A conjunção de três anos de produção interna desfalcada com preços na lua e limitada oferta internacional desde 2020 tornaram hipertensa a transformação brasileira de PVC. Pela medição da consultoria S&P Platts, o preço médio global da tonelada do vinil pulou da faixa de US$1.745-1.755 em abril último para US$2.145-2.155 apenas seis meses depois, valor recorde histórico no Brasil, onde