Nos dias de hoje, encontrar quem invista numa fábrica zero bala de transformação de plástico é achar agulha em palheiro. Ainda mais quando o foco da produção recai num filme ultra tradicional, a ser gerado em baixa escala para duelar no mercado nacional com uma concorrência maciça e super pulverizada. Pois nada disso intimidou os irmãos Marcelo e Marcos Prando, donos da distribuidora paulistana Replas, a aportar cerca de R$ 6 milhões numa fábrica de shrink com partida agendada para novembro na Zona Franca de Manaus. “Como diz o zilhardário Warren Buffett, ‘quando todos estão gananciosos, tenho que ser medroso e quando todos estão medrosos, tenho que ser ganancioso’’’, cita Marcelo. “Na verdade, sou um otimista cauteloso, pois nosso investimento está 100% pago; o risco do negócio foi calculado”.
Entrar na transformação era um sonho dos sócios da Replas com raízes familiares. “Meu pai, João Prando, iniciou em sua empresa a produção de sacos de lixo em 1977 e nós sempre tivemos o objetivo de dar continuidade à atividade industrial”, justifica Marcelo. Ele admite que poderia ter fincado a planta de shrink em outros núcleos de transformação movidos a benefícios fiscais e mais próximos da demanda do Sul/Sudeste, a batuta do consumo brasileiro. “Esses núcleos dispõem de incentivos tributários estaduais, enquanto em Manaus eles são federais”.
Conforme divulga o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam),para o investidor conseguir os incentivos, precisa cumprir um mínimo de atividade de manufatura – Processo Produtivo Básico (PPB) – , definido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) conforme o produto em vista. O decreto 6.008/2006 dispõe que, para instalar-se na Zona Franca, uma indústria deve requisitar o PPB ao Conselho Administrativo da Suframa e essa autarquia tem até quatro meses para responder. Segundo o Cieam, hoje as empresas chegam a esperar cinco anos por uma autorização, demora prejudicial para os investidores e atribuída pela entidade ao grupo de trabalho formado por funcionários do MDIC e Ministério da Ciência e Tecnologia. Marcelo Prando informa que a tramitação de seu projeto na Suframa remonta ao início de 2014 “e estamos partindo a planta quase dois anos depois”. Para o consultor Bernard Appy, ex titular da cúpula do Ministério da Fazenda de 2003 a 2009, os incentivos de Manaus compõem uma aberração tributária a ser extirpada quando se fizer uma reforma fiscal a sério, declarou em palestra no Seminário de Competitividade 2015 (ver à página 40).
O sonho dos irmãos Prando foi batizado como MM Indústria da Amazônia Ltda. e ambos detêm participações societárias iguais. Eles rechaçam a hipótese de esse investimento afetar a Replas, por estarem competindo com quem compra dela polietileno para extrusar shrink. “Pretendemos atender uma fatia do mercado que não criará conflito com os clientes da Replas que produzem o filme”. Tendo como gerente industrial Marcos Rossatti, figura carimbada da petroquímica nacional, a MM parte com extrusora de capacidade estimada em 350 t/mês de filme mono com espessura mínima de 30 micra e largura útil de 2.500 mm. Wilson Carnevalli Filho, diretor comercial da Carnevalli, esclarece que a máquina vendida para a nova fábrica consta de um modelo Polaris Plus munido de rosca de 100mm de diâmetro com relação L/D 1:30. “O cabeçote possui matriz de até 550 mm e a produção chega a 500 kg/h, respaldada por recursos como controle gravimétrico de seis componentes, resfriamento interno do balão, torre com arraste reversível e bobinador automático com células de carga. Carnevalli distingue os préstimos do controle de espessura por anel de ar automático. “Proporciona excelente estabilização, levando a ganhos de até 20% de produtividade”, acentua.
Marcial Cesar Vieira, engenheiro de aplicação para flexíveis de PE da Braskem, observa que o mercado cobra filmes shrink de desempenho compatível com as velocidades crescentes dos túneis de encolhimento, fora espessuras reduzidas e propriedades ópticas adequadas à impressão e código de barras dos produtos unitizados. A Braskem marca de perto essa tendência, ele encaixa com os grades de PEBD TX7003 e LD7000A, de atestada excelência na extrusão, resistência mecânica e grau de encolhimento. “Filmes shrink estão atrelados ao consumo de bebidas,com pico no verão, e aos movimentos do mercado varejista ao longo do ano”, ele nota. Pelo consenso na praça, a disputa entre fornecedores de shrink piorou de tempos para cá a ponto de alguns grandes do ramo terem se bandeado para o reduto menos aviltado do stretch. “Mesmo com todas as barreiras de mercado, acreditamos no potencial do negócio e no nosso trabalho”, reitera Marcelo Prando.
Warren Buffett: “Regra nº1: nunca perca dinheiro. Regra nº2: não esqueça a regra nº1.” •