Está complicado

Câmbio e greve dos caminhoneiros baixam voltagem das expectativas de vendas de eletroportáteis
Eletroportáteis: encarecimento dos insumos comprimem as margens de lucro.

Um ancoradouro de primeira para plásticos de engenharia, a indústria de eletroportáteis atravessa este ano com o coração na boca. “Os prognósticos realizados em janeiro apontavam para um crescimento entre 15% a 20%”, assinala José Jorge do Nascimento Junior, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). “Mas impactos da greve dos caminhoneiros, a grande variação cambial e o encarecimento dos produtos e insumos importados colocaram intensa pressão sobre a manutenção dessa taxa original de expansão e, pelas estimativas mais recentes, podemos terminar 2018 sem crescimento”.

A Eletros registrou a venda de 30 milhões de eletroportáteis no primeiro semestre. “O volume foi 13% superior ao do mesmo período em 2017”, compara o dirigente. Essa alta, ele interpreta, reflete a esboçada retomada gradual da economia, notada em especial no primeiro trimestre do ano. “Os indicadores demonstravam então queda no desemprego e dólar mais estável”, complementa Nascimento Junior. “Além disso, o segmento portátil é o menos dependente de crédito no nosso setor e, portanto, reage mais rápido ao reaquecimento da economia”. Conforme observa, vários eletroportáteis com volumes de venda tolhidos pela crise desde 2015, acusaram reação entre janeiro e junho último, motivada principalmente pela reposição de estoques ou renovação dos produtos.

“Destacam-se as cafeteiras, fritadeiras, ferros de passar, secadores de cabelo, sanduicheiras, extratores de suco, tostadores, aspiradores e filtros d’água”, alinha o presidente da Eletros. Ainda nessa trilha, ele deixa patente que, mesmo com a a economia na bagaça, os fabricantes de eletroportáteis filiados à Eletros mantêm planos de lançamentos que tragam inovação e praticidade à vida dos consumidores. “É uma das apostas para estimular o segmento e ampliar a demanda por novos eletroportáteis”, atesta Nascimento Junior.

A brasileira Mallory comprova esta postura. “Temos ido na contramão do mercado, pois, mesmo nos momentos recessivos mais complicados, tivemos crescimento em todas as categorias, devido à execução de uma estratégia com muita atenção ao produto, à marca e ao cliente”, argumenta Luis Sancho, diretor de produto da empresa. “No início do ano, o mercado previa expansão de forma generalizada, mas as expectativas vêm caindo e pendem para um movimento mais estável em relação a 2017. “Na Mallory, mantemos a crença num crescimento relevante, acima das projeções do mercado, embora a situação da economia dificulte a realização de resultados mais expressivos”.

Linhas de cozinha, lar, ventilação e cuidados pessoais dão corpo à categoria de eletroportáteis da Mallory. Para Sancho, os produtos de ventilação têm sido os menos afetados. “No plano geral desse mercado, o aumento do custo de energia levou, no primeiro momento, a um consumo mais consciente e favorável ao uso de ventiladores em detrimento do ar condicionado”, considera o diretor. A Mallory aproveitou essa mudança com uma renovação completa da linha de ventiladores nos últimos anos. “Além de avanços estéticos e de inovação, os produtos foram contemplados com maior vazão de ar e eficiência energética classe A em todas as velocidades e modelos”, salienta Sancho.
Outro reduto de portáteis da Mallory imune à economia à deriva, acrescenta Sancho, é o dos liquidificadores, alvo de renovação total este ano, turbinada também por modelos de maior valor agregado. “Além de liquidificadores e ventiladores, um dos produtos que mais cresceram em 2017 e assim seguem em 2018 é a família de fritadeiras por ar (airfryers), caracterizadas por um ticket superior ao habitual na categoria de eletroportáteis”,atesta o executivo.

Mallory à parte, Sancho enxerga o mercado de eletroportáteis em dificuldades desde 2015, embora a maioria das linhas tenham retomado as vendas. “Alguns produtos de cozinha, como arrozeiras, hoje sofrem por terem se posicionado com preços muito baixos para manter as vendas, condições que se tornaram insustentáveis e o segmento não consegue acompanhar a recuperação no mesmo ritmo de outros portáteis”. No compartimento das cafeteiras, ele observa, a queda nas vendas totais foi compensada pelo crescimento em itens de maior valor agregado, caso de cafeteiras de cápsulas.

