Conta dura de fechar

A realidade da indústria recicladora contrasta com o oba oba ambiental

Sensores setoriais atestam que a participação do plástico em embalagens pós- consumo subiu no Brasil de 23% em 2012 para 32% em 2017. É uma boa nova, mas não ofusca a gravidade das intocadas questões de fundo para a indústria de reciclagem do material. Entre os gargalos pendentes, André Vilhena, diretor executivo da entidade Centro Empresarial para Reciclagem (Cempre), atenta em particular para duas deficiências. “Uma delas refere-se à tributação do plástico reciclado, em especial no tocante ao ICMS, o imposto que mais onera o reciclador”, aponta. “Trata-se de aplicar no reciclado a mesma tributação já recebida pelo plástico na condição de resina virgem”. O dirigente reconhece que clamar por incentivo fiscal ao reciclador não condiz com uma conjuntura de contas públicas em pandarecos. “O melhor caminho é reivindicar uma desoneração, conforme estudo a respeito já encaminhado pelo Cempre ao governo”, ele julga.

Outro flanco exposto a ser fechado, considera Vilhena, passa pela própria razão de ser do Cempre, ou seja, incrementar o percentual de embalagens pós-consumo recicladas. “É preciso sensibilizar mais a população para o descarte correto, de modo a assegurar aos recicladores um suprimento mais linear de matéria-prima para processar, evitando assim que, em determinadas regiões, essas indústrias sofram com períodos de ociosidade expressiva”, ele nota.

A continuidade desses dois gargalos, como endossam os entrevistados nas reportagens a seguir, contribui para a incidência da informalidade no mercado de reciclados, sustenta Vilhena. “O comércio paralelo inibe a expansão dessa atividade que o país tanto precisa, tal como o próprio plástico precisa dela para melhorar a sua imagem de vilão ambiental”.
Os últimos quatro anos de descalabros na governança contemplaram o Brasil com quase 13 milhões de desempregados, nas últimas medições oficiais. Vilhena percebe reflexos diretos desse drama na cadeia da reciclagem. “De 2010 a 2014, o efetivo de catadores de lixo reciclável era estimado em 500.000 pessoas e hoje em dia deve rondar um milhão”. Do observatório do Cempre, o diretor comenta que o contingente de desempregados de baixa renda que, eventualmente, se anima a ingressar na indústria recicladora, recorrendo a recursos habitualmente advindos de direitos trabalhistas, em regra investem em etapas que precedem a extrusão. “Pois a partir daí é necessário mais fôlego financeiro”, diz. A propósito, Vilhena recomenda moderação a quem se dispuser a ingressar na reciclagem, movido pelo róseo horizonte descortinado pelo evangelho do desenvolvimento sustentável. “Convém avaliar com cuidado as condições desse setor, devido à concorrência robusta e à alta informalidade”, aconselha.

Efeito dominó

Quando o mercado de produtos acabados se resfria, a reciclagem cai de cama

Em contraste com o ecoestrelato da atividade, o negócio da reciclagem de plástico no Brasil anda de lado, por artes tanto de uma concorrência pulverizada e contaminada por emanações de informalidade como devido à irrevogável lei da oferta e da procura. Afinal, embora radares setoriais propalem crescimento de 2,5% nas vendas de artefatos plásticos em 2017, o fato é que o cômputo também agrupa exportações e segmentos transformadores de baixos índices de geração de refugo pós-consumo e de utilização de resina recuperada. Daí a pasmaceira em vigor nos balanços da indústria recicladora. Nesta entrevista, a conjuntura em banho-maria do setor é descortinada por Maurício Jaroski, especialista em inteligência de mercado da consultoria MaxiQuim, a única do país a emitir relatório mensal de preços internos das resinas recicladas e, anos atrás, assinou os mais confiáveis mapeamentos que se tem notícia do universo da reciclagem no país.

PR – Qual a produção total de resina reciclada em 2017 versus 2016?
Jaroski – Estimo que 2017 tenha fechado com crescimento sensível de 1-2% na produção de resinas recicladas proveniente de resíduos plásticos pós-consumo: das 625.000 toneladas em 2016 o volume passou a 635.000 no ano passado.

PR – Como avalia a trajetória dos preços internos do refugo pós-consumo e dos recicladas de PE, PP e PET em 2017 versus 2016?
Jaroski – Os preços de resina reciclada não sofreram grandes alterações ao longo de 2017. Os recicladores não conseguiram praticar aumentos, seja por dificuldade de obter matéria-prima, seja por estratégia para não perder mercado. Foi um ano de demanda fraca, as empresas de reciclagem absorveram boa parte da recessão diretamente na margem do negócio. É uma indústria que sofre pressão nas duas pontas, perceba: com o menor consumo de plásticos, há menos demanda por resinas recicladas, bem como há menos resíduos plásticos disponíveis para reciclagem.

PR – Em média, qual o gap entre os preços dos reciclados de poliolefinas e PET versus os preços internos da resina virgem em 2017?
Jaroski – A diferença de preços entre a resina virgem e a reciclada fechou 2017 próximo à média habitual, situação muito semelhante ao fechamento de 2016. Ocorreram variações ao longo de 2017, mas muito em função de queda ou aumento de preços das resinas virgens e não pelo comportamento de preços das resinas recicladas em si. No plano específico dos termoplásticos, ao final de 2017, a relação dos preços médios PET reciclado (flake cristal, sudeste) ficou em 60% do valor do preço da resina virgem. No caso da relação de PP reciclado (pellet, pós-consumo) versus virgem, o mesmo índice aferido pela MaxiQuim foi de 76%.Quanto à polietileno de alta densidade (PEAD) reciclado (pellet, pós-consumo) seu preço em 2017 pairou em valor na faixa de 75% do preço do polímero para o primeiro uso. Por fim, o preço médio de polietileno de baxa densidade (PEBD)/linear (PEBDL) reciclado (pellet, pós-consumo) apresentou valor da ordem de 78% da cotação dessas resinas na condição virgem.

