Se PET permanece super bem na foto da economia circular, o mérito não é apenas da viabilidade econômica e operacional de sua coleta e reciclagem. Muito desse passaporte verde cabe à evolução da tecnologia de produção das embalagens do poliéster, a exemplo de soluções de leveza dos frascos e da combinação do poliéster com agentes de barreira para garantir o requerido shelf life prolongado. Neste cenário, a canadense Husky, quinta-essência em injetoras e moldes de pré-formas, impera como uma central da inteligência global em PET. Paulo Carmo, gerente da unidade de negócios de embalagens da empresa no Brasil, mostra nesta entrevista o poderio da sustentabilidade e dos novos hábitos de consumo sobre os principais mercados de PET e o aditivo no motor de sua expansão despejado no chão de fábrica pela tecnologia da Husky.
No I Mundo têm sido introduzidas garrafas de água 100% de PET BTB grau alimentício. Qual a possibilidade dessa embalagem aportar por aqui?
O Brasil dispõe de uma estrutura de reciclagem de PET muito bem estabelecida e a capacidade instalada é capaz de atender com folga a demanda atual. Os recicladores mais qualificados possuem certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para utilização em aplicações alimentícias e atendem os requisitos da agência regulatória norte-americana Food and Drugs Administration (FDA). O fato de não se produzirem garrafas com 100% de PET reciclado com grau alimentício se deve, provavelmente, a uma estratégia das indústrias finais de introduzir aqui este conceito de forma gradual.
Quais as etapas do processo pelo qual a Husky oferece pré-formas de 5g para garrafas de 500ml de água? E por que nossas fontes de água ainda não aderiram à pré-forma de 5g para essas embalagens de meio litro?
A garrafa de 5g foi um desenvolvimento conjunto da Husky com a KHS e recebeu o nome de “Fator 100”, pois, com uma embalagem de 5g, acondiciona 500ml (ou 500g) de água. Trata-se de um desenvolvimento específico que demonstra a altíssima eficiência de PET como material para embalagem. Este marco foi obtido através da excelência em todos os níveis do projeto, desde o desenho da pré-forma/garrafa até os processos de injeção, sopro e envase, passando também pela escolha de uma tampa bastante eficiente. A gramatura média das garrafas para este volume de água sem gás no Brasil está entre 11 e 12 g. Mas este peso é resultado de uma decisão que extrapola o segmento de água mineral, tendo em vista mais flexibilidade no uso das pré-formas em diversas realidades de sopro, envase/encapsulamento, desenhos variados de garrafas, disponibilidade de tampas, condições de distribuição etc.
Com preços declinantes no varejo, recessão e um consumo dominado pela baixa renda, qual o espaço para o setor de água e refrigerantes viabilizar o apelo de premiunização via embalagens nas prateleiras?
O mercado brasileiro é muito grande em volume. Dentro deste universo. nichos vão se consolidando, tais como a praticidade de consumo “on-the-go” (em movimento), a cultura da saudabilidade, variedade de tamanhos de embalagens etc. O produto água mineral não encontra espaço no consumidor de baixa renda e, fora isso, a premiunização é, em definitivo, uma estratégia seguida pelos brand owners. Ela pode ser determinada por embalagens de formatos mais sofisticados e originais, a exemplo de elementos de assimetria, fechamentos (tampas) funcionais e até mesmo detalhes como pigmentação translúcida.
Estudo da consultoria Euromonitor enxerga em água mineral a migração para tamanhos menores. A Husky concorda com esta percepção?
A migração para embalagens menores se deve a vários fatores, alguns deles antagônicos. Se, de um lado, o usuário paga mais para ter a praticidade da embalagem menor, como no consumo on-the-go, ou mesmo para poder desfrutar seu produto preferido na quantidade de dose única, existe também o caso de quem e compra a embalagem menor por melhor se encaixar em seu orçamento apertado (“affordability”). Questões demográficas tais como a diminuição do tamanho das famílias e a urbanização explicam porque o consumo cresce em embalagens pequenas ou single serve.