Sancho tem a mesma visão do presidente da Eletros sobre os fatores que aguaram as projeções iniciais para eletrodomésticos este ano. “Nossos produtos têm preço relativamente baixo e pouco peso, mas com volume bastante alto em proporção e daí estarmos sendo penalizados pela greve dos caminhoneiros, pois os custos de transporte subiram de forma descomunal”, lamenta o porta-voz da Mallory. Por seu turno, ele deixa claro, o câmbio atual causa uma enxaqueca daquelas nas indústrias de portáteis. “Boa parte dos produtos é importada e, mesmo nos nacionalizados, muitos componentes são comprados em dólar no exterior”, expõe Sancho. Mesmo quanto a itens produzidos aqui, muitos deles são semi ou 100% dolarizados, ou seja, estão sujeitos à influência do câmbio”. Noves fora, ele amarra as pontas, a indústria de eletroportáteis arfa sob aumentos exorbitantes de custos e está duro repassá-los em sua totalidade ao consumidor. “Isso ocorre num quadro de margens exauridas nos últimos anos e põe o setor numa situação muito difícil”.

A Mallory importa uma parcela da linha de portáteis e fabrica a maior parte das unidades vendidas. No âmbito da manufatura local, a injeção interna de peças plásticas, por um efetivo projetado em 60 máquinas, é vista como fator estratégico. “Por razões de custo direto e indireto, decorrência da logística da terceirização de peças, e, em especial, para mantermos controle total sobre o processo”.

Entre as mudanças recentes nas exigências da Mallory para peças plásticas de portáteis, Sancho chama a atenção para a evolução estética notada nos últimos anos. “Ela veio com os aprimoramentos na confecção de moldes de injeção e seus sistemas de refrigeração e extração, caso do uso de aço de alta qualidade, acabamentos superficiais específicos e de maior dureza para algumas peças, polimentos muito delicados e frequentes e controle mais apurado das temperaturas e ciclos de injeção”. Em complemento, ele frisa, a Mallory tem investido na automação de processos, em robôs para extrair peças e em procedimentos para evitar riscos no manuseio delas. “Também implantamos hot stamping para grafismos e realizamos experimentos com masters e aditivos em busca de efeitos diferenciados nas peças injetadas”.

Aspirando as tendências

Performance e visual incrementam as exigências para resinas e masters plugados em eletroportáteis

“As principais tendências mundiais em plásticos para eletroportáteis têm a ver com a aparência final, eficiência energética e redução do peso”, alinha Fabio Celso Bordin, gerente de marketing e vendas da base no Brasil da alemã Ineos Styrolution, formadora global em preços e opinião de estirênicos. Para corresponder a essas expectativas, o executivo saca do portfólio soluções do naipe de Novodur® P3H-AT, copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) que alia resistência térmica e processabilidade a uma resistência química léguas acima dos índices aferidos em grades para uso universal desse plástico de engenharia. Outro ás tirado da manga por Bordin é a resina de metil metacrilato butadieno estireno (MBS). “É indicada para a injeção de componentes de aspiradores de pó e ferros de passar devido à alta transparência e resistência química e ao impacto”, ele justifica, destacando ainda as credenciais de seu poliestireno de alto impacto Styrolution® ESCRimo, de elevada resistência à fadiga sob tensão.

Bordin também nota pendor dos fabricantes de eletroportáteis por resinas com aditivo antiestático, porta aberta para seu ABS Novodur®P2H-AT reduzir o acumulo de pó dos aparelhos. Ainda no visual, ele percebe crescimento de aplicações cromadas ou metalizadas, vocação do grade P2MC da série de ABS Novodur®.

No Brasil, distingue o gerente, o campeão de vendas da Ineos Styrolution em eletroportáteis é o copolímero de estireno-acrilonitrila (SAN) Luran®. “Seu principal uso é o copo de liquidificador, em virtude da transparência, facilidade de processamento e de desmoldagem da peça”, indica Bordin.