PR – Pela avaliação da MaxiQuim, o setor brasileiro de reciclagem rodou com qual índice de ocupação de sua capacidade nominal em 2017?
Jaroski – Historicamente, o nível operacional da indústria de reciclagem no Brasil é baixo. Por exemplo, em anos bons para a economia, como 2010, o índíce de ocupação foi de 65%. Quanto a 2017, estimamos que tenha sido um período com aproximadamente 52% de ocupação. Se isso é economicamente aceitável ou não, bem, capacidade ociosa nunca é algo positivo, equivale a estoque alto e dinheiro (ou investimento) parado. Mas, ao mesmo tempo, por ser uma indústria capilarizada em muitas empresas de pequeno e médio porte, acreditamos que um nível saudável para uma indústria de reciclagem operar no Brasil seria em torno de 70%.

PR – O Brasil tem quase 13 milhões de desempregados. Esse quadro tem pesado ou não para estimular o surgimento de pequenas recicladoras ou o setor já tem empresas de sobra?
Jaroski – Nunca detectamos movimentos nesse sentido. Em geral, o que se verifica com o aumento de desemprego é o aumento da coleta informal e da maior incidência de intermediários na cadeia. São os muitos atravessadores, conhecidos também como sucateiros.

PR – Para combater a poluição, a China proibiu recentemente a importação de lixo plástico para reciclagem.Em 2016, o país importou 7 milhões de toneladas ou mais de 50% de lixo plástico exportado mundialmente. Quais as consequências para os preços do refugo plástico e do reciclado geradas pelo excedente resultante do veto chinês?
Jaroski – Esse tema vem sendo muito abordado mundialmente, inclusive tem se afirmado que tal medida proibitiva pode refletir-se nos preços das resinas virgens; afinal de contas, existirá uma demanda por plástico na China que não será mais suprida a partir da reciclagem dos resíduos importados. Não vejo isso com possibilidade de impactar os preços de refugo plástico no mercado brasileiro. Quanto aos grandes exportadores de resíduos plásticos para a China, como EUA e Reino Unido, acredito que o ocorrido deve impulsionar a indústria de reciclagem em cada um desses países. Nos EUA, isso já vinha sendo percebido antes mesmo da China proibir a importação de resíduos, pois o país vem regularizando leis de incentivo à reciclagem e vários players estão surgindo para impulsionar essa atividade no mercado interno. Com isso, a proibição da China impulsiona ainda mais o investidores no plano internacional, que vislumbram um excedente de matéria-prima, pois não haverá mais concorrência com exportações para a China. Acredito que em um primeiro momento, antes de possíveis novas capacidades de reciclagem mecânica sejam instalada nesses países, o excedente de resíduos plásticos sejam direcionados a reciclagem energética ou a outros países asiáticos que possam absorver parte do volume antes destinado para a China.

Nem tudo são flores

Reciclar PET não é simplesmente produzir e correr para o abraço

Apesar de todo badalo ecofashion em torno de PET reciclado, a resina pós-consumo mais reaproveitada, o perfil do negócio ainda é desafiador no Brasil, em especial para os lados da reciclagem bottle to bottle (BTB) da resina, dotando-a de grau alimentício. É fato que as perspectivas são de levitar, como indicam, por exemplo, indústrias usuárias do poliéster para segundo uso como a Coca-Cola do Brasil. Em 2016, ela destinava à reciclagem 36% das suas embalagens produzidas, índice que saltou a 51% hoje em dia e a meta é elevá-lo a 66% até 2020, ascensão na qual o uso de PET BTB é fator crucial. São boas novas para um material que, no momento, tem sua oferta no Brasil abaixo da demanda. Nesta entrevista, Irineu Bueno Junior, sócio e diretor comercial da paulista Global PET, bússola brasileira da reciclagem BTB, descreve as complexidades econômicas e até mesmo culturais por trás de uma das mais glamourizadas soluções ambientais do setor plástico.

PR – Qual o seu balanço desses últimos 10 anos da trajetória de PET BTB no Brasil?
Bueno – Os dois primeiros reatores de pós-condensação nos permitiram entrar no mercado de PET BTB em 2008. De início, aplicações em embalagens de produtos de limpeza tomavam cerca de 70% da disponibilidade dos equipamentos. Dez anos se passaram e o material ganhou homologação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e evoluiu em tonalidade e regularidade. O nível dos clientes acompanhou esse progresso. Hoje em dia, temos seis reatores com capacidade para produzir até 1.800 t/mês de resina PET reciclado BTB. Como nada é 100% positivo, esse aumento não foi motivado por retorno do investimento ou oportunidades de mercado em expansão, mas por situações que estão conduzindo a reciclagem BTB para a inviabilidade comercial. Dois dos nossos reatores foram adquiridos de um concorrente que encerrou atividades em 2014 e as vendas evoluíram em volume devido à saída do mercado de mais competidores, diminuindo a oferta e não a tão desejada demanda.

