Vírus engessa petroquímica mundial

virus engessa petroquimica mundial

O corona virou o mundo de ponta-cabeça e, na indústria plástica, a reviravolta afeta de bate pronto a raiz da geopolítica e a cadeia de suprimentos da petroquímica. Na moldura pré-virus, expõe análise de John Richardson, blogueiro do portal Icis, o Oriente Médio ocupava indestronável posição na ponta esquerda, a dos menores custos, em linha, no plano mais recente, com os EUA encarapitado no shale gas.

Com a queda abrupta dos preços do petróleo, esta página acabou virada e, aposta Richardson em seu blog, por bom tempo o barril vai rondar a faixa de US$30. Com essa remexida, a competitividade dos custos dos produtores de etano no Golf dos EUA acha-se agora abaixo dos concorrentes base nafta do sudeste e nordeste da Ásia, China inclusive, bafejados ainda pelos reduzidos gastos de frete para suprir seu continente, completa Richardson. Por seu turno, ele prossegue, os complexos petroquímicos europeus adeptos da rota nafta, usufruem no momento condições bem melhores que os concorrentes norte-americanos, isso sem considerar seus trunfos logísticos para abastecer transformadores do Velho Mundo.

Quanto aos produtores do Oriente Médio, como operam pela rota do gás natural do qual é extraído o etano, caíram em situação similar à dos norte-americanos, constata o analista do Icis. Com a descida de ladeira do barril de petróleo, ele comenta, o histórico pende para o clássico reflexo condicionado de cortes nos índices de ocupação das capacidades no Oriente Médio e EUA, a exemplo da decisão da Dow de paralisar 10% de sua produção mundial de polietileno (PE) e elastômeros. Na mesma trilha, o consumo anêmico também racionaliza a intenção de petroquímicas base nafta de cortar sua produção para suportar o peso do declínio nas cotações do óleo.

Para Richardson, as unidade integrantes do ciclo de expansão da capacidade norte-americana de PE e que ainda não partiram, não terão como materializar o retorno projetado com suas operações antes da pandemia. O analista levanta a hipótese de cortes na produção de gás nos EUA, encurtando por tabela a disponibilidade de etano e reerguendo seus custos, mas ele lembra que novas unidades de eteno/PE na boca da estreia nos EUA são atividades atreladas a grupos produtores de gás natural, extraído da fragmentação do xisto ou de plataformas petrolíferas marítimas. Por essas e outras, ele amarra as pontas, estes crackers e plantas de PE terão de rodar com altos percentuais de operação mesmo sob condições adversas ao extremo para a petroquímica mundial. Dois exemplos excruciantes para as margens nos EUA que ele solta: no cômputo do primeiro trimestre, ainda sem as novas unidades em vistas de partir, as exportações norte-americanas de polietileno de alta densidade (PEAD) subiram 33% frente ao mesmo período em 2019 e os embarques da resina linear (PEBDL) cresceram 40% no mesmo comparativo.

O vento também não refresca para os lados das petroquímicas do Oriente Médio, assinala Richardson, pois a demanda asiática de resinas recuou sob os sinais de segunda onda de infecções e devido ao fato de a recuperação econômica da China transcorrer com torque bem menor do que seus indicadores oficiais sugerem e são escassas as chances de um reerguimento relevante acontecer até o final de 2020 em razão da descomunal perda de riqueza infligida pelo vírus e dos ultra elevados estoques de produtos acabados em geral ainda não vendidos mundo afora.

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