De imprevistos esporádicos, os reveses climáticos aumentaram a frequência nas últimas décadas a ponto de terem virado ativo fixo na composição das projeções sobre a produção nacional de grãos, mercado do coração da sacaria de ráfia de polipropileno (PP). No entanto, as estrepolias do tempo não embaçaram o histórico do crescimento da colheita de grãos, mérito atribuído no ramo à continuidade dos investimentos em tecnologia no campo. Uma prova dos nove se insinua no saldo aguardado para a safra de grãos 2020/2021. Atípicas ondas de frio e uma estiagem de cauda longa com efeito dominó na carência de água para irrigação e energia elétrica, agravantes aliadas a aumentos (via dólar, energia, combustíveis) nos custos agrícolas com repique no encarecimento de alimentos para um consumidor empobrecido, convenceram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a rever para baixo em agosto, após dois anos de recordes, a previsão para a produção de grãos. A estimativa original de 260,8 milhões de toneladas para a safra 2020/2021 retrocedeu para 254 milhões, de leve atrás das 257 milhões de toneladas da colheita 2019/2020.
A mão pesada das intempéries ainda não aguou o viés de alta das expectativas para o reduto de sementes e grãos traçadas pela Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Poliolefínicas (Afipol). Pela lupa da entidade, a demanda no primeiro semestre por sacos e big bags de ráfia para o ninho dos grãos (inclusos farinha e farelos, sementes, grãos e outros nichos) atingiu 14.710 toneladas contra 14.434 na primeira metade de 2020.
Eli Kattan, presidente da Afipol e dirigente da Zaraplast, estrela guia da sacaria costurada no país, informa que os filiados da entidade, responsáveis pela fatia do leão da produção brasileira de ráfia, comercializaram no primeiro semestre 55 milhões de sacos e 812.000 de big bags para o segmento de grãos, inclusos farelos, farinha e sementes. No mesmo período, segue o dirigente, o volume de vendas aferido pela entidade para todos os mercados de ráfia atingiu 63.700 toneladas, resultado 40% acima do volume constatado na primeira metade de 2020. “Boa parte do movimento de janeiro a junho decorre de clientes que aumentaram os estoques em função da falta de sacaria ocorrida sob as restrições sanitárias impostas no ano passado pela propagação da pandemia”.
De ano e meio para cá, a participação da plasticultura nos segmentos atendidos pela componedora Termocolor subiu do patamar de 8% para 14%, comemora o diretor comercial Wagner Catrasta. Em ráfia, ele distingue a penetração de seu composto de PP com carga e que, ofertado nas versões branco e natural, atua como agente antifibrilante. Outros hits do cardápio da empresa para os sacos costurados, ele ressalta, incluem masters marrom, para embalamento de açúcar em ráfia; vermelho, para cebola e amarelo para limão. No tocante a filmes para cultivo protegido, Catrasta empunha seus concentrados contendo aditivo anti UV, proteção garantida por até seis anos e masterbatches coloridos com antioxidantes. “Atuam de forma a prolongar a vida útil da película, auxiliando no crescimento do plantio e controle de pragas”, esclarece o diretor, salientando como novidade o acréscimo em concentrados para agrofilmes de teor de um princípio ativo que opera como antibactericida e antiviral.
No balanço de 2020, assinala Kattan, a relação entre faturamento e volume de vendas de sacos e big bags pelos membros da Afipol acusa alta de 6,4% sobre 2019. “Nos primeiros seis meses deste ano, essa relação saltou 42% perante a média do mesmo semestre em 2020 porque os clientes compraram a mais temorosos com a insuficiência de embalagem que ocorria naquele momento”.
Para acertar o passo com a exuberância dos mercados âncoras de ráfia, caso de açúcar, ração, farinha/farelo e fertilizantes, responsáveis por mais de 70% da produção da embalagem costurada, Kattan calcula que, desde 2019, a capacidade instalada dos sócios da Afipol ampliou 31% na extrusão e 18,3% na extrusão da fibra de PP. Em junho deste ano, situa o dirigente, a capacidade instalada de extrusão foi fixada em 13.657 t/mês e a de tecelagem em 1.601 t/mês. “De janeiro a junho último, o setor rodou com ocupação de 78% na extrusão e 73% na tecelagem”, ele especifica. “A tendência é de manutenção dos mesmos patamares neste último semestre, pois o mercado veio forte no início do ano, mas não deve aumentar em função da queda causada pela estiagem em alguns segmentos da agricultura”, justifica Kattan.
A busca de produtividade para o cultivo protegido pavimenta a entrada em campo de novas soluções da LyondellBasell. “O grade Polybatch® NIR 4261 convém para o interior do mulching e estufas pelo efeito antitérmico ao reduzir a incidência de luz infravermelha”, aponta Roberto Castilho, diretor comercial para o mercado sul-americano de masterbatches e resinas e pós especiais. “Com boas propriedades ópticas, esse concentrado diminui o stress da planta pelo controle térmico e limita a evaporação de água no plantio”. As inovações para o desempenho de agrofilmes arrasar se estendem ao auxiliar de fluxo com alta resistência térmica AMF 709 e o concentrado Polybatch® AC 20230. “Baixa o risco de queima dos vegetais por raios UV, com absorção de luz entre 280 e 350 nm, e reduz as atividades de alguns insetos e esporulação de fungos ao integrar, permitindo inclusive a atividade das abelhas”. No plano geral, Castilho indica seus masters brancos base polietileno e de alto teor de dióxido de titânio como seus campeões de venda para uso em filmes de estufa, mulching, silo fardo e ráfia. Entre seus masters de aditivos superstars em estufas, ele cita o tipo de alta termicidade e média difusão de luz Polibatch® IR 1515. “Contribui para estabilizar a temperatura no interior do viveiro, sendo recomendado para o cultivo em áreas de alta radiação diurna e baixa temperatura noturna”.
