Um dos grandes vilões da reciclagem mecânica de polímeros é a mistura de materiais, consequência de uma separação ineficaz provida pela coleta seletiva quase inexistente aliada à desinformação técnica do grosso de recicladores de porte menor. Resultado habitual: resinas recicladas de qualidade tão baixa quanto seu valor agregado. A saída desse atoleiro depende do embarque de grandes empresas de bens de consumo na economia circular, sob pressão da sociedade, demandando cada vez mais reciclados de primeira classe para suas embalagens. “Começamos a sentir esse movimento, embora ainda tímido, através do interesse de recicladores por nossas soluções para melhorar o padrão de termoplásticos recuperados, como agentes compatibilizantes e de restauração de propriedades”, atestam Silmara Neves e Carla Fonseca, sócias executivas da IQX, fabricante de materiais auxiliares diferenciados. Como prova da mudança em andamento, elas elegem como seu carro-chefe o agente compatibilizante UNI BEti. “As vendas recentes refletem a procura mais intensa por polietileno de alta densidade (PEAD) reciclado para frascos”, distinguem as duas dirigentes pós-graduadas em Química.
A milhagem de voo acadêmica na área de materiais foi a ponte para Silmara e Carla se lançarem no empreendedorismo. O pontapé inicial foi dado em 2011, quando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aprovou o projeto delas para produção piloto de aditivos condutivos baseados em polímeros condutores. A experiência convergiu para a constituição da IQX em Valinhos, interior paulista, e preparou as duas empreendedoras para a industrialização do material desenvolvido e, desde 2015, suas vendas a usuários como a cadeia plástica. “Desenvolvemos mais de 30 aditivos desde a fundação da empresa”, contabilizam Silmara e Carla. Sem abrir o faturamento em 2019, elas o repartem entre 37% para serviços de P&D para empresas parceiras; 3% para agentes de recuperação sem pressão de resíduos de borracha; 2% para aditivos antiestáticos; 22% para tipos condutivos e 37% para auxiliares que uniformizam e melhoram as propriedades mecânicas de polímeros incompatíveis entre si. “Como foram lançados no segundo semestre de 2019 e ainda estão em fase de apresentação ao mercado”, elas argumentam, “a expectativa é de um aumento significativo nas vendas de antiestáticos e compatibilizantes este ano”.
Mão na roda para a complexa reciclagem de flexíveis laminados pós-consumo, os aditivos compatibilizantes comparecem em duas frentes no portfólio da IQX. Na série Unifix, distinguem Carla e Silmara, os agentes focam a conciliação de sistemas bicomponentes, nos quais um dos polímeros predomine em quantidade e o segundo atue como contaminante. Elas exemplificam com estruturas como polietileno/poliamida (PA); PEAD/ polipropileno (PP) ou filme biorientado de PP (BOPP)/PEAD. “O mostruário contém aditivos que consideram a customização do veículo polimérico, de modo que não contaminem o sistema”, assinalam as dirigentes, enfatizando ainda como diferenciais da IQX o suporte técnico pré e pós-venda e os prazos curtos de entrega. Por seu turno, elas prosseguem, os compatibilizantes da linha Flex viabilizam a reciclagem de embalagens multicamada integradas por resinas de barreira, a exemplo de PA e copolímero de eteno e álcool vinílico (EVOH) combinados com PE. “Durante a reciclagem mecânica, a mistura desses materiais expostos a temperaturas elevadas resulta na emanação de mau cheiro, um problema que pode ser minimizado e até eliminado em determinados casos mediante a aplicação conjunta do compatibilizante Flex com nosso aditivo Raptor”, completam Silmara e Carla. •