Entre os desenvolvimentos recentes da Ineos Styrolution em estirênicos passíveis de pouso em eletroportáteis, Bordin distingue o tipo de ABS multiuso Terluran® GP 35 White. “Sua tonalidade branca padrão provém do teor aproximado de 2,5% de titânio e aditivo UV e assim ajusta-se à condição de material base para a injeção de vários tons de branco e cinza, operação finalizada pelo transformador com o acerto de cor por masterbatches”. ABS também comparece na mistura com poliamida (PA) Terblend®NM12, ressaltada por Bordin pela adequação a barbeadores proporcionada pela resistência mecânica e química e a excelência no acabamento de baixo ou alto brilho. Da família Luran® o executivo pesca o copolímero de acrilonitrila butadieno acrilato de butila (ASA) S75G Branco. “É muito procurado para aplicações dependentes de alta resistência à radiação UV que garnta a identidade visual do eletroportátil”. Ele fecha o rol de novidades com Styrolution® PS 6220, poliestireno de alto impacto com altíssimo brilho, conferindo acabamento superior aos grades convencionais desse polímero.

Miniaturização inspiradora
Para dar uma ideia da magnitude das exigências conectadas a eletroportáteis, Fernando Ribeiro, gerente de desenvolvimento de aplicações e clientes no continente americano da Solvay Polyamides, recorre aos secadores de cabelo e às conhecidas pranchas e chapinhas. “Devido à sua função estrutural e ao trabalho sob altas temperaturas de serviço, PA 6.6 preenche a lacuna”, ele coloca. “No entanto, além da performance mecânica esperada,, outros requisitos desafiadores têm sido apresentados por transformadores de componentes e fabricantes desses portáteis, entre eles a alta estabilidade dimensional com baixo risco de empenamento, visual diferenciado para peças não pintadas e excelência na pintabilidade”, exemplifica Ribeiro.

O caldo engrossa com as exigências de melhor performance dos materiais em geometrias complexas e de espessuras e ciclos de injeção em queda livre. A Solvay responde com três novas joias de sua coroa de poliamidas. Um desses avanços, Technyl One JL 218 V50 Natural, foi gestado no Brasil e consta de copolímero 6.6/6T aliado a copoliamida de alta resistência térmica, blend com 50% de fibra de vidro e de elevada estabilidade dimensional. “É uma alternativa a mercados de portáteis antes dependentes de materiais como PA4.6” ,sumariza o executivo. Outra boa nova é dada por Technyl AF 218 SV 33 Black, grade nucleado de PA 6.6 de alto fluxo e estabilizado termicamente com reforço híbrido não detalhado. “Combina balanço de rigidez e resistência ao impacto com tratamento superficial em níveis excepcionais”, ele ressalta. Por fim, Bordin serve à mesa Technyl A 209 Natural, PA 6.6 com lubrificação especial desembocando em desmoldagem facilitada e superioridade no acabamento e na estabilidade no processo de dosagem.

Quatro tipos na classe 6.6, pinça Ribeiro, puxam as vendas de PA Technyl ao mercado brasileiro de eletroportáteis e elétricos em geral. Ele destaca a demanda pelo grade de alto fluxo Star A205F, talhado para injeção de ciclo rápido de eixos oscilantes de ventiladores, itens de compressores e peças como botões e travas. Por sua vez,Technyl A 218 V30, é um grade termoestabilizado com 30% de fibra de vidro e, tal como Technykl A118 V50 (50% de fibra de vidro), é recomendado para componentes estruturais de eletrodomésticos. O quarteto de best sellers fecha com Technyl A60G1 V30, composto V-0 com 30% de fibra de vidro, sem aditivos halogenados e focado em itens como conectores e contatores.

“O avanço na miniaturização de componentes de equipamentos como eletroportáteis, o aumento de requisitos como os de flamabilidade e do rigor regulatório técnico e ambiental têm inspirado novas soluções de PA sem insumos halogenados e menos corrosivas e abrasivas na injeção”, expõe Ribeiro. Para indicar para onde o vento sopra, ele enfileira os grades Technyl de PA 6.6/6 BH50H1 e de PA 6.6 A50XI e a copoliamida reforçada One J60X1 V15-V30, todos eles ofertados em diversas cores e opções para marcação a laser de peças como carcaças, plugues, conectores e suportes de bateria.

6 avança sobre 6.6
O bocal de secador de cabelo despertou na Radici Plastics a sacada de desenvolver poliftalamida (PPA) de alta resistência térmica e baixa absorção de umidade. “É uma alternativa a PA 4.6, que tem esse problema de absorção”, esclarece Jane Campos, CEO da subsidiária brasileira da corporação italiana. Luis Baruque, gerente de desenvolvimento e marketing, detalha que o grade de PPA Radilon®AestusT absorve em torno de 1,2% de umidade contra 1,8% aferido com PA 4.6. “Ou seja, sua estabilidade dimensional é superior e a diferença de preço pode tornar PPA até 10% mais em conta, a depender da linha de produto para a qual o material foi homologado”.

