No coração do mercado

Após bom tempo sem solfejar investimento em poliolefinas, a Braskem volta a pisar num palco tão pouco falado quanto específico: polietileno de alta densidade e ultra-alto peso molecular (PEUAPM). O grupo bateu o martelo pela construção de uma planta da especialidade em sua base em La Porte, Texas (EUA), onde já produz polipropileno (PP). Vendida sob a marca UTEC, a resina compete com metal e polímeros de engenharia e a motivação por trás do investimento orçado em US$ 34 milhões, explica o líder de negócio Christopher Gee, é agilizar e facilitar o suprimento da clientela norte-americana. “Atendemos esse mercado desde o início da década de 2000. Se considerarmos o fornecimento via Polialden, nossa relação com o mercado começou ainda antes”.
Para refrescar a memória: a Braskem supre os EUA de UTEC desde sua fundação, 12 anos atrás. A produção provém da capacidade de PEAD ativada em 1978 pela petroquímica Polialden.Totalizava 120.000 t/a nos idos de 1993, quando a empresa foi absorvida pela extinta OPP, corporação da qual se originou a Braskem.
Os EUA sempre foram o principal destino de UTEC, assevera Gee. Em Camaçari, a resina conta com capacidade nominal projetada em 10.000 t/a por um ex da cúpula da Polialden. A marca UTEC, acrescenta a mesma fonte, foi cunhada internamente e, motivo de discussões com a japonesa Mitsubishi, licenciadora da tecnologia de PEAD ali adotada, a rota de PEUAPM foi concebida pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. A Braskem não libera a capacidade para UTEC na Bahia nem indicadores sobre a concorrência e dimensões do mercado do material nos EUA.
Com fábricas na Alemanha, China e EUA, a norte-americana Celanese é a nº1 global em PEUAPM, à sombra de capacidade total de 90.000 t/a, sustenta Guert Rucker, diretor comercial da companhia para materiais de engenharia na América do Sul. Em essência, coloca, a disputa no mercado norte-americano dessa resina é travada por Braskem e Celanese, cuja unidade nos EUA é dimensionada pelo executivo na faixa de 30.000 t/a. “Como a capacidade doméstica total fica abaixo da demanda por PEUAPM nos EUA, as importações complementares são inevitáveis”, considera. Pela sua varredura, uma fatia de 80-90% da produção de UTEC é embarcada para os EUA. Para Rucker, soa lógica a hipótese de a futura unidade texana implicar o desligamento da fábrica do material em Camaçari, dada o crônico nanismo do consumo brasileiro e em razão da possibilidade de a Braskem dirigir essa planta apenas para PEAD, poliolefina commodity cujo consumo não nega fogo. “O reator herdado da Polialden é multipropósito e admite esse redirecionamento”, comenta o porta-voz da rival Celanese.
Por ora, retoma o fio Gee, a Braskem não cogita desativar a unidade baiana de PEUAPM, embora vá produzir a resina no coração de seu mercado nº1. Mas até a fábrica de La Porte ficar pronta, término agendado para 2016, Gee confia no desabrochar da expansão da procura brasileira pelos grades formulados em Camaçari, uma linha de raciocínio desafiada pelo fato de, após décadas de produção doméstica, ainda serem as exportações que pigmentam de azul o  balanço anual de UTEC. A demanda global por PEUAPM cresce à média de 5% ao ano e o objetivo da Braskem é estar pronta para supri-la, delimita o executivo.
Para a nova planta de UTEC, a petroquímica decidiu transpor a tecnologia do Cenpes em vigor em Camaçari. A Braskem também decidiu aproveitar para esse projeto a infraestrutura existente em La Porte, instalações integrantes dos ativos do negócio norte-americano de PP da Sunoco Chemicals, arrematado pelo grupo brasileiro em 2010. “A Sunoco tinha planos de desativar parte dessa unidade, mas pedimos que a mantivesse para que pudéssemos utilizá-la em algum momento”, explica Gee. Um às de ouros na manga das linhas norte-americanas de UTEC será o acesso ao eteno procedente do gás extraído das reservas de xisto (shale gas), rota cuja competitividade em preços hoje inebria a petroquímica dos EUA e muito mais barata que a do eteno via nafta, seguida aliás  por todas as fábricas de polietilenos na Bahia. A Braskem não comenta mas, do observatório da rival Celanese, Guert Rucker  considera palatável o argumento de que essa matéria-prima, capaz de tornar a produção norte-americana mais em conta que a de Camaçari, desponte como o combustível do investimento no Texas, de modo a preservar o mercado local até hoje cultivado com exportações brasileiras de UTEC. No entanto, insere Alessandro Bernardi, especialista de projetos de UTEC baseado nos EUA, como esse polietileno é considerado capítulo à parte no gênero, os ganhos proporcionados não estão calcados no tipo de matéria-prima utilizada na cadeia, mas na sua tecnologia de produção e na capacidade de agregação de valor.
Patente da extinta Hoechst (incorporada à Celanese), informa Guert Rucker, e fruto de catalisadores Ziegler-Natta, PEUAPM é submetido a técnicas de processamento sumarizadas em três etapas: compactação, aquecimento para plastificação e resfriamento do material na forma de pó. Suas chapas, blocos ou perfis são o ponto de partida para a moldagem por métodos entre os quais predominam a compressão e extrusão sem rosca. PEUAPM prima por alta viscosidade, autolubrificação e possui peso molecular cerca de 10 vezes maior que o de PEAD. Sobressai pela resistência química, ao impacto e à abrasão, além do coeficiente de fricção inferior a alternativas como polipropileno, PEAD, poliamida, poliacetal e policarbonato. Ganhou visibilidade graças a aplicações tipo engrenagens ou subcomponentes (roletes de esteiras em indústrias de alimentos e bebidas, p.ex.), revestimento de caçambas de picapes, itens de peças de agroveículos, elementos da indústria de mineração e até conseguiu espaço na área de lazer – em esquis e snowmobiles, exemplica Gee. Com a nova planta nos EUA, acena o executivo, a Braskem põe a lupa sobre campos por onde os grades de UTEC jamais transitaram, caso de artefatos médico hospitalares como próteses. A Celanese reina nesse reduto com sua resina aditivada, intercede Guert Rucker, salientando a obrigatoriedade para PEUAPM do aval de entidades de saúde pública como a agência regulatória norte-americana Food and Drugs Administration. •

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