Pesquisa de opinião

Projetos petroquímicos de PE/PP são cada vez mais contestados por ativistas ambientais na Justiça dos EUA. Diante desse repúdio, quais devem ser, depois de diluída a atual super-oferta mundial de poliolefinas, as regiões/países mais capazes de atrair esses investimentos?

Wilson Cataldi e Amauri dos Santos
Dirigentes da distribuidora Piramidal

O último ciclo norte-americano de projetos petroquímicos ainda envolve plantas cuja partida recente resultou de adiamentos determinados pela economia mundial em baixa e a consequente superoferta de poliolefinas. São exemplos o complexo de etano/eteno/PE da Shell no estado da Pensilvânia, que entrou em cena em novembro, e a unidade de PP que a Heartland Polymers ativou em julho último no Canadá. Na China, por seu turno, estima-se que apenas as novas fábricas de PP somem capacidade nominal da ordem de 5 milhões de t/a. Portanto, quando passar o atual excedente de poliolefinas, será preciso considerar, em relação a novos projetos, que os custos de energia e o ativismo ambiental puseram a Europa fora do mapa da produção de resinas. O radicalismo verde tende a colocar os EUA na mesma posição, mas sua disponibilidade de matéria-prima competitiva, o gás natural, ainda deve motivar, daqui para a frente, a montagem de fábricas de PP e PE menores no país, de cunho regional e próximas de hubs de transformadores; nada a ver com aquelas capacidades ditas de classe mundial que, desde 2018, tomaram vulto nos dois últimos ciclos petroquímicos na costa do Golfo dos EUA, tornando o país exportador regular de PE.
Diante disso tudo, os investimentos em PP e PE virgens que surgirão quando o excedente atual suavizar devem vir de países e regiões onde a causa do ativismo ambiental perde para a necessidade de se tirar da linha da pobreza a máxima parcela possível da população, preocupação já vencida no I Mundo. E sempre que o poder aquisitivo melhora, o consumo de plástico sobe, para alegria do povo e desespero dos ativistas. Ou seja, em lugares com a economia no vermelho da miséria, o verde da natureza cai para segundo plano nos programas de governo. Por causa dessas políticas de países emergentes e da sua disponibilidade de matéria-prima para petroquímica, as futuras plantas de PP e PE devem acontecer em países asiáticos como Indochina, Laos, Vietnam e, claro, Índia e China. Na América Latina, o México tem petróleo, mas também convive com volatilidade política e, além do mais, conta com livre acesso às resinas a preços baixos da parceira comercial vizinha, a América do Norte. Já a América do Sul está fora do jogo, em especial pela instabilidade política que leva à insegurança econômica, ainda mais se considerarmos que complexos petroquímicos demandam capital intensivo e de cinco a sete anos para partir. Imagine só o risco de construí-los em lugares com gás ou nafta mas carentes de estabilidade, caso da Venezuela ou mesmo do Brasil, onde cada década é marcada por tantas mudanças de toda ordem.


 

André Passos Cordeiro
Presidente executivo em exercício da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)

