Pululam figuras carimbadas no setor de masterbatches. É o caso de pioneiros no ramo, seus sucessores, novos entrantes picados pela mosca azul do fascínio com os bastidores das cores e transformadores com braço em concentrados como forma de faturar um plus à sombra de resina e pigmentos a preço contemplado apenas a quem negocia grandes volumes. Eduardo Tadeu Forte De Carlos merece uma categoria à parte desses personagens, pois, em 40 anos de estrada, é difícil apontar um elo da cadeia de masterbatches por onde ele não tenha passado. Antes mesmo de graduar-se em Química, ele já transitara pela análise laboratorial e desenvolvimento e venda de pigmentos. Munido do diploma, ele passou ainda por petroquímicas e pela representação comercial de produtos químicos. Noves fora, essa volta ao mundo dos concentrados explica por si o saldo de 15 anos de De Carlos no leme de sua componedora Ecomaster: capacidade decuplicada a cargo de duas fábricas, em Franco da Rocha (SP) e Três Rios (RJ) e um faro fino para captar aqueles concentrados e aditivos fora da curva que o mercado vai logo começar a exigir. Nesta entrevista, De Carlos se debruça sobre o tempo fechado no reduto de masterbatches e explica como leva, durante o nevoeiro, o barco da Ecomaster a navegar.
Em contraste com a economia sem crescer há 10 anos e o consumo estagnado de plásticos, a quantidade de componedores de masters subiu a ponto de se arredondar o efetivo atual em 150 indústrias. Como explica desse crescimento?
O surgimento de novos fabricantes de masterbatches acontece porque os grandes players estão focados em grandes volumes, investindo forte no aumento da capacidade produtiva, reduzindo mão-de-obra e obtendo assim custos menores. Isso deixa espaço para o crescimento de componedores que se especializam em mercados consumidores de especialidades ou de quantidades reduzidas.
O que deve acontecer com o setor neste ambiente de crise combinada com excesso de concorrentes e de capacidade?
Devem resistir as empresas que não dependam apenas do master para sobreviver, justo a trilhada pelo efetivo crescente de novos entrantes num mercado já cambaleante. Presenciamos a chegada ao setor de empresas com muita saúde financeira e tecnologias adiantadas. Elas têm diversificado seus produtos e até mesmo estabelecido parcerias fortes na cadeia, fechando ciclos produtivos.
Polipropileno (PP) e polietileno (PE), as resinas mais consumidas, incidem em torno de 80% do custo de um master de poliolefinas. Como avalia a hipótese de, diante da superconcorrência e em busca de preços competitivos de matéria-prima, componedores se unirem em joint ventures ou com transformadores que compram resina direto da petroquímica?
Nos masters brancos e coloridos, o peso da resina anda em torno de 20% do valor dos concentrados. Os segmentos onde esta participação prevalece e, por isso, admitiria a hipótese de uma interação de componedores de porte menos avantajado com grandes players, são os de compostos e masters aditivados. No caso da Ecomaster, a fusão com grande player não faria muita diferença, pois já beneficiamos em torno de 2.000 t/mês de resinas nas nossas duas plantas e mantemos uma satisfatória parceria com a Braskem no suprimento de poliolefinas.
Maior transformador de flexíveis do Brasil, o Valgroup constituiu a componedora de masters e compostos Valmasterb. Como avalia a possibilidade de proliferação desse movimento, como estratégia para um transformador de porte diversificar sua atuação e buscar mais valor agregado?
Como já disse, essas empresas bastante capitalizadas e que não dependem apenas de masterbatches entraram no meio de um mercado já fragilizado pela superoferta de concentrados. No primeiro momento, elas foram bem sucedidas na investida, inclusive por já contarem com um super consumo interno dos masters que produzem. Aos poucos, porém, seus competidores na mesma área de transformação demonstram preferir comprar de indústrias que só focam concentrados. Ou seja, não compram de seus concorrentes e a Ecomaster, aliás, vem atuando neste nicho. Em paralelo, enxergamos nas alianças com grandes players internacionais uma saída para enfrentar de igual para igual esse tipo de concorrência e, por sinal, já temos na manga três grupos de peso que nos acenaram com parcerias.
Em regra, os componedores afirmam que investir nas chamadas especialidades é a saída para diferenciar seu negócio e atenuar a exposição na super disputa em cores e aditivos tradicionais. Como um componedor então pode se destacar no nicho também hiper concorrido dos produtos menos convencionais?
O componedor pode se destacar trazendo produtos novos ou melhores que os concorrentes. No nosso caso, temos preços competitivos de resina e dióxido de titânio (pigmento branco) devido a parcerias com os produtores nacionais e internacionais. Entre produtos sem similares locais que introduzimos, constam o aditivo dessecante Eco Drier; o antimicrobiano Eco Clean, à base de íons de prata e aprovado pela agência americana Food and Drugs Administration (FDA); o master que torna resinas oxibiodegradáveis e biocompostáveis e o adtivo anti odor Ecoscent, de largo uso na reciclagem. Outros produtos marcantes na nossa história são a linha clareadora (Ecoclear); a série Ecompat de compatibilizadores de diversas resinas recicladas; produtos transparentes em PP que não migram e materiais pigmentados que evitam a torção das grandes peças de polietileno de alta densidade
Quais os diferenciais em desenvolvimentos e no atendimento que influíram nesses 15 anos de crescimento da Ecomaster sob hiper concorrência?
A título de referência, em 2009 produzíamos 200 t/ mês ou 10% da capacidade atual. Já explicamos acima boa parte das razões da expansão, aliadas a investimentos em flexibilidade, rapidez e capacidade de inovar. A Ecomaster foi a primeira componedora a produzir no país, com insumos nacionais, um composto de carga para aplicar até 50% em substituição a PE.
Quais os planos imediatos de expansão e aprimoramentos da capacidade e do atendimento?
O primeiro, já concluído, é o display de cores fechadas e translúcidas que podem ser desenvolvidas pelos clientes através de nosso site, usando somente o cursor (tanto cores fechadas como translúcidas). Já compramos um equipamento automatizado, de instalação iminente na filial em Três Rios e destinada a dobrar a capacidade total da Ecomaster. Além disso, estamos renovando o maquinário e softwares de laboratório. No quesito gestão, desde que minha filha e sucessora Vanessa se uniu à equipe, passamos por mudanças administrativas e estruturais. Além de reorganizando nossos processos e ampliar a profissionalização dos departamentos, ela tem melhorado a comunicação da empresa, demonstrando que a Ecomaster está se reinventando de dentro para fora.
Como avalia o faturamento em 2018 versus 2017 e qual a expectativa para este ano?
Não divulgamos a receita, mas podemos dizer que, no ano passado, ela foi 6,8% inferior à de 2017, culpa da greve dos caminhoneiros. Porém, se compararmos os primeiro quadrimestres de 2018 e 2019, já constatamos um faturamento 10,4% maior, mesmo com a economia reagindo com timidez. Estamos muito confiantes em um crescimento contínuo e consciente.•