Divisão consolidada
Maior mercado para o ensaque com ráfia, fertilizantes acusaram no primeiro semestre uma demanda por sacos e big bags captada pela Afipol em 22.666 toneladas, volume 61% superior ao saldo do mesmo período em 2020. No consenso das calculadoras setoriais, o Brasil deve consumir este ano ao redor de 35,7 milhões de toneladas de fertilizantes importados e 6,8 milhões de nacionais. “O consumo brasileiro é repartido entre fertilizantes fosfatados e cloretos, com respectivas participações de 29%; nitrogenados, com 28% e os 14% restantes são de tipos diversos”, expõe Marco Valério Antunes, consultor para agroempresas no segmento de fertilizantes. “À parte a fatia do consumo que roda em granel, sem embalagens, o ensaque em ráfia mobiliza 60% do volume embalado, dominado por fosfatados e cloretos e, como solução técnica mais adequada para preservar as características agronômicas, a sacaria lisa de polietileno (PE) pega a parcela complementar, ditada por fertilizantes como nitrogenados”.
Em razão de peculiaridades da higroscopicidade e tipo de manejo dado no campo a fertilizantes, Antunes considera difícil a possibilidade de mudança na distribuição entre ráfia e PE no embalagem do insumo, “exceto se a proporção de consumo dos tipos nitrogenados crescer”, ele condiciona.
Chave inglesa em dióxido de titânio, a Venator aduba sua presença na plasticultura com grades vip do pigmento branco para uso no cultivo protegido e ráfia. O cientista sênior John Robb ilustra este posicionamento acenando para masters de PE com o material TIOXIDE® TR28, diferenciado pela proteção anti UV prezada para filmes de estufas. A mesma proteção, emenda o especialista, é argumento de venda para o emprego do tipo TIOXIDE® TR42, de maior grau de brancura, em concentrados para big bags e sacos costurados. No plano das inovações, Robb conta que o mercado de ráfia também é assediado pela Venator com o pigmento ALTIRIS® 800. “Nas cores formuladas com ele, a reflectância aprimorada no infravermelho próximo (NIR) pode reduzir as temperaturas internas na sacaria estocada sob o sol”. ALTIRIS® 800 também é recomendado pelo cientista para masters desenhados para filmes coex de estufa porque sua formulação proporciona proteção anti UV, transparência para luz visível, bloqueio da radiação solar do infravermelho próximo, termicidade, limitação de temperaturas extremas, moderação dos ciclos de umidade e difusão de luz.
Consumo empinado
PP tem firma reconhecida como polímero multimercado, presente em bens de consumo e duráveis, mas ráfia tem cadeira numerada na tribuna de honra da demanda nacional da resina. “A capacidade brasileira de ráfia ronda as 205.000 t/a e investimentos em sua ampliação estão previstos para 2022, muito motivados pela substituição de artigos semi acabados importados”, adianta Ana Paiva, coordenadora de desenvolvimento de mercado agro da Braskem, produtora local de PP.
Pela marcação da Braskem, a pujança do agronegócio fez o consumo interno de ráfia empinar 15% em 2020. Entre os pontos altos desse desempenho, Ana distingue a expansão aproximada de 80% no ensacamento de açúcar; de 50% no tocante a sementes e grãos e avanço ao redor de 11% no volume embalado de fertilizantes. “O mercado brasileiro de ráfia segue aquecido este ano, a ponto de projetarmos expansão acima de 10%, ela sublinha.
Para arredondar sua conexão com o ímpeto da demanda, a Braskem baixa em ráfia com um esquadrão completo de grades com aditivação anti UV e para extrusão das fitas e recobrimento por extrusão da embalagem. Ana ressalta, em particular, os ganhos de produtividade, economia energética e redução da gramatura do tecido acenados respectivamente para sacos e big bags pelos homopolímeros Maxio® PG 480 e P35 L. A título de referência, big bags nacionais para fertilizantes pesam entre 155 e 190 g/m². “Para sacarias soldadas, a pedida é o copolímero random RP 144, de temperatura de selagem inferior dos homopolímeros”, recomenda a executiva. “Trata-se de um grade de excelente soldagem e destinado ao processo de recobrimento por extrusão desse tipo de saco”.
Reciclado em alta
Sinônimo de extrusoras, bobinadeiras e teares circulares para ráfia, a Starlinger do Brasil é um termômetro da disposição de investir dessa indústria. “Apenas no tocante a extrusoras, nossas vendas aumentaram cerca de 50% em 2020 e o avanço deve ser ainda maior este ano”, festeja o diretor Tobias Jungblut. Além das facilidades de TI e soluções para baixar a gramatura do tecido, ele conta que os clientes têm focado na escolha de equipamentos a possibilidade da extrusão de PP reciclado sem prejuízo para a qualidade final da embalagem. “Os principais ganhos com essa conduta são a economia com a resina e interação com a economia circular”.
Jungblut elege como seu carro-chefe em extrusoras o modelo starEX 1600ES-TD. “Sua capacidade chega a até 720 kg/h de PP com destaque para a qualidade final de fita”, ele justifica. No mostruário dos teares, ele ressalta a procura do modelo FX 10.0 para tecido de big bag. “Conta com 10 lançadeiras com freios eletrônicos e capacidade para rodar na faixa de 800 inserções/min proporcionando um tecido de visual impecável e mínima variação de largura”, conclui o diretor.