Lançada no Brasil em abril, a linha de produtos de cuidados pessoais Love Beauty and Planet materializa, já a partir do nome, o engajamento da Unilever na defesa do meio ambiente. O culto à sustentabilidade é constatado desde o uso de ingredientes naturais à concepção das embalagens e, neste último quesito, mora uma singularidade: a nova marca contém, nos seus itens para cabelo, os primeiros frascos da empresa no país 100% produzidos com PET reciclado bottle to bottle (BTB) grau alimentício. “O objetivo de Love Beauty and Planet é reduzir sua pegada ambiental ao máximo, prestando atenção a todos os aspectos da jornada”, sublinham Antonio Calcagnotto, head de assuntos corporativos e sustentabilidade, e Juliana Marra, gerente de assuntos corporativos da Unilever Brasil.
O foco de Love Beauty and Planet, explicam os executivos, é democratizar o acesso à beleza e a produtos veganos. “O perfil padrão da consumidora da marca é ditado por mulheres de 18 a 25 anos preocupadas com o meio ambiente e com os animais e em busca de meios para melhorar seus hábitos de consumo adquirindo produtos de alta qualidade, veganos e acessíveis”, delimitam Calcagnotto e Juliana, situando o ticket médio em torno de R$ 25,00. Com poucos meses de prateleira, eles atestam, o nível de conhecimentos sobre sustentabilidade e veganismo demonstrado pelas consumidoras é considerável. “Quanto mais esforços de comunicação fizermos para sensibilizar a população sobre a urgência das questões ambientais, mais consumidores engajados teremos”.
Devido à sua qualidade superior ao poliéster obtido da reciclagem convencional, PET BTB grau alimentício foi escolhido pela Unilever como o material de embalagem mais alinhado com as características e atributos da linha Love Beauty and Planet. “Além de PET descomplicar, por si, o processo de reciclagem, a Unilever investiu em tecnologia para a remoção facilitada do rótulo durante as etapas de recuperação da resina contida na embalagem pós-consumo”, assinalam Calcagnotto e Juliana. O rótulo de polipropileno biorientado (BOPP) utiliza o adesivo clean flake da Avery Dennison. “Sob altas temperaturas, o adesivo possibilita que o rótulo seja separado sem dificuldades do frasco, simpilificando a reciclagem de PET, eles esclarecem.
Inclusive pela sua reciclabilidade, as poliolefinas virgens dominam nas tampas da linha Love Beauty and Planet. PP está sozinho nas tampas de xampus e condicionadores e, no creme de pentear, figura na base da tampa, enquanto polietileno ocupa a parte superior. Ambas as resinas figuram com materiais como alumínio no único componente admitido como não 100% reciclável a válvula dosadora integrante dos frascos de sabonetes líquidos.
Para estrear em frascos 100% de PET BTB a Unilever Brasil escalou como parceiros a recicladora Global PET e a transformadora de embalagens AB Plast. “O principal destaque desse projeto da Unilever foi o desenvolvimento dos materiais de embalagem, visando facilitar um processo relativamente novo de reciclagem (a tecnologia BTB) e consumindo material reciclado”, pondera Irineu Bueno Barbosa Junior, sócio executivo da Global PET, formador de opinião nacional na recuperação do poliéster com sua operação em São Carlos, interior paulista. “É um exemplo perfeito de economia circular, pois, de que adianta pensar na reciclabilidade de um frasco e seguir consumindo resina virgem? Quem consumirá a resina contemplada com recuperação facilitada? Se não houver mercado, sua reciclagem definhará”.