PR – Com base em seus 10 anos em PET BTB, como explica o fato de, no geral, as indústrias que utilizam o material em suas embalagens não alardeiam seu emprego nos rótulos nem para a opinião pública?
Bueno – Esse fato é real, mas está mudando. Multinacionais detentoras de marcas de grande relevância no mercado brasileiro estão preparadas para lançar produtos embalados em frascos de PET reciclado, com ampla divulgação na mídia. Se havia algum preconceito ou receio em fazer essa comunicação à comunidade, isso deve mudar em 2018.

PR – Por quais motivos o segmento brasileiro de reciclagem PET BTB tem primado pela escassez de investidores nesses últimos 10 anos?
Bueno – Apesar de dificuldades como as burocráticas, tributárias e de rentabilidade, não foram baixos os investimentos em reciclagem PET BTB nesses 10 anos. Uma conta minha aponta para capacidade ociosa (das empresas que ainda trabalham e das que estão paradas) de algo em torno de 60.000 t/a, volume que deve ser acrescido de cerca de 20.000 t/a das recicladoras que seguem operando aquém da capacidade nominal. O sobe desce de consumo e câmbio, assim como uma guerra de preços entre os dois fabricantes de PET virgem no Brasil derrubaram a demanda pelo material BTB, causando danos provavelmente irreparáveis no mercado desse reciclado.

PR – Nos idos de 2009, qual era, em média, a diferença entre os preço de PET BTB e PET virgem? E hoje em dia? E como a cotação da resina virgem influi, na prática, na preferência ou recusa do cliente a comprar PET BTB?
Bueno – Entre 2007 e 2012 a vantagem econômica de se comprar PET reciclado em substituição à resina virgem repousava entre 10% e 15%. Alguns problemas pontuais, como valorização do Real entre 2013 e 2014, atrelados ao baixo preço internacional do petróleo e PET, trouxeram o preço da resina virgem no Brasil a patamares inferiores ao do similar reciclado. A demanda pelo reciclado foi à lona nessa época e a expectativa foi violentamente frustrada, lembrava a Copa do Mundo no Brasil. Pior do que o massacre alemão do 7×1, a reciclagem de PET BTB tomou 10 x 0 da resina virgem. Essa inversão da balança de preços ocorreu novamente em 2016/17. Baixa de consumo, petróleo na lona e guerra de preços entre os dois produtores de PET no país deixaram a resina virgem nacional mais barata que a reciclada. Houve empresas de reciclagem que não conseguiram sobreviver a mais esse período de trevas. De novembro último para cá e até sabe-se lá quando, a demanda mais alta do petróleo pelo frio congelante do hemisfério norte aliada à pequena desvalorização do Real, furacão nos EUA e parada na produção da M&G no mundo (recuperação judicial na Itália e EUA) fizeram com que PET virgem encarecesse e, no momento, o poliéster reciclado nacional tem preços de 15% a 10% mais baratos que o similar virgem.
Conto essa história como justificativa para aquele discurso de muitos grandes consumidores de PET grau garrafa: “sou sustentável e prefiro PET reciclado sempre que custar menos que o virgem.”

PR – Na esfera da reciclagem de PET, 2017 marcou pela quebra de um peso-pesado nacional, a Unnafibras. À parte a hipótese da gestão a desejar, a conjuntura de anos seguidos de recessão e o aumento dos recicladores menores do poliéster explicam a derrocada da empresa?
Bueno – Como já mencionei, os últimos cinco anos foram tenebrosos para a reciclagem PET BTB. Foi muito azar da Unnafibras finalizar o investimento na super moderna linha de BTB num período de baixa demanda pelo reciclado. Na trajetória de 17 anos da Global PET, 2014 foi o único período em ela parou a produção por 60 dias devido à baixa de vendas. Lembro ainda que a demora na obtenção do registro do produto BTB na Anvisa também foi fator determinante para as dificuldades de a Unnafibras encaixar seu material no mercado. Já em relação à especialidade da empresa, 2014 foi marcado por grandes volumes de importação de fibras de poliéster chinesas e por ampla redução de consumo nos mercados automobilísticos vestuário, moveleiro e de construção civil. Ou seja, foi um tsunami político/econômico que pegou essa gigante da reciclagem num momento de grande vulnerabilidade. A Global PET nasceu tendo a Unnafibras como principal parceiro, exemplo e modelo a ser seguido. Infelizmente a falência do grupo foi decretada em dezembro último.

PR – Quais os diferenciais da Global PET em relação à concorrência?
Bueno – Nossos clientes compram PET-PCR mas recebem muito mais do que isso. Do lado econômico, os preços são justos e a negociação bastante flexível. Em relação à qualidade, o produto é registrado na Anvisa (RDC20/2008) e conta com boas práticas de fabricação (BPF- RDC 275/2002). A Global PET atende a todos os requisitos ambientais e surpreende no tocante ao processo de lavagem de flakes, desenvolvido e aperfeiçoado internamente. Ele consome menos do que 300 mL de água por quilo de flake lavado. Esse número impressiona por ser de 10 a 15 vezes menor que o normalmente obtido por sistemas concorrentes de lavagem à quente de flakes do poliéster.

PR – Quais os planos da Global PET para este ano relativos a melhorias tecnológicas e aumento na capacidade de reciclagem?
Bueno – Já viabilizamos a aquisição de equipamentos mais modernos para produzir PET-BTB. O aumento de capacidade, de 1.200 para 1.800 t/mês, será complementado pelo uso de novas tecnologias, permitindo-nos disponibilizar aos clientes um produto mais regular, com melhor aspecto visual e menor custo de transformação.

