cabem ao baixo custo operacional e versatilidade para adequação às mais diversas condições de trabalho.

Em relação às perspectivas para este ano, a Mahindra projeta crescimento de 28% no ano fiscal de 2023 sobre o exercício anterior. No plano geral, acreditamos que os números da indústria de tratores no Brasil fecharão o ano bem próximos dos números alcançados em 2022.

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