PET BTB grau alimentício não tem a mesma plumagem do poliéster para segundo uso servido pela reciclagem mecânica tradicional. “Esta resina é obtida pela extrusão de flakes e suas características químicas e mecânicas estão degeneradas em razão do processamento da embalagem e das etapas da reciclagem convencional”, considera o dirigente com doutorado em Ciência dos Materiais. “Até há empresas que se arriscam a produzir frascos utilizando uma resina com essas características e é possível conseguir isso misturando-a a outra de padrão superior, mas são altos os riscos de contaminantes migrarem e alterarem os atributos dos produtos envasados”. Por sua vez, ele continua, PET pós-consumo reciclado pelo sistema BTB grau alimentício exibe propriedades químicas e mecânicas regeneradas e compatíveis com as apresentadas pela resina zero bala, o que depende de uma tecnologia provedora de total descontaminação do poliéster recuperado. “Assim, além de se obter um frasco resistente, é zerado o risco de interações químicas entre embalagem e conteúdo, sem adulterar a fragrância ou sabor”.
A Global PET também participou da definição da via para separar tampas e rótulos dos frascos pós-consumo da linha Love Beauty and Planet. “O meio mais simples e prático é a decantação ou flotação, processo no qual os flocos de PET afundam e tampas e rótulos de poliolefinas flutuam”, coloca Bueno .”Sugerimos então evitar o uso de rótulos à base de materiais com densidade superior à da água”. Bueno também assessorou a Unilever na escolha do adesivo que cola o rótulo de BOPP ao PET.
A Unilever optou por um formato padrão para os frascos de Love Beauty and Planet. “Essa decisão agilizou o desenvolvimento da embalagem e barateou a confecção dos moldes para frasco e tampa”, racionaliza Bueno. A seu ver, não há ônus logístico na atividade de remeter da Global PET o reciclado para ser transformado a cerca de 700 km dali, na sede da AB Plast, em Joinville. “É uma distância apenas um pouco maior que a de São Carlos ao Rio ou Belo Horizonte”, dimensiona o reciclador. “Além disso, o mesmo caminhão retorna com matéria-prima da região sul”.
Com mais de 35 anos de milhagem em embalagens rígidas, a AB Plast imergiu por bom tempo no projeto de produção dos frascos de Love Beauty and Planet, conta o diretor Leonardo Bitsch. “O trabalho juntou o conhecimento para processamento e uso de PET pós-consumo reciclado com um bom desenho e uma família completa de frascos standard, o que garante a performance estrutural da embalagem sem criar ineficiências operacionais onerosas para sua produção”. Os frascos são produzidos pelo processo injection stretch blow molding (ISBM), pelo qual a injeção da pré-forma, seu estiramento e sopro transcorrem na mesma máquina. “Dispomos de know how para desenhar e construir moldes de PET e formamos entre as primeiras transformadoras do Brasil a importar linhas de ISBM da japonesa Aoki“, enfatiza Bitsch.
Guilherme Marchetto, gerente geral da base comercial da Aoki no Brasil, informa que a AB Plasti dispõe de três plataformas (100L,100LL e 250 LL) de robustas máquinas de ISBM de ciclo rápido. “O grande diferencial desses modelos é a flexibilidade de formatos, desde gargalos finos a bocas largas, gerados com precisão e estabilidade de moldagem”. Marchetto considera a tecnologia Aoki a mais simples e com menos etapas no gênero, sendo beneficiada pelo sistema Direct Heatcon, que torna dispensável o reaquecimento da pré-forma. “Por causa disso, não há risco de diferenças de tonalidade na pré-forma e de fluidez no trabalho com o poliéster reciclado”, assinala Marchetto.
Bitsch aproveita a deixa para ressaltar que o processamento de PET reciclado está sujeito a sutis variações, em tópicos como viscosidade e cor, perante o trabalho com resina virgem. O que exige da AB Plast o monitoramento das variáveis de máquina, molde e controle estatístico de processo para garantir a qualidade final do frasco almejada para a marca Love Beauty and Planet. “Este desafiador fornecimento para a Unilever também constitui uma grande oportunidade para tornar o mercado de reciclado, ainda marginalizado e centrado em essência em São Paulo, numa indústria ampla e geradora de empregos e riqueza”, conclui o transformador. •