O caminho da volta

Termotécnica incrementa parcerias para garantir suprimento de refugo para reciclagem

Nº1 latino americana na produção de poliestireno expandido (EPS), a catarinense Termotécnica também é o pêndulo do segmento na reciclagem do material, a ponto de seu recuperado figurar, sob a marca Repor, ombro a ombro com as demais frentes de atuação da empresa: embalagens e componentes, agronegócio e movimentação de cargas. De acordo com a última edição do seu relatório anual de sustentabilidade, mesmo com o drástico recuo no volume transformado de EPS no país, decorrência em especial da linha branca e construção civil à deriva, a Termotécnica tem confirmado desde 2014 a fama de ponto fora da curva no ramo por vir ampliando, proporcionalmente, a reciclagem de materiais provenientes da logística reversa. Nesta entrevista, o presidente Albano Schmidt expõe a garra da companhia fundada em 1961 por sua família em Joinville para reagir à conturbada conjuntura de maré baixa na produção nacional de EPS reciclado.

PR – Dada a falta de números oficiais, quais as estimativas da Termotécnica para o consumo nacional de EPS em 2017 versus cinco anos antes? E qual a parcela do volume total de EPS pós-consumo destinado à reciclagem no ano passado?
Schmidt – Em relação ao consumo aparente de EPS, segundo estatísticas da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), houve em 2017 uma retração do mercado que, por sinal, teve seu pico em 2013 e 2014, atingindo a marca de 106.000 t/a. Em 2016, voltamos ao desempenho alcançado em 2010, algo na casa das 85.000 t/a. Quanto ao ano passado, ainda não foram divulgados os valores, mas acreditamos que estejam ao redor das 90.000 toneladas. Desta forma, temos um declínio aproximado de 15%. A queda tem reflexo direto na disponibilidade de materiais a serem reciclados. A baixa da atividade econômica como um todo também pesou para diminuir as importações. Muito do EPS reciclado vem de produtos importados. Com isso, o volume de EPS na ponta reduziu, mas, de acordo com o relatório de sustentabilidade 2015/2016, a Termotécnica conseguiu aumentar, em valores relativos, a sua taxa de reciclagem ou de material recuperado, hoje na casa dos 20%.

PR – Qual a atual capacidade instalada da Termotécnica para reciclar EPS e qual o volume reciclado em 2017?
Schmidt – Nossa capacidade instalada para reciclagem é de 5.000 t/a. No ano passado, recolhemos e reciclamos ao redor de 2.000 toneladas. Nos últimos 10 anos, recolhemos e reciclamos mais de 35.000 toneladas de EPS, na forma de PS para segundo uso. Atuamos com reciclagem em todas as nossas unidades: além da sede em Joinville, constam as plantas em Manaus (AM), Petrolina (PE), Rio Claro ( SP) e São José dos Pinhais (PR).

PR – A recessão tem castigado nos últimos anos dois bons mercados de EPS: o acondicionamento de eletroeletrônicos como geladeiras e a construção civil. Como o retraimento deles afetou o suprimento do expandido pós-consumo para a reciclagem da Termotécnica?
Schmidt – Tivemos que adequar a nossa estrutura de custos e reestruturamos a operação. Nossa grande estratégia tem sido o estabelecimento de parcerias. Entre os aliados conquistados para a reciclagem da Termotécnica figuram, por exemplo, referências de indústrias e do comércio, como Via Varejo, Angeloni e Grupo Zaffari, totalizando mais de 15 empresas ; gerenciadores de resíduos, com mais de 80 parcerias; e cerca de 300 cooperativas e prefeituras, a exemplo das baseadas em Joinville, Jaraguá do Sul, Canoinhas, União da Vitória, Araucária, Rio Negro, São Bento do Sul, Blumenau, Araras, Rio Claro, Indaiatuba, Santa Bárbara d’Oeste, Campinas, Cotia, Itu, Americana, São Carlos.

PR – Na esfera do EPS virgem, como a Termotécnica tem procurado compensar a retração em bens duráveis e materiais de construção desde a segunda metade de 2014?
Schmidt – A saída tem sido explorar mais o agronegócio, já servido pela Termotécnica com bandejas para mudas, caixas para conservação de hortifrútis e para o transporte das melgueiras à casa do mel por apicultores. A propósito, vale frisar que a empresa não dispõe de excedente do seu EPS reciclado. Todo o material recuperado pela Termotécnica é vendido para outras empresas que assim agregam valor a aplicações como molduras e rodapés.

PR – Os principais mercados internos do estireno (matéria-prima de EPS) têm sido penalizados pela recessão. Como esta conjuntura tem afetado os preços médios de EPS virgem?
Schmidt – Os preços médios do estireno e do EPS são afetados por vários fatores. A título de referência, no ano passado, tivemos um pico de valores em fevereiro e março por obra de paradas pontuais de duas grandes plantas do monômero nos EUA (Cosmar e Americas Styrenics, segundo o portal Platts). Acidentes afetam o preço, tal como o câmbio e o barril de petróleo. Aqui no Brasil a disputa de mercado entre os produtores de EPS faz com que tenhamos uma grande guerra de preços que afeta toda a cadeia. Na transformação do material, em referência às pérolas para produtos moldados como embalagens, o uso é de material virgem (estireno expandido com pentano e as pérolas resultantes são expandidas através de vapor, segundo a Associação Brasileira do Poliestireno Expandido). Na composição de EPS, as pérolas consistem em até 98% de ar e 2% de PS. Como já assinalei, o material reciclado deixa de ser EPS, transfigurando-se no polímero, PS, desprovido de agente expansor. Portanto, seu mercado diverge dos campos de atuação do expandido virgem; daí também porque não faz sentido o cotejo entre os preços de EPS virgem e reciclado, pois não competem entre si.