Os plásticos são materiais essenciais em todas as cadeias produtivas, mérito da performance, flexibilidade de aplicações, economicidade e melhora do bem-estar proporcionado à sociedade. No entanto, a facilidade e a universalidade do seu uso ampliaram a a demanda e produção de forma exponencial nas últimas décadas, originando o forte problema ambiental hoje provocado pelo descarte, incorreto na maioria das vezes, dos materiais pós-consumo. Quando miram produtores de plásticos, os ativistas ambientalistas erram o alvo, pois sua exasperação deveria fustigar políticas públicas ineficazes. Elas deveriam priorizar a adoção dos preceitos da economia circular, através da reciclagem e reúso dos plásticos, aliás uma indústria geradora de empregos e impostos. O debate em torno dessa questão do local a receber projetos petroquímicos requer dosagem equilibrada entre o viés ambiental e o pragmático, dado o risco de afastar os empreendedores para regiões com o balanço mais adequado de condições. E a principal delas, para quem investe, é a competitividade com base na disponibilidade de matéria-prima, segurança energética ambientalmente protetora e estabilidade política e econômica.
O Brasil é das poucas regiões do mundo capaz de assegurar estas condições e ainda garantir retorno ao investimento com um mercado doméstico pujante. Mas é compreensível esperar pela existência de uma política de governo com apoio incondicional à sustentabilidade. Afinal, os pilares restantes da competitividade do negócio não bastam hoje para seduzir os investidores quando o local em foco anda longe de uma sólida consciência ambiental.
Os questionamentos ambientais em vigor nas economias mais desenvolvidas são levados em conta pela indústria química brasileira, como integrante desse contexto global. No âmbito dos plásticos em linha com o meio ambiente, cumpre registrar a proeminência desse setor, através de desenvolvimentos de grades commodities verdes, e da reciclagem consolidando-se como uma realidade nos grandes centros urbanos do país. Para completar os trunfos competitivos, a matriz energética brasileira é das mais limpas do planeta, possuidora de condições ímpares para prover energia eólica e solar. São predicados que, nos próximos anos, trarão a implantação de cadeias químicas verdes baseadas em hidrogênio, por exemplo, uma plataforma de referência internacional.
Na geopolítica atual, a transição da fonte fóssil para a renovável é irreversível, mas a pandemia e a guerra na Ucrânia trouxeram às nações desenvolvidas os desafios da segurança no suprimento energética e da manutenção de determinadas cadeias produtivas estendidas, de forma a evitar rupturas econômicas. O desenho futuro das equações de energia e química deve considerar o equilíbrio entre lógica ambiental e econômica e o bem-estar social.


 

José Ricardo Roriz Coelho
Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)

Projetos de expansão em petroquímica encontram resistência movida por atores da sociedade, desde ativistas ambientais defensores da restrição da atividade, por reduzir a dependência do petróleo, até aqueles que estudam os efeitos no ecossistema do fracionamento na extração de gás de reservas de xisto nos EUA. O fato é que a ampliação da petroquímica tem mais relação com o uso eficiente dos recursos do petróleo/gás/energia, com perspectiva de longo prazo de sua exploração e de crescimento econômico global.
A demanda mundial caminha para uma recessão devido a muitos fatores, entre eles dois anos de pandemia e a guerra contra a Ucrânia desfechada por uma grande potência militar e em energia. Nesse ínterim, investimentos em termoplásticos foram e seguem planejados para partir nos EUA e Ásia, ampliando a oferta mundial nesse momento de restrição da demanda, prenunciando assim variações e adequações da produção à conjuntura. Entretanto, da mesma forma que temos crise, teremos recuperação da demanda, justificando assim a necessidade dessas capacidades adicionais. Nesse contexto, a América do Norte centraliza os investimentos em PE, considerando a vantagem do shale gas e, na Ásia, plantas da poliolefina estarão prontas para partir em 2023. Tudo isso pressupõe a existência de espaço para retorno e avanço do consumo nos próximos anos, passada essa fase de ‘ajuste’ e recessão advinda da pandemia e guerra.


 

Antulio Borneo
Vice-presidente responsável pela cadeia PET da consultoria Icis

Os principais fatores que influenciam a decisão de investimento em petroquímicas são o acesso a matérias-primas (feedstocks), custo da construção, mercado doméstico, logística e risco da localização (geopolítico, catástrofes naturais, legislação, etc). Considerando essas determinantes, Oriente Médio e China se destacam como potencial alternativa, apesar de a petroquímica chinesa não contar com gás e petróleo suficientes. Entretando, podemos imaginar como pouco provável que a produção de termoplásticos seja banida de países onde é forte a presença de empresas de consumo (produtos finais) . Afinal, não adianta vetar a produção de algo essencial para preservar a qualidade e proteger artigos como alimentos num determinado lugar sem opção viável para substituir o acondicionamento em plástico. Aliás, essa discussão causada na Justiça e opinião pública pela oposição ambientalista a novos investimentos petroquímicos nos EUA começa a perder sentido, à medida em que a conscientização sobre a economia circular venha conquistando espaços.