Eletroportáteis integram o espectro de mercados que motivam a Radici a abrir caminho para PA 6 numa conjuntura de insuficiência mundial de PA 6.6 “Isso decorre de escassez do ingrediente hexametileno diamina, cuja oferta só deve ser revigorada em 2022 ou 2023”, antevê Baruque.

Aurelio Giovanni Mosca, sócio e gerente comercial da componedora nacional Krisoll, chama atenção para o efeito, nas exigências de performance de PA, do fato de as peças de eletroportáteis hoje se mostrarem multifuncionais e mais compactas. Em decorrência, ele amarra, sobem os requisitos de performance para propriedades como estabilidade dimensional e, para teclas externas à luz e resistência térmica, elétrica, ao desgaste e, para evitar curto circuito, à chama. “Também se cobra maior uniformidade de cores em peças de diferentes materiais, como carcaça de ABS e tecla de PA na mesma tonalidade”. A tiracolo dessas demandas, ele completa, ao lado de compostos coloridos e sem reforço, para teclas de comando externo, os campeões de vendas da Krisoll para eletroportáteis alinham compostos de PA antichama, com fibra de vidro e, por vezes, com resistência ao fio incandescente (glow wire). “São utilizados na injeção de chaves de comando internas”.

Apelo retrô
Em seu retrospecto dos últimos três anos sobre as solicitações de masters para eletroportáteis, Roberto Herrero, coordenador do laboratário de cores da Cromex, destaca a procura por tons de vermelho com alto brilho e intensidade, e de preto, também mais intenso e com efeito fosco. No geral, porém, as tonalidades de branco e preto continuam a ditar as vendas de masters da empresas para esta vertente de eletroeletrônicos, nota o expert.

Para sair fora da caixas, a Cromex lançou este ano, de olho em portátes como batedeiras, liquidificadores, mixers e multiprocessadores, o concentrado na cor Ultra-Violet, tendência destacada no guia Pantone.

“Eletrodomésticos e portáteis com apelo retrô tiram a alusão industrial do inox e a frieza dos móveis brancos”, interpreta Herrero. “Para secadores de cabelo, predominam preto fosco e vermelho intenso com brilho; para depiladores compactos, tons de branco, rosa e lilás; para batedeiras e liquidificadores, prevalecem as solicitações de concentrados de tons brancos, preto e vermelho retrô”.

Do observatório da componedora Termocolor, Wagner Catrasta endossa o ponto de vista de Herrero. Nos últimos três anos, aponta, cresceram os pedidos de cores novas, de alto brilho, requinte e com ênfase no estilo retrô para peças externas de eletroportatéis. “Alguns clientes optaram por mesclar cores para dar mais vida ao produto final, a exemplo de liquidificador com botão amarelo, botão seletor azul e copo vermelho”. Catrasta também confirma branco e preto como best-sellers em portáteis e percebe a inclinação, no âmbito de batedeiras, liquidificadores e ferros de passar, de cores vibrantes e sólidas tipo laranja, amarelo, verde e vermelho.

Preto sempre básico
Nos bastidores da cor preta, indestronável em eletroportáteis, quem dá as cartas são as linhas de negro de fumo de alta intensidade, grau de pureza e subtons azulados, indica Leonardo Fernandes Luiz de Souza, coordenador de SBB da Birla Carbon. “São altamente recomendáveis para masters dirigidos a peças de eletroportáteis os grades da nossa série Raven® Ultra 2800, 2900,3000 e 3500”, ele enfileira.

No balcão rival da Cabot, Wagner Bordonco, responsável por marketing e serviços técnicos na América do Sul, recomenda para eletroportáteis pretos três grades de negro de fumo: BP 880, de dispersão facilitada; BP 800, de alto brilho e 450A111, de alta intensidade de negrura. No plano geral, ele percebe pulsante em eletroportáteis as portas abertas para soluções do pigmento preto que contemplem alto brilho e acabamento e subtons azulados e alta intensidade da cor. “Aplicado em pequenas concentrações, o negro de fumo não interfere na processabilidade e resistência mecânica das resinas de engenharia”, ele completa. •

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