Processo em progresso

Primado da automação dá um up no reaproveitamento de plásticos

“As demandas do mercado mudam periodicamente e, conforme o momento, a máquina mais procurada pode ser a de médio ou a de grande porte”, constata Paolo De Filippis, diretor geral da Wortex, nº1 nacional em sistemas fechados para granulação/reciclagem de plásticos flexíveis e rígidos. Devido a essa alternância na preferência da clientela, justifica o dirigente, seu portfólio não tem um carro-chefe.

Na selfie do catálogo, duas linhas da série de equipamentos Challenger Recycler são as bolas da vez. “O modelo Geração II opera com baixo custo operacional sem a necessidade de aglutinar e pode processar com 100% de materiais flexíveis ou rígidos, ou então, 80% de flexíveis com adição de até 20% de rígidos”. Por seu turno, segue De Filippis, o foco do modelo Conical são as indústrias decididas a gerenciar suas aparas com investimento módico e retorno a curto prazo. “O equipamento assegura a reciclagem do refugo fabril ao pé da máquina básica, aprimorando os ganhos no processo de extrusão”, esclarece o fabricante, assegurando para ambas as linhas acesso remoto para suporte técnico.

Capacidade máxima de 1.200 kg/h
Com alta milhagem de voo no setor, a Marlon Máquinas assedia recicladores em duas frentes: periféricos em separado e sistemas fechados para recuperação de descarte de PET e poliolefinas. No primeiro comparecimento, a empresa comparece com silo, afiador de facas, moinho granulador, lavadora, tanque descontaminador, centrífuga, ventoinha, tirador de rótulos e esteira de triagem. “Moinhos e tiradores de rótulos estão entre os equipamentos auxiliares mais procurados”, aponta o diretor presidente Marlon Braz. Na esfera dos sistemas completos, o mostruário para reciclagem de PET abriga quatro modelos com capacidades de 300 a 1.200 kg/h e vale o mesmo para a série de equipamentos dedicados a polipropileno (PP) e polietileno (PE). No tocante à reciclagem de filmes, a Marlon oferece sistemas nas versões de 600 e 900 kg/h.

Um ponto alto do portfólio é a patenteada linha Unika, desenhada segundo os ditames das normas de segurança NR 12 e NR 10 para reciclar 300 kg/h de aparas ou sucata pós-consumo de PET, PP e PE. O material é colocado na moega da esteira que o remete ao moinho. A seguir, o moído passa por lavagem destinada a livrá-lo de contaminantes. Um tanque separa os materiais por densidade e dali são despachados para as respectivas secadoras, sendo então alojados nos silos. Munido com decantação para momentos de parada, o sistema de reaproveitamento de água da polivalente linha Unika opera em circuito fechado com filtro de retenção de óleo e de partículas como as de areia. “Em todos os nossos projetos o consumo de energia dos motores é monitorado por dispositivos eletrônicos, responsáveis pela alimentação coordenada, de modo a evitar atolamento ou paradas desnecessárias”, ressalta Braz, garantindo a partida de suas linhas em dois dias a partir da chegada à fábrica do cliente.

Strutkol: cerejas no bolo da reciclagem

Craque em aditivos para plásticos, a norte-americana Strutkol garimpa negócios em todas as frentes da reciclagem de resinas. “Tratam-se de produtos que, mesmo quando aplicados em baixas dosagens, aprimoram o desempenho final do reciclado, abrangendo desde poliolefinas a materiais de engenharia”, abarca Fernando Genova, diretor da Parabor, distribuidora de Strutkol no Brasil.

O portfólio inclui auxiliares resultantes de pesquisa na área de reciclados da empresa sediada em Ohio. “É o caso de Strutkol RP11 e RP 37, dois modificadores de viscosidade de compostos de polipropileno (PP) fornecidos em pastilhas”, exemplifica Genova. “Adicionados em concentrações tão baixas quanto 0,2% na extrusão ou injeção, eles proporcionam ao reciclador compostos com faixas conhecidas e controladas de índice de fluidez”. A propósito, ele distingue, o auxiliar RP11 tem sido bem aceito por recicladores, mérito de sua oferta em pellets e das vantagens sobre aditivos baseados em peróxidos orgânicos. “Entre elas, a não reticulação de possíveis concentrações de polietileno na mistura e a manutenção ou perda mínima de propriedades mecânicas do composto”, assinala o diretor.

Para o reciclador zerar odores indesejáveis através da redução da emissão de substâncias voláteis, associadas à sucata plástica, a pedida é Strutkol RP17, elege Genova. Se a busca for por um efeito combo, Genova bota no balcão Strutkol RP06. “Reduz a viscosidade e odores e modifica propriedades de compostos de PP”, ele sintetiza. Já o aditivo RP28 mostra serviço ao melhorar as características de fluxo entre materiais de diferentes viscosidades. “Em especial na adição de PVC reciclado ao composto virgem em pó”, encaixa o distribuidor. Mão na roda para o reciclador de lixo plástico de constituição polimérica imprecisa, ele prossegue, é Strutkol TR052. “Age como compatibilizante para aperfeiçoar o processamento e homogeneidade das propriedades do composto”.