 

Roberta Duarte
Diretora executiva responsável pela distribuição de resinas termoplásticas da Conecta Resinas

Para falar de projetos petroquímicos de PE/PP, é necessária uma panorâmica do mercado global e nos últimos tempos ele serviu belo coquetel de preocupações – desde a variação do dólar, pressões inflacionárias, aumento do barril e recessão. A inflação está sendo mais severa, com as cadeias de suprimentos globais arrasadas pela covid e a logística ultra cara. Quando parecia que as coisas estavam prestes a normalizar, a Rússia desencadeou em fevereiro a guerra contra a Ucrânia em mais um período de pressões inflacionárias mundial, fragilizando em particular a economia e suprimento de energia e alimentos da Europa. Enquanto isso, os EUA desaceleraram. A maioria dos bancos centrais optou por reagir à inflação com aumento acentuado dos juros, mas ela continua muito alta e permanecerá acima das médias históricas por um período prolongado e incógnitas como a energia suficiente para a Europa atravessar o inverno perigam agravar o quadro geral. Já a China terá crescimento reduzido por bom tempo, efeito da demografia e dívidas excessivas, afetando por tabela a economia do resto do mundo.
Aliás, um efeito colateral dessa conjuntura foi a participação muito tímida de petroquímicas na K, em outubro último. Enfim, retornando à pergunta dessa sondagem, acredito que Índia e Arábia Saudita surgem como locais relativamente atraentes para futuras capacidades de PE e PP, mas não prevejo em lugar algum aqueles investimentos pesados em plantas que marcaram os últimos ciclos petroquímicos, o que também tem a ver com um caminho sem volta: o avanço gradual de reciclados em mercados antes cativos dos polímeros virgens. Outro ponto a destacar: até o momento, o Brasil tem sido visto com bons olhos no exterior. A continuidade dessa imagem depende da linha seguida pelo próximo governo.


 

Eder Ottolini Balbani
Responsável por vendas técnicas da distribuidora Replas

Face à crescente onda de ambientalismo e devido à falta de conhecimento real sobre o assunto poluição/resíduos plásticos, acredito que, superado o excedente atual de PP e PE, as futuras plantas petroquímicas serão erguidas na África. Já tramitam análises para viabilizar tais projetos em países desse continente muito mais preocupados com o crescimento econômico do que com ecologia. Vejo também a possibilidade de mais polos vingarem no Oriente Médio, inclusive pela facilidade de acesso à matéria-prima competitiva disponível na região. Em virtude do baixo consumo mundial de poliolefinas hoje em dia, do volume das capacidades instaladas no mercado internacional e devido ao prazo médio de sete a nove anos para projetos petroquímicos serem implantados e é difícil prever com objetividade quais locais devem receber os investimentos em fábrica hoje rejeitados por ativistas nos EUA. Quanto à China, permanece a caixa de Pandora e nunca saberemos o que pode sair dela.


 

Davide Botton
CEO da consultoria WinStar

A pandemia atual não será a última, mais guerras poderão eclodir no planeta e desastres naturais e a atenção com o aquecimento global continuarão as grandes preocupações da humanidade. Em suma, não apenas o fluxo monetário ou o balanço entre oferta e demanda de resinas serão os fatores analisados nas próximas estratégias de investimentos petroquímicos. A indústria está alerta para as consequências do fornecimento globalizado de insumos vitais e para a dependência da logística concentrada em poucos operadores para atender seus interesses e demandas. O ciclo de descentralização geográfica na petroquímica está por vir. Ele não apresentará uma concentração regional especifica, mas estará disperso entre as regiões com melhor equilíbrio entre agregação de valor com a cadeia de transformação local, vocação para produzir insumos, energia limpa, compromisso com o mercado e pragmatismo na bem sucedida implantação da economia circular. Além da alta eficiência operacional, uma completa análise de risco desses investimentos se estende agora pela responsabilidade das matérias-primas, produtos transformados e sua distribuição. Dessa forma, esperem pela ampliação das plantas e polos existentes, inclusive nos EUA, e surgimento de unidades menores em polos integrados com a produção de bens transformados, um modelo mitigador de riscos já existente em países árabes e europeus. E nossa América do Sul? Só o tempo dirá.


