Chores por mim, Argentina.

Recessão e o calote sapecado em credores pelo governo de Cristina Kirchner atearam fogo às vestes do comércio da Argentina com o Brasil e, por tabela, a cadeia plástica sai chamuscada. “É uma questão momentânea, de elevada instabilidade, protecionismo e liquidez reduzida, situação sem muita tranquilidade prevista também para 2015 devido às eleições na Argentina”, pondera Otávio Carvalho, diretor da consultoria MaxiQuim. Mas ele contrapõe que o país já viveu dias piores e seguiu crescendo. Além do mais, diz, trata-se de mercado dolarizado, “onde não se discute o imediato repasse da desvalorização do peso no preço da resina”. Como alternativa aos termoplásticos e transformados do Brasil para contornar a anemia da demanda argentina, Carvalho sugere, além do mundo extra bloco comercial, alternativas regionais óbvias e de economia aberta – Paraguai, Peru, Equador, Chile, Colômbia e ele ousa citar até a Venezuela.
Quanto às perspectivas para os termoplásticos argentinos, o consultor vê o país, no plano geral, como importador líquido de resinas, exceto PVC e polietileno linear. “Sua petroquímica não tem dificuldade para colocar a produção internamente, mas é evidente algum efeito sobre suas vendas originário da redução da liquidez dos compradores”, conclui. “A situação é pior para os distribuidores, devido ao seu poder de fogo inferior ao das petroquímicas para conviver com os problemas da transformação e seus clientes”. Se a demanda doméstica soçobrar, ele raciocina, as exportações podem aliviar a barra e o destino mais lógico é o Brasil. “Mas esse potencial aumento do fluxo de resinas de lá para cá é muito pequeno em relação ao nosso consumo”, compara o expert. “Se o movimento argentino caísse 15-20% e – algo improvável – esse percentual viesse para o Brasil, equivaleria a 3-5% do mercado daqui, parcela insuficiente para mudar a estrutura dos nossos preços internos de resinas; seu principal efeito seria deslocar produtos de origens como EUA, Ásia e África do Sul”.
Em contraste, José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), afirma que a Argentina não tem excedente para exportar digno de nota, sejam resinas ou transformados. Portanto, não vê risco de o Brasil ser invadido por produtos de lá. Há bons anos, nota, não pingam investimentos para expandir a petroquímica argentina, de produção, aliás complicada também pelo déficit no suprimento de gás natural. “Pior do que estagnação, o setor está fadado à deterioração na Argentina, como tem ocorrido na Venezuela”, associa Roriz. Uma pena, acrescenta o dirigente, porque a Argentina sempre teve matérias-primas petroquímicas, razão pela qual sua indústria plástica foi erguida, fora o país alojar uma das maiores reservas mundiais de gás de xisto. “Mas hoje em dia não há investidor no mundo com coragem de colocar dinheiro ali”, ele assevera.
Para a Argentina sair da catatonia, julga Roriz, não é só a economia que precisa de sérios ajustes. “Os problemas sociais devem ser resolvidos antes e não vejo o sistema político apto para enfrentar a situação”, ele lamenta. O crescimento da economia vizinha, aliás, não será retomado de um ano para outro, mas em décadas, julga o dirigente. Enquanto isso, o transformador brasileiro não tem alternativa senão cantar em outra freguesia para canalizar suas minguadas exportações. “O setor plástico daqui não tem cultura de vender ao exterior e ainda se acomodou com as trocas com clientes argentinos”, ele critica. De qualquer forma, boas opções na região, palpita Roriz, incluem Peru, Chile, Equador e Colômbia, “cuja população já supera a da Argentina”, ele encaixa.
Carlos Fadigas, presidente da Braskem e da Associação Brasileira da Indústria Química, preferiu não se manifestar sobre o imbróglio, escorado em alegações como a instabilidade da conjuntura. •

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