O cerco fecha com as soluções brandidas para a reciclagem de plásticos de engenharia. Conforme Genova explica, Strutkol TR219 é recomendado para trabalho com PET e polibutileno tereftalato (PBT), enquanto o auxiliar TR 229 dá conta de policarbonato e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno. “Ambos os aditivos são adequados à reciclagem de poliamidas”, finaliza o executivo.

DNA sensorial
Em nove anos de mineração da demanda, a escandinava Tomra comercializou perto de 50 sistemas de seleção de materiais, estima Carina Arita, gerente comercial do escritório local da empresa. Boa parte dos sensores por radiação infravermelha (IV) vendida no plano mais recente contemplou a triagem de refugo plástico destinado à reciclagem, tornando assim arcaica a separação manual. “Nosso modelo vendido é o equipamento Autosort, capaz de identificar por tipo e cor os polímeros ainda na etapa de preparo do material para a reciclagem”, assinala a executiva. “A seleção prévia garante que as impurezas contidas nos fardos sejam tiradas de linha numa operação estável e de capacidade adequada a cada cliente”. Na mesma trilha, ela encaixa, os sistemas de seleção automatizada da Tomra, bafejam a produtividade dos recicladores devido à alta pureza do material a ser recuperado, fora facilidades como a emissão de relatórios estatísticos demonstrando o perfil do material identificado no processo segregador.

Entre os novos ases que tira da manga, Carina distingue o equipamento Autosort PET. “É capaz de diferenciar garrafas (mono e multicamada) e bandejas, conforme as características da molécula do poliéster termoformado”, expõe a especialista, indicando a mesma tecnologia para identificar refugo de filmes de PE. “Outra inovação, para agregar ao Autosort, é o sensor a laser LOD para o reconhecimento de elementos de identificação limitada pelo sensoriamento IV. “Por exemplo, vidros, objetos pretos ou inertes, em regra misturados ao refugo recuperável”.
A postos na raia vizinha, a alemã Steinert também apalpa o terreno para seus sensores IV pelas mãos da Schmuziger Consultoria e Representações. “Temos duas máquinas para separar plásticos em operação no Brasil e uma no Chile, instaladas nos últimos três anos”, expõe o agente Maurício Schmuziger. Conforme salienta, mais de 500 equipamentos da Steinert hoje rodam no setor plástico internacional e o carro-chefe é o sensor UniSort PR. “Identifica o material por tipo de polímero e pode ser combinado com câmera para a detecção por cor”, ele nota.

O pulo do gato do sensoriamento da Steinert, abre Schmuziger, é o recurso de câmaras IV Hyper Spectral Imaging (HSI). “Ao contrário dos sistemas tradicionais, essa tecnologia dispensa o uso de lentes, cabos de fibra ótica e espelhos rotativos, realizando a leitura direta da luz refletida pelos polímeros em toda a extensão da esteira, ao mesmo tempo, enquanto os demais sensores habitualmente executam a leitura ponto a ponto”, distingue o representante.” Tem mais, ele salienta. “Em regra, os sistemas convencionais de detecção e separação de plásticos possuem apenas 16 pontos de medição sobre a correia e processam cerca de cinco milhões de dados por segundo, enquanto o sensoriamento HSI conta com 256 pontos de medição e capacidade para analisar mais de 27 milhões de informações por segundo”.

Schmuziger elenca três lançamentos do portfólio da Steinert. Ele começa a tríade pelo sensor UniSort Film. “Seleciona filmes do refugo superando o desafio da dificuldade de se manter estável esse material de baixo peso específico sobre as esteiras”. A lista fecha com os sensores UniSort Black e Blackeye, ambos dedicados à triagem de plásticos pretos, sendo que o primeiro identifica o material por tipo de polímero e o segundo também o faz pela cor.

Prova de fogo para o Waze

Desvios e curvas fechadas na pista dos recicladores

A economia informal, pela régua da FGV, movimentou R$1,050 trilhão no Brasil em 2017 ou R$13 bilhões acima do saldo aferido em 2016. No entanto, a combinação de quatro anos de recessão com o Fisco mais equipado tem abalroado o mercado paralelo da reciclagem de plástico pós-consumo. “A informalidade sempre foi o calcanhar de aquiles do setor e a consequente dificuldade de organização e geração de indicadores confiáveis de desempenho também resultam da falta de incentivos à cadeia”, pondera Rafael Fernandes, gerente administrativo da Barreflex, dínamo nacional na recuperação de aparas industriais e sucata plástica previamente limpa e seca. “Diante desse cenário, caiu muito a incidência de novos empreendedores em plantas de recuperação de resinas, haja vista a demanda em alta pela terceirização dos serviços de reciclagem que prestamos (moagem, granulação, compostagem e descaracterização)” .