 

Ricardo Levy
Vice presidente global para distribuição de plásticos da Vinmar

Os novos projetos petroquímicos continuarão a seguir geografias com base em matérias-primas e energia competitivas. Os destinos óbvios permanecem a América do Norte e Oriente Médio. Fatores como a regulamentação ambiental serão sempre relevantes na seleção do local dessas plantas e, nesse ponto, percebo nos EUA aumento dos processos judiciais contestando alguns projetos. Em contrapartida, a indústria petroquímica se organizou para buscar soluções para certos tópicos rejeitados anos a fio, como ilustra o ótimo trabalho da Aliança pelo fim do lixo plástico (Alliance to end plastics waste), da qual aliás a Vinmar, minha empresa, participa. Outra conduta vital do setor: ressaltar o uso correto dos plásticos em prol de um futuro circular. Em linha com este foco, a Vinmar tem investido na reciclagem mecânica e enfatizado a oferta de soluções sustentáveis como filmes monomaterial multicamada e o plásticos reciclados e compostáveis.


 

Amarildo Bazan
CEO da consultoria A Bazan

Colocado em segundo plano por economias robustas como a dos EUA, o setor petroquímico se vê forçado a buscar novos portos dotados de matéria-prima, certa estabilidade política e nível razoável de segurança para atender a demanda mundial por seus produtos e que cresce à média de 5-5,5% ao ano. Frente ao cenário adverso para esses investimentos, por conta do ativismo ambiental, precisamos olhar com mais atenção para a África, em particular Nigéria e Egito. O primeiro país, apesar de entraves políticos, possui a maior reserva africana de petróleo e gás e localização favorável à exportação competitiva para vários continentes. Diante da crise energética na União Europeia, vale lembrar que as reservas de gás nigerianas totalizam 167 trilhões de m³. Já o Egito comparece entre as alternativas pela sua indústria mais pujante e proximidade da Europa. É fato que a África marca pela diversidade cultural e conflitos e dificuldades políticas e um histórico de corrupção. Mas tratam-se de desafios administráveis para petroquímicas poderem desfrutar sua abundância de matérias-primas.


 

Paulo Francisco da Silva
CEO da consultoria especializada Agora Vai Brasil

A pergunta dessa sondagem é extremamente pertinente e de complexidade ímpar no dito ‘novo normal’, EUA com empecilhos jurídicos e oposição ambiental a novos projetos petroquímicos perante saturação mundial de poliolefinas. Para onde levar essas plantas repudiadas?
A Europa está em momento crítico de falta de energia, gás e petróleo. Por extensão, seus custos de produção explodem, sua estabilidade política e econômica foi varrida por Putin e a recessão ganha corpo. A seu favor constam o frete marítimo em boa parte seguro em boa parte e o forte apoio à sustentabilidade. Já a China, mal das contas públicas, prejudica a Ásia com a propagação da covid e a hostilidade a Taiwan. Vale o mesmo para a insegurança no continente causada pela reivindicação do mar do Sul da China pelo governo de Pequim. Por seu turno, as rixas entre as duas Coreias instabilizam o leste asiático e seu modal marítimo.
A saída desse enrosco seria transferir projetos petroquímicos dos EUA para países do Oriente Médio com política estabilizada e à margem de tensões religiosas, petróleo e matérias-primas baratíssimas, disponibilidade de área, energia, mão de obra e incentivos fiscais e financeiros. Aprovam a sustentabilidade, se não afetar os negócios. Ponto bem delicado: a segurança do frete marítimo no patrulhado chifre da África, contornando a Somália, e no estreito de Ormuz, de fechamento possível pelo Irã em caso de conflito. O trânsito pelo canal de Suez é bem mais policiado. Qualquer investimento em petroquímica precisa pesar variáveis desse naipe, assim como as regulamentações sobre reciclados vigentes nas principais regiões. O mundo muda rápido e a experiência econômica dos últimos dois anos tornou a globalização muito questionada.


