Está na cara

Por que o corona não verga o pique das chapas acrílicas

Cálculos de primeira hora indicam que, apesar dos baques e piripaques, a covid-19 não impediu que as vendas brasileiras de chapas acrílicas superassem enfim a faixa das 9.000 toneladas no ano passado, atesta William Oliveira, superintendente da paulista Castcril, autointitulada maior transformadora no gênero da América Latina. Nas entrelinhas dessa expansão, continua o cabo de guerra, mesmo com o dólar nas nuvens, entre chapas nacionais e asiáticas. E no mapa de vendas dos acrílicos, as barreiras de proteção ganham relevância inédita, como alternativa eficaz para brecar o risco de contaminação, assinala Oliveira. Nesta entrevista, ele justifica sua convicção de que a vacina vai injetar sangue novo no setor este ano, pois a flexibilização do distanciamento social faz chover na horta da comunicação visual, o eldorado das chapas acrílicas.

Qual a capacidade instalada e o consumo nacional de chapas acrílicas em 2020 versus 2019 e o que prevê para este ano?
A capacidade nacional é de 22.000 t/a, a cargo de 18 produtoras. Em 2019, o consumo atingiu 9.500 toneladas e a projeção para 2020 é de 10.500, um aumento de 11%. No entanto, as importações de chapas acrílicas permanecem elevadas, devendo ter mobilizado cerca de 5.000 toneladas no ano passado, volume correspondente a 53% do consumo interno. Desse modo, constata-se que as plantas no Brasil rodaram em 2020 com ocupação de apenas 22%, um índice fora dos padrões adequados de viabilidade econômica. Ele evidencia uma relação direta com o nível de competitividade das indústrias brasileiras perante as asiáticas, o que faz com que a importação da chapa acrílica, uma vez pagos os impostos, custe menos que a similar nacional. Apesar da barreira cambial às importações devolver certa competitividade às indústrias locais, estamos longe da condição ideal de disputa. Quanto à expectativa para este ano, é difícil uma previsão assertiva, pois dependemos muito da vacinação para tentar voltar ao normal. Estimo então um aumento de 10% no volume de vendas devido ao retorno do principal campo de acrílico no país, o setor de comunicação visual, somado ao desempenho de um mercado menor, o das chapas utilizadas em barreiras de proteção.

Quais as principais aplicações de acrílicos impulsionadas pela busca de higienização e desinfecção?
As barreiras transparentes de proteção têm sido utilizadas em ambientes corporativos, restaurantes, farmácias, supermercados, veículos de transporte individual e coletivos, teatros, etc. Elas limitam a propagação do corona, mantendo o ambiente aberto.

Como reparte os mercados de chapas em 2019 e quais as mudanças nessa divisão em 2020, devido ao corona?
Em 2019 cerca de 70% do consumo brasileiro foi para comunicação visual, 10% para móveis e 20% para diversas aplicações, como brindes, troféus, iluminação, proteção de equipamentos, coberturas, etc. A diferença para 2020 foi a redução da fatia da comunicação visual e o importante direcionamento para barreiras de proteção, atingindo em torno de 45% do consumo total dessas chapas.

Castcril produz chapas grossas, especiais, orgânicas, ônix, peroladas, ecológicas, antirreflexo e do tipo lisa normal e de superfície plana. Quais os modelos mais procurados no último período?
No período mais intenso da pandemia no ano passado, a procura por chapas cristais lisas para barreiras de proteção foi enorme. Com a flexibilização das regras de isolamento e a melhora da economia, a indústria do setor, que havia recuado 13% no segundo trimestre, apresentou recuperação geral de 15% no trimestre seguinte. Nessa retomada destacaram-se as chapas coloridas para comunicação interna em lojas de varejo.

Acrílicos têm espaço em face shields, aplicação em alta na pandemia e também disputada por copoliéster, policarbonato e poliestireno. Quais os seus diferenciais perante essas alternativas?
Tem havido mesmo uma demanda expressiva de acrílicos para face shields, mas sua principal aplicação no combate ao vírus foi para barreiras de proteção. O acrílico supera os plásticos concorrentes pela transparência e resistência. Suas chapas podem ser curvas, dobradas, retroiluminadas, grossas ou finas.

Castcril produz suas chapas ecológicas (Green Cast) a partir da reciclagem de aparas industriais nacionais e importadas. Quais as principais aplicações e como avalia o impacto do dólar na lua sobre a competitividade em preços dessas chapas?
A principal aplicação das chapas GreenCast tem sido as barreiras de proteção contra a covid-19. No momento, o dólar caro limita fortemente a importação de aparas e o custo do produto. Afinal, as matérias-primas do setor plástico são cotadas em dólar, uma situação que, muitas vezes, leva à substituição dessas chapas por produtos de qualidade inferior e mais acessíveis.

Quais os diferenciais das suas chapas de aparas recicladas frente à concorrência e como situa as propriedades delas frente às chapas de acrílicos virgens?
Uma vantagem das chapas GreenCast é o baixo nível de amarelecimento, impurezas e odores. Seu alto padrão decorre da sua composição com acrílico de “primeira passada”, ou seja, aparas não recicladas anteriormente. Vale destacar que a matéria-prima importada tem melhor aproveitamento que a nacional por se tratar de aparas bem selecionadas. É uma questão cultural, pois em geral as empresas nacionais não têm o hábito de separar materiais para reciclagem; misturam qualquer tipo de produto e dificultam assim o trabalho de separação e limpeza. As características da linha GreenCast estão próximas das chapas virgens e pretendemos igualar sua qualidade ainda este ano.

Qual a capacidade instalada para chapas da Castcril e quais as metas para a operação em 2021?
Nossa capacidade atual é de 4.200 t/a. Nos últimos cinco anos, ampliamos a produtividade em 89,5%. O objetivo para 2021 é ampliar a automação do processo. •

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