À primeira vista, a ideia de abrir hoje em dia uma planta de filmes e moagem/granulação de resinas é uma carta de recomendação para internar o autor, por dar de ombros para a hiper concorrência encarniçada e, não raro, informal. Mas abaixo dessa vala comum ainda há bolsões pouco desbravados e tornados mais atraentes pela economia circular, ensina a investida de Gian Paolo De Filippis ao constituir em Campinas, interior paulista, a indústria WX8 Plásticos.
Gian Paolo não pousou de alegre no ninho do plástico. Desde garoto acumulou milhagem de voo na Wortex, fabricante formadora de opinião em sistemas de reciclagem, periféricos, roscas e cilindros, presidida pelo pai Paolo De Filippis. “Também trabalhei 10 anos no mercado de mão de obra de granulação e moagem, quando os poucos competidores existentes primavam pela gestão indisciplinada que deixava o cliente inseguro, um cenário fácil para uma administração séria sobressair”. Gian Paolo mandou tão bem nessa trilha que vendeu, sete anos atrás, sua unidade de prestação desses dois serviços a um grupo de embalagens flexíveis, retornando a seguir à Wortex. “E por que resolvi há cerca de um ano voltar ao mercado de moagem e granulação?”, ele retoma o fio. “Simples: constatei que, apesar do aumento da concorrência, continua aquela cultura do atendimento a desejar”.
Mas o raio de ação da WX8 não fica no preenchimento desta lacuna. Gian Paolo diferencia o negócio com uma pegada que extrapola os limites convencionais do tratamento do plástico recuperado. “Além da prestação de serviço no filme, granulação e moagem, a proposta inclui abrir aplicações para as aparas geradas pelo cliente, em linha com os princípios da economia circular”. Um exemplo é a parceria firmada com a Valpri Embalagens Flexíveis, transformadora também sediada em Campinas e dedicada à impressão e corte e solda de sacos e sacolas personalizados. Além de terceirizar na WX8 seu suprimento de filmes de poliolefinas virgens, o trabalho conjunto com Gian Paolo põe a Valpri na soleira de um novo mercado. “Estamos desenvolvendo envelopes de segurança com os resíduos gerados na sua linha de produção”. No embalo, ele encaixa outro bem bolado com a transformadora carioca de chapas MMS. “Ela nos manda sua sacaria vazia e refugos de stretch e os devolvemos na forma de um plástico utilizado para embalar as chapas, uma genuína ação de economia circular”, acentua Gian Paolo.
Ele reparte em duas frentes a clientela dos serviços de moagem e granulação. “No âmbito de artefatos rígidos, o mercado utiliza muito a resina somente moída, material de baixo custo”, explica. “Mas isso não funciona em injetados dependentes de maior qualidade e acabamento, pois os polímeros moídos entopem bicos injetores e, devido à falta de filtragem e por queimar na extrusão, e devido também à falta de filtragem, o pó da moagem gera pontos pretos no produto transformado, problema contornado com a granulação do material moído”.
Gian Paolo considera a extrusão de filmes terceirizada uma senhora mão na roda para quem flerta com um novo mercado e ainda não tem pedidos em volume suficiente para justificar o investimento na produção da película. “Também tenho clientes que não dispõem de coextrusoras e cogitam desenvolvimentos nessa área e outros que precisam fazer a manutenção de roscas e cilindros e não podem parar sua produção de filmes, operação assumida provisoriamente pela WX8”, expõe o industrial.
A Wortex assina todo o parque fabril da WX8. “Em relação à granulação e moagem, só não temos a linha de lavagem para fechar o ciclo, pois seu funcionamento depende de uma estação de tratamento e ajustes na infraestrutura, fora do nosso foco por enquanto”, explica Gian Paolo, calculando a capacidade de granulação em 500 t/mês. No compartimento dos filmes, a planta nas proximidades da Wortex roda com três extrusoras blown, acenando com potencial para gerar 300 t/mês de filme mono e 220 de três camadas. No balanço de um ano na ativa, delimita Gian Paolo, a granulação pega 70% da receita da WX8 e filmes respondem pelos 30% restantes. Na condição de apêndice do porftólio, constam sacos de lixo e lonas pretas. “Estão voltados para clientes avessos a se aventurar em projetos mais complexos de economia circular e querem encaixar suas aparas coloridas impressas num produto final mais simples”, ele esclarece.
A propósito, o nome WX8 nada tem a ver com o místico poder multiplicador de riquezas que o empresário Eike Batista enxergava na letra X antes de sua derrocada. “Por muito tempo conciliei a vida de empresário com a de piloto profissional de moto e meu numeral sempre foi 8”, revela Gian Paolo. “Este algarismo também casou com a minha ideia de negócio por remeter a um ciclo interminável, também aplicado à economia circular. Por fim, WX evoca Wortex, a empresa onde aprendi tudo o que faço”. •