 

Marcos Curti
CEO da MCurti Consultoria & Negócios

Antes de um ciclo de investimento é esperado um ciclo de reestruturação para adequação à nova realidade global. O romantismo do mundo livre e aberto, no qual o capital flui sem barreiras e quanto maior o comércio entre os países melhor para o ‘todo’ parece estar ficando no passado. As várias ‘dores’ vividas entre 2020 e 2022 demorarão a ser superadas mas seus ensinamentos ficarão – ao menos por um tempo. É de se esperar ajustes na Europa, para fazer frente ao cenário de energia escassa e cara, sem contar suas novas inimizades (Putin), a China com seus dilemas territoriais criando sensação de futuro incerto e questões ambientais impulsionando a realocação industrial local. Passada esta acomodação dolorosa, alguns caminhos parecem mais prováveis para a decisão de localidades de futuros projetos petroquímicos. Um deles tem a América do Norte como produtor competitivo e que irá achar um ajuste para melhorar a sua relação com a sociedade e meio ambiente. Ao longo dos anos este embate se mostrou saudável ao forçar importantes adequações no comportamento da indústria e assim continuará. Mais pressão, maior esforço por melhorias e soluções inteligentes e inovadoras.A energia está lá, o mercado se mantém vigoroso e a liberdade econômica permanecerá o vértice da gestão do setor petroquímico. Por sua vez, a China ficará mais conservadora e focada na sua gestão interna de investimentos. Mas novas capacidades surgirão com foco em ajustar a oferta local à demanda, buscando impedir a dependência de importações. Boa parte da população chinesa não conheceu este ciclo de baixo crescimento e isso começa a criar desconforto quanto ao futuro. Assim, o consumo pode enfraquecer com o menor apetite por gastos desnecessários ou até pela redução do poder aquisitivo. Por fim, o Oriente Médio continuará a visualizar na integração da cadeia uma boa forma de balancear a geração de riqueza dos hidrocarbonetos. O forte aumento dos preços do petróleo ampliou a geração de caixa desses países que se confundem com suas estatais, capitalizando assim possíveis investimentos para exportação. Em conclusão, a maior regionalização aparenta pautar a rota do próximo ciclo na petroquímica mundial, mesmo considerando o aumento de proteções territoriais.


 

