Pináculo da tecnologia de recuperação de PET pós-consumo, a reciclagem bottle to bottle (BTB) caminha a passos largos no Brasil, mérito em boa parte da excelência tecnológica cultivada pela recicladora Global PET e endossada por múltis brand owners que abrem cada vez mais suas portas para este poliéster de cunho mais nobre para segundo uso, como Unilever J&J e Ambev. Uma penetração que tende alargar, pelas mãos da economia circular e a recém-concluída expansão da capacidade da Global PET em São Carlos (SP), como aponta nesta entrevista seu acionista e diretor Irineu Bueno.
1Qual a motivação para ampliar de 1.500 para 2.500 t/mês a sua capacidade de reciclagem BTB sob economia travada e bons mercados do reciclado em declínio, em especial refrigerantes?
A reciclagem de garrafas PET convive há anos com muita competição. O Brasil é o país que mais desenvolveu aplicações para uma segunda vida da embalagem, em especial têxteis, lâminas, cerdas, tintas e vernizes, fitas de arquear, termoformados e frascos para cosméticos, produtos de limpeza, higiene pessoal e alimentos. Observa-se ainda um regime tributário ainda em desenvolvimento e penalizador das empresas que buscam trabalhar da forma correta, sem falar em determinados incentivos fiscais estaduais, de frágil justificativa.
Para manter a Global PET financeiramente saudável e apta a sobreviver nesse mercado foi necessário incrementar a tecnologia e a capacidade. Agora, além de aguçar a qualidade do nosso reciclado, obtivemos vantagem de custos perante concorrentes.
2Com esta expansão da Global PET, como fica a capacidade brasileira de reciclagem BTB?
A capacidade instalada hoje em operação subirá de 100.000 para 112.000 t/a, considerando a incidência de ociosidade em alguns concorrentes. O consumo interno deve crescer em 2020, devido à políticas institucionais de múltis alimentícias já em preparo para uma virada sustentável no quesito embalagens plásticas. Antevejo potencial para se atingir cerca de 150.000 toneladas de PET BTB como matéria-prima de frascos no ano que vem. Fatores como preço da resina virgem e oferta de garrafas para a reciclagem serão os principais influenciadores para a concretização ou não desse volume. Com base nesse contexto, a Global PET evoluiu em vendas na seguinte proporção nos últimos cinco anos: 2014/2013, +13,8%; 2015/2014, +18,4%; 2016/2015, +17,2%; 2017/2016, +14%; 2018/2017, +60,8% e projetamos crescimento de 6% em 2019 versus 2018. A taxa caiu a um dígito por causa da parada de 45 dias para troca dos equipamentos, afetando parte das vendas.
Cabe aqui atentar para mudanças em curso na conceituação dos preços. Creio fortemente que o mercado encontrará um equilíbrio entre custos e valor. A pressão que o preço de venda da resina virgem exerce sobre o reciclado está muito menor do que já foi. Mas já há clientes que optam pela alternativa sustentável e, entre às opções de fornecedores do reciclado, eles escolhem o vendedor por preço, qualidade e segurança. Ainda se ouve o discurso de que o reciclado deve custar mais barato, mas é uma cantilena cada vez mais difícil de se sustentar, até porque mesmo múltis de produtos finais já pagam em outros continentes mais caro pelo reciclado do que pelo poliéster petroquímico virgem. Um endosso a este argumento vem das compras de recicladoras no exterior por imensos fabricantes de PET virgem.
3Quais os diferenciais da tecnologia de extrusão que a Global PET adquiriu perante a concorrência no Brasil?
Antes de entrar na resposta, é necessário um retrospecto. Há quatro anos, eu e meu sócio Ari Peronti temos conversado com fabricantes de sistemas de secagem e desumidificação de flakes, extrusão, corte e cristalização do PET reextrudado.
Nesse ínterim, tivemos também apoio do programa de apoio a pequenas empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo qual avaliamos a eficiência de um sistema de secagem inovador, com base na emissão de radiação Infravermelha nos flakes.
Após visitar recicladoras de primeira linha no exterior, decidir criar uma “receita” para transformar flakes em resina PET PCR BTB. Assim, a operação de reciclagem da Global PET agora integra sistema de lavagem com água quente desenvolvido internamente em 2005. Consome apenas 300ml de água por quilo de flake lavado. Após a lavagem e seleção dos flakes por infravermelho próximo, eles passam por sistemas de secagem da alemã Kreyenborg (também com radiação infravermelha) e ingressam nas extrusoras de dupla rosca cônica da austríaca M.A.S., únicas no gênero no Brasil. Permitem a extrusão da resina com baixo cisalhamento, evitando assim degradação no material produzido.
A etapa de extrusão é finalizada com os downstreams da norte-americana Nordson/BKG. A filtragem do polímero evoluiu dos antigos 78 para 58 micra.
Mesmo com o respaldo das aprovações das tecnologias Kreyenborg e M.A.S. para produção de resina BTB para contato com alimentos, nosso sistema produtivo preservará a etapa de pós-condensação. Assegura a homogeneidade de cada lote em relação à cor e viscosidade, além de proporcionar profunda descontaminação de voláteis do reciclado. Desse modo, quem se interessar em mudar da resina virgem pela nossa BTB, vai dispor de um material de melhor visual, uniformidade de cor, menos pontos pretos, homogeneidade entre lotes e viscosidade intrínseca conforme a aplicação em vista. •