Entre a sede e o esforço

Com cerca de um ano de atraso em relação ao cronograma original, a PetroquímicaSuape colocou, no início de agosto, meio corpo para dentro do octógono de PET grau garrafa no Brasil. Fez isso ao partir a primeira das duas linhas de 225.000 t/a que perfazem sua capacidade instalada do poliéster para embalagens em Pernambuco. O significado dessa entrada em campo vai bem além do raio de ação industrial, pois ela traz à tona um papel que a Petrobras, na condição de controladora da empresa, rarissimamente desempenhou: o de única acionista e operadora de uma fábrica de termoplástico. Ademais, transparece da unidade um comportamento de sinais contrapostos da estatal perante a segunda geração petroquímica. De um lado, ela deixa claro querer desfazer-se do mais integrado e rentável complexo de estireno e poliestireno no país, a indústria gaúcha Innova, alegando tratar-se de ativo não estratégico. Do outro, a Petrobras desponta como produtora de PET, um reduto notório pela penúria de lucro, concentrando assim, junto com a rival M&G, a formulação nacional dessa resina na costa pernambucana.
A nova capacidade de 450.000 t/a também merece leitura dos pontos de vista global e regional. Quanto ao primeiro, chama a atenção o fato de a Petrobras debutar em PET após a debandada internacional dos licenciadores originais da tecnologia do poliéster, descontentes com o excedente na oferta e consequente lucratividade a pique do negócio. Seu posto foi assumido por agressivos produtores  sequiosos por escalas e o status de formadores mundiais de preços. A referência no ramo é a a tailandesa Indorama, reverenciada nº1 em PET e verticalizada até o talo. Sua capacidade global do intermediário ácido tereftálico purificado (PTA) foi fixada, ao final de 2013, em 1.6 milhão de t/a e a de PET, em 3.750 milhões de t/a e pulverizada entre 20 plantas em 12 países, inclusa a unidade de 478.000 t/a da resina no México.
Para engrossar o caldo, estudo da consultoria norte-americana IHS assina que uma planta de PET de escala competitiva, da ordem de 500.000 t/a, custa menos de US$200 milhões. “Em termos de capital, as barreiras de entrada permanecem baixas e, assim, o mercado global continuará a presenciar  a montagem excessiva de capacidades em PET apesar das margens pobres ao extremo do negócio”, atesta o relatório.
A margem de manobra da PetroquímicaSuape é regional, dada sua óbvia limitação de escala. “Para quem está localizado no Brasil, o mercado externo natural é a costa sul-americana do Atlântico, em especial os países integrantes do Mercosul”, descortina Flávio Ferreira da Silva, assessor da Superintendência para Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da empresa. “A região tem condições, por si, de absorver toda a sua produção interna de PET; entretanto, já temos negociações com clientes da América Central e do Norte”. Análise da IHS sustenta que, apesar da entrada da PetroquímicaSuape, a América do Sul segue dependente de importações complementares do poliéster.
Ferreira salienta que, “quando se considera a América do Sul como um mercado factível, percebe-se que  as capacidades de PET na região são inferiores à demanda, não havendo excedente, portanto”. Na ponta do lápis, a base sul americana de PET hoje enfileira a planta argentina de 185.000 t/a da DAK e, em Suape, a instalação de 550.000 t/a da M&G e, por ora operando a meia força, a fábrica de 450.000 t/a da controlada da Petrobras. Dois anos atrás, a consultoria PCI projetou a demanda sul-americana do poliéster para embalagens em 1.469 milhão de t/a, volume equiparável a salto de 8,3% sobre o aferido em 2011. Ainda em 2012, a própria PetroquímicaSuape previa o mercado brasileiro de PET na faixa de 720.000 toneladas para este ano e subindo para 840.000 em 2016.
Mais de uma década após a M&G ter desligado, em Paulínia (SP), a única fábrica brasileira de PTA, o intermediário ressuscita no país pelas mãos da Petroquímica Suape. Monoetilenoglicol (MEG), o outro ingrediente-chave de PET, é fornecido aqui pela Oxiteno. Conforme alardeado na mídia, a capacidade de 700.000 t/a de PTA (alimentada com importações de paraxileno) da PetroquímicaSuape proverá 600.000 para consumo cativo, quando seu complexo de PET grau garrafa e grau têxtil (240.000 t/a) estiver operando com força total. Enquanto isso não acontece, a PetroquímicaSuape, segundo já se confirmou de público, supre de PTA a M&G, sua rival no país em PET. Procurada por Plásticos em Revista, a M&G não quis detalhar se a concorrente a abastece total ou parcialmente de PTA nem as condições desse acordo.  “O Complexo PetroquímicaSuape considera a venda de todo o seu portfólio para o mercado, incluso PTA, de forma competitiva”, sumariza Ferreira.
Ele também se esquiva de esclarecer a respeito da disposição da empresa de pleitear, junto ao governo, revisão da alíquota de importação de PTA, pois o intermediário voltou a ter produção doméstica. “Alterações de alíquotas são sempre questões complexas”, pondera Ferreira. “A PetroquímicaSuape atua com as condições vigentes no mercado, buscando ser competitiva e criar valor para seus clientes”. A área de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), informa que “a alíquota do imposto de importação aplicada às compras externas brasileiras de PTA é de 12% em operações com mercadorias originárias de países com os quais o Brasil não possui acordos comerciais. Excetuadas as preferências comerciais aplicadas em operações com países do Mercosul e com aqueles signatários (N.R.- Bolívia, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, México, Argentina, Paraguai e Uruguai)  dos Acordos de Complementação Econômica (ACEs), não existe qualquer medida de redução tarifária temporária vigente para PTA.”
Ferreira justifica a entrada em duas fases da produção de PET de sua empresa com a tramitação de um processo em indústrias finais. “O principal uso de PET é o setor de embalagens de alimentos, o qual exige uma série de certificações dependentes de análises que levam tempo”, ele argumenta. “Enquanto não saem essas homologações, o mercado para onde é possível a empresa vender PET é restrito a ponto de levar à decisão de postergar a partida da segunda linha de 225.000 t/a”.
Ferreira situa em quatro grades o mix inicial da fábrica de PET. “Dois deles já são produzidos no país e destinam-se aos mercados de bebidas carbonatadas e não carbonatadas”, ele expõe. Quanto aos dois tipos restantes, ele assegura serem especiais e sem produção nacional. “Um deles tem seu principal uso no envase a quente (hot fill)”, especifica Ferreira. “O material busca oferecer alternativa de embalagem para o mercado de chás e sucos, de grande crescimento devido à tendência em voga a favor de produtos voltados ao consumo saudável”. Quanto ao quarto grade do portfólio, seu foco são os recipientes de paredes mais espessas. “É o caso de embalagens retornáveis de grandes volumes, como os garrafões de água mineral”, ele aponta.•

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