Paul Hodges
CEO da consultoria New Normal e analista blogueiro do portal Icis

O mercado mundial de plásticos de uso único está encurralado por um movimento que irá mudar dramaticamente seu modelo de negócio. Do lado das matérias-primas petroquímicas, a invasão da Ucrânia pela Rússia criou a crença consensual de que nunca mais deveremos ser submetidos como objetos de resgate em mercados de energia. Até mesmo a Agência Internacional de Energia reconhece essa regra e, em paralelo, o explosivo crescimento em curso nas vendas de carros elétricos já está levando ao fechamento de refinarias de petróleo e, por tabela, ativando a necessidade de encontrar uma nova matéria-prima substituta da nafta. Do lado dos usuários, os consumidores deixaram caro por anos o desejo de que brand owners e varejistas parem de usar plásticos de uso único.
A recente Conferência dos Oceanos, promovida em Lisboa pela ONU, confirmou a intenção de governos de legislarem nessa área e, entre eles, o da União Europeia toca adiante sua diretiva relativa a embalagens e seus refugos. Embalagens descartáveis mobilizam dois terços do consumo global de PE e 25% no caso de PP. Portanto, o desenvolvimento de soluções sustentáveis de acondicionamento gera uma oportunidade única para implementar um novo modelo de negócios baseado na resina reciclada. Trata-se de recurso hiper valioso e não deve ser despejado em lixão ou incinerado. Operações bem estabelecidas de reciclagem colocarão a indústria plástica em linha com o futuro mais sustentável, com base no conceito do carbono renovável.
De volta ao cerne da pergunta dessa sondagem, sobre os locais mais atraentes para receber investimentos petroquímicos hoje rejeitados na Justiça dos EUA por ambientalistas: diante do cenário exposto acima, acho que são os países que fazem suas leis e, nessa trilha, a Rússia continuará a agir como quiser. Já o Oriente Médio está diferente, pois anda aplicando dividendos com combustível fóssil em negócios de vanguarda, caso da Arábia Saudita investindo na zona econômica transnacional NEOM, na fronteira com Jordânia e Egito, um centro de negócios movido a energia eólica e solar. No mais, O Oriente Médio continua muito dependente dos mercados chinês e europeu para suas vendas de polímeros, embora reconheça que será impactado pelas mudanças de paradigmas que já detalhei.


 

Alfredo Schmitt
Diretor da FFS Filmes

Em sendo verdadeira a afirmação da pergunta, de que projetos petroquímicos caminham para serem rejeitados nas América do Norte, o Brasil e outros países da América Latina não têm custos competitivos para se candidatarem a abrigar esses empreendimentos renegados pelo ativismo ambiental. A Europa também está fora deste jogo. Restam, portanto, regiões como Oriente Médio e Norte da África. A questão da maturidade política como fator a se considerar na decisão de investimentos como petroquímicos é de difícil avaliação por tudo que temos visto. À parte dessas elucubrações, o Egito, por exemplo, tem facilidades para receber gás de modo competitivo e conta com um atrativo importante: a sua localização, com acessos fáceis tanto para o Oriente quanto para o Ocidente.


 

Jorge Bühler-Vidal
Diretor da Polyolefins Consulting

Justo neste momento estão em progresso vários projetos de poliolefinas nos EUA e Canadá, integrantes do mesmo mercado. A Dow, por exemplo, desenvolve a implantação de um complexo de 1.650-1.800 milhão de t/a de PE em Fort Saskatchewan, no estado canadense de Alberta e com partida agendada para 2027-2029. Por sua vez, Chevron Phillips e Qatar Petroleum anunciam para 2026 o investimento da ordem de 2 milhões de t/a de PE no Golfo do México. A Formosa Plastics desejar construir um complexo de PEAD, PEBFL e PP orçado em cerca de US$ 9,4 bilhões no município de St. James Parish, no estado norte-americano da Louisiana. Obteve permissão dos órgãos ambientais logo revogada na Justiça, por justificativas como o relacionamento ruim com as comunidades e histórico de contaminação do meio ambiente em suas plantas de poliolefinas na ativa no Texas e na Louisiana. Não creio que este projeto de St. James Parish vá adiante. Por fim, a LyondellBasell mantém um estudo preliminar para expandir sua capacidade de PP e PEAD nos EUA e a PTTG Americas avalia há anos e ainda não está convencida do mérito da construção de um complexo de 1.500 milhão de t/a de PEAD e PEBDL em Dilles Bottom, Ohio. Acho que o projeto não sai do papel. De todo o modo, os investimentos confirmados provam que EUA e Canadá contam com grande disponibilidade de gás natural acessível, viabilizando a construção local de fábricas competitivas de escala mundial, equipadas com avançadas tecnologias de cunho ambiental e operadas por empresas responsáveis quanto ao desenvolvimento sustentável e cuidadosas em conviver em harmonia com a população vizinha dessas futuras plantas.

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