Em 2017, foram consumidas no Brasil 1,9 bilhão de unidades de garrafas PET em água mineral e 6,5 bilhões em refrigerantes. Qual a leitura da comparação desses segmentos de bebidas?
De fato, o crescimento das vendas de refrigerantes arrefeceu nos últimos anos, enquanto o consumo de água engarrafada aumentou. Entretanto, o mercado de refrigerantes ainda supera o de água e, portanto, qualquer comparação percentual não é justa, sem falar em outros fatores complicadores. Por exemplo, pois o confronto por volume de embalagens pode ser enganoso. Os refrigerantes estão passando por uma redução do tamanho das embalagens, isto é, o decréscimo no consumo tem efeito contrário à diminuição dos volumes quando se fala em número de embalagens. Há que se considerar também que as tendências se alteram com o tempo, ou seja, as taxas de crescimento tendem a variar, o que coloca em xeque as análises com dados históricos. O mercado também é dinâmico em termos de outros players. Ou seja, além do cotejo da água mineral com refrigerantes, como seus números serão impactados por sucos, chás etc? Por fim, o mercado brasileiro de água mineral também tem sua análise complicada pelo grande volume de garrafões retornáveis de 20 litros e pelo crescimento das embalagens one way de até 10 litros. Falar em embalagens de até 1.5 litro de água mineral não nos dá uma visão abrangente do cenário.
Quais as soluções mais recentes da Husky para reduzir o peso de garrafas de água e/ou refrigerantes através de melhorias introduzidas no corpo do frasco e sob seu o gargalo e no design da base e da tampa?
A Husky atua no sentido de buscar tecnologias para viabilizar reduções de peso através da introdução de novos desenhos e tecnologias em termos de tampas e terminações ou padrões de gargalos. Por exemplo, padrões de gargalos de 26 e 25 mm de diâmetro para água sem gás e de 26 mm para aplicações em bebidas gaseificadas. No corpo da garrafa, as reduções passam por novas tecnologias de injeção que permitem paredes mais finas nas pré-formas. Novas tecnologias no fundo das pré-formas também permitem melhor distribuição na base das garrafas. Todas estas soluções estão em linha com nosso compromisso com o desenvolvimento de embalagens sustentáveis.
Como avalia a introdução no Brasil da sua tecnologia de pré-formas multicamada para bebidas sensíveis?
A tecnologia multicamada tem seus atributos no emprego eficaz do elemento de barreira, na leveza e transparência superior da embalagem. Ela tem crescido nas mais variadas aplicações pelo mundo, como sucos, lácteos, cerveja e até mesmo refrigerantes. No Brasil, orgulhosamente fomos pioneiros globais na aplicação da pré-forma multicamada para frascos de leite UHT. Enxergamos no país grande potencial para sucos e refrigerantes em pequenas embalagens, nas quais a eficiência é crítica para a retenção de CO² e para extensão de shelf-life.
Quais os diferenciais da tecnologia de pré-formas multicamada da Husky perante concorrentes?
A tecnologia multicamada da Husky quebrou, com seu sucesso global, uma série de paradigmas no mercado em termos de eficiência e custo total da embalagem. As pré-formas e garrafas resultantes desse avanço têm três camadas e dois materiais, sendo que o agente de barreira se concentra na camada interior. A barreira pode ser graduada através do processo da máquina e seu material é escolhido conforme a necessidade do produto final. Produtos lácteos, por exemplo, necessitam de barreira a luz e UV, enquanto pequenas garrafas de refrigerantes exigem melhor contenção à perda de CO². Já sucos cítricos precisam de proteção contra a entrada de oxigênio e cervejas podem requerer amplo espectro de proteção, envolvendo barreiras à luz, oxigênio e CO². Convido a todos a verem esta tecnologia de perto, no estande da Husky na feira alemã K’2019, em outubro. •