A tiracolo da estratégia de correr neste vácuo pedregoso, salienta o executivo, o período de 2014 até o momento marca como a fase de mais investimentos na trajetória de oito anos da Barreflex, recicladora controlada pela SR Embalagens, convertedora estelar em flexíveis e maior fonte das aparas recuperadas. “Ampliamos as áreas fabris, reforçamos a base comercial e enfatizamos a automação nos processos”, expõe. “Ou seja, transpusemos para a prática aquele termo da engenharia de software, a espera ativa, aproveitando o momento para investir na redução de custos e aumento da produtividade, caso da interface homem/máquina via CLP nas linhas de granulação”. Já no início deste ano, ele encaixa, recursos foram aportados para turbinar o laboratório da Barreflex de olho nas exigências crescentes de redutos de polietileno (PE) reciclado como filmes de baixa espessura e tubos de irrigação.

Na selfie atual, as duas unidades da Barreflex no interior paulista (Barretos e Sumaré) somam capacidade instaladas superior a 1.000 t/mês para reciclar poliolefinas. “Até o momento, a reciclagem de PET não nos atraiu devido à grande dificuldade de captação de matéria-prima”, justifica Fernandes. “O grosso do poliéster limpo segue para a indústria têxtil”.

Os diferenciais do parque industrial da Barreflex provam o acerto da política de investimentos incessantes. Fernandes distingue, nessa batida, os trituradores de borras ou peças de grande porte (para-choques e painéis, p.ex.), filtragem automática, corte na cabeça e sistemas duplos de degasagem na etapa da extrusão. “Possibilita o processamento de estruturas multicamada e multimaterial impressas”, completa. Ainda no âmbito da extrusão, o executivo destaca os ganhos de escala e precisão advindos da troca dos controladores de temperatura por sistema de CLP com gráficos para arquivos de receitas e para alertar operadores sobre variações no processo. “O próximo passo de automação acontecerá na separação dos materiais antes da moagem”, ele antecipa.

Wecycle: Braskem alarga o horizonte da reciclagem

A caminho dos três anos de ativa em maio, a plataforma Wecycle da Braskem já tem como provar a transposição para a prática da intenção de desenvolver ações e negócios, via parcerias, para valorizar o reciclado originário de refugo plástico pós-consumo. Os projetos viabilizados incluem reciclagem de sacarias e big bags de polipropileno (PP), reciclagem de polietileno (PE) para peças de bikes (MuzzyCycles)e parcerias como a que firmou com o Grupo Pão de Açúcar, centrada em pontos de entrega voluntária de descarte, mesmo aliado no lançamento do pote soprado de plástico reciclado para o tira manchas em pó Qualitá, marca do varejista. Ainda em janeiro, veio à tona a quinta parceria: PP reciclado de refugo de big bags aproveitado pela transformadora gaúcha de utilidades domésticas Martiplast para injetar três versões (10,5 l; 16 l e 32 l) de caixas organizadoras à venda na rede de materiais de construção Leroy Merlin. “O objetivo da plataforma é dispor de projetos em aplicações de maior valor agregado e diferentes segmentos e fontes”, expõe Fabiana Quiroga, diretora da área de reciclagem & plataforma Wecycle.
No momento, ela confirma, PP e PE dominam de ponta a ponta o rol de realizações da plataforma. “É uma decorrência do maior volume desses materiais em produtos para consumo de curto ciclo de vida”, argumenta Fabiana. Isso não significa que PVC foi chutado para escanteio. “Estamos bem avançados em um projeto com reciclagem de embalagens do vinil em final de vida útil para gerar tapetes táteis e decorativos”. A sacada está em fase de certificação junto a parceiro não revelado da Braskem. A diretora, por sinal, não abre o nome dos recicladores e (fora a Martiplast) de transformadores homologados pela plataforma. “Estamos em fase de formalização de contrato e ainda não podemos divulgar as empresas”. Mais à frente, deixa patente Fabiana, a Wecycle pode estender o raio de ação debruçando-se sobre o chão de fábrica do reaproveitamento de sucata plástica. “Nosso objetivo é desenvolver a cadeia de reciclagem, tanto na busca de soluções de produtos com conteúdo reciclado como no desenvolvimento tecnológico”, delimita a executiva. “Com este avanço nas parcerias, decerto apoiaremos os recicladores na busca de evolução na produtividade e qualidade”.

Foco no valor agregado
Com 11 anos de batente e capacidade nominal de 25.000 t/a, a Wise, suprassumo da reciclagem de plástico pós-consumo, já venceu esse estágio da redução da intervenção manual na trigem de resíduos em sua sede em Itatiba, interior de São Paulo. “Instituímos a separação automática de material há cerca de três anos, com o intuito de melhorar o padrão do refugo plástico a ser processado e, por extensão, a qualidade do reciclado entregue aos clientes”, assinala o diretor comercial Amarildo Bazan. No mesmo diapasão, Bruno Igel, diretor superintendente da Wise, acentua, ao lado do requinte do laboratório de P&D, a dianteira tecnológica do seu parque de máquinas adiantando a chegada este ano de um equipamento europeu de marca não especificada. “Será destinado ao processamento de materiais cada vez mais sujos e hoje não reciclados, provenientes de aterros e lixões”, delimita. Bazan encaixa, a propósito, a excelência da Wise no tratamento de determinadas aparas industriais, tipo ráfia e filmes biorientados de polipropileno (BOPP). “A empresa investe com consistência para conseguir utilizar resíduos irrecuperáveis por outros recicladores, a exemplo de BOPP, refugo de fraldas ou garrafas de óleo lubrificante, com o propósito de vender esses reciclados a segmentos nos quais esse tipo de material não entra ou é bem pouco empregado, como o automotivo e eletrônico”. Por ora, PET não é captado pelo radar da Wise. “Trata-se de um mercado relativamente consolidado, de escala menor e enorme dificuldade de coleta do refugo descartado”, ele argumenta.

A montante da cadeia produtiva, coloca Igel, a Wise cultiva parcerias com sistemas estabelecidos de coleta para a cadeia de suprimentos partir para o nível de tecnologia atingido pela empresa, cuja produção ostenta o aval de qualidade da ISO 9001. “É a única maneira de agregar valor à reciclagem, ou seja, ofertar especificações técnicas correntes com as necessidades da indústria usuária do material recuperado”, argumenta o dirigente.
Outro ás na manga da Wise, insere Igel, é a qualificação do atendimento. “Temos nos aproximado cada vez mais das grandes companhias, tentando aos poucos tirar o preconceito contra o reciclado, fruto da informalidade e inconstância do produto acabado, e partindo para desenvolvimentos conjuntos e, eventualmente, movidos por grandes investimentos”. Fala por si o reciclado de PE fornecido pela Wise como parceira de um desenvolvimento articulado pela plataforma Wecycle da Braskem (ver quadro): o pote soprado do tira-manchas em pó Qualitá, marca do Grupo Pão de Açúcar (GPA). “O reciclado pode ajudar a Braskem a viabilizar o uso de plástico em mercados dominados por outros materiais de custo abaixo da resina virgem”, pressupõe Bazan.

Quatro anos de recessão pisando nos calos deixaram um retrogosto agridoce na boca do setor reciclador. “Empresas de todos os portes fecharam, mas novos recicladores não param de surgir”, percebe Bazan. “O problema de fundo é a queda na rentabilidade e volume gerada na indústria pela crise, levando alguns dos grandes e todos os pequenos recicladores à informalidade para sobreviver, cenário desestimulante para o planejamento a longo prazo, aportes em tecnologia e para a consequente atração de players de peso, capazes de ampliar a escala do segmento”. No Brasil de hoje, ele evidencia, não há como abrir o apetite desses investidores, efeito das condições ruins de competitividade e do nó cego fiscal. “O setor carece de legislação tributária específica e de incentivos à reciclagem como crédito mais barato”. De outro ângulo, Bazan aquiesce que, com o país quebrado, acabou o tempo de setores clamarem pelo paparico de incentivos fiscais sob medida. Mas ele levanta um ponto-chave a ser considerado no debate: a falta de isonomia tributária. “Estudo do próprio governo federal constata que a resina virgem desfruta carga tributária inferior à do reciclado”, assinala o diretor comercial da Wise. “Além disso, os benefícios fiscais para as indústrias do petróleo e petroquímica geram efeitos perversos enquanto o setor reciclador subsiste sem incentivos”.

PVC: Alassia reage à baixa nas aparas

Escalpelada pela recessão desde a segunda metade de 2014, a construção civil, jugular do consumo de PVC, nocauteou as vendas da resina virgem e afetou bastante a disponibilidade de aparas industriais no mercado, confirma Daniela Silvestrini Marinacci, gerente de marketing da recicladora sorocabana Alassia, dedicada à recuperação de resíduos do vinil. “Essa situação nos levou a uma nova frente de trabalho: serviços para indústrias que precisam reaproveitar suas aparas”, informa a executiva, justificando assim a decisão de investir este ano em equipamentos como extrusora, misturador e micronizador para atender demandas não só de usuários de aparas de PVC, mas também de poliolefinas.

Daniela projeta a capacidade instalada da Alassia na marca de 200 t/mês para reciclagem de PVC. A concentração do negócio nas aparas do vinil perdurou da fundação, em 1995, até os idos de 2015. “A crise nos fez olhar de forma mais abrangente para outros plásticos, caso de PP e PE”. No âmbito de PVC, a Alassia se supre de aparas de artefatos rígidos e flexíveis provenientes de duas fontes. “Retiramos o material de transformadoras com caçambas estacionárias próprias e trabalhamos com atravessadores que negociam aparas de empresas e com indústrias que nos trazem seu refugo para ser reciclado e reutilizado internamente”. Com a retaguarda de um laboratório de análise em sintonia com as expectativas do mercado, a Alassia, frisa a gerente de marketing, tem por linha mestra oferecer um reciclado 100% livre de contaminantes.

Predomínio de aparas
Com vocação original para beneficiar plásticos de engenharia, a componedora NBR completa em julho próximo um ajuste de rota que um plano de reestruturação do negócio a aproximou da reciclagem de poliolefinas. A virada brotou com a chegada de Edilson Gomes, com alta milhagem no mercado de PE e PP reciclados, à diretoria comercial da empresa. “Mas o foco primordial segue no segmento de compostos de poliamida e PP, sendo esta resina virgem ou reciclada”, ele explica.

Na linha de frente da fábrica em Sorocaba, interior paulista, constam duas linhas de reciclagem fechada Challenger, da brasileira Wortex. “Após alterações na configuração delas, aumentamos nossa capacidade instalada e passamos a contar com a possibilidade de extrusar poliolefinas ou resinas de engenharia”, observa Gomes, fechando o parque produtivo com duas extrusoras de dupla rosca e a retaguarda de um laboratório nos conformes e um time comercial reorganizado. “Os clientes de resina reciclada querem produtos mais baratos que o material virgem, mas sem abrir mão do padrão de qualidade”, nota Gomes. “O grosso do volume que trabalhamos provém de aparas industriais, produtos limpos e de fácil identificação da origem, proporcionando-nos grande controle da qualidade do reciclado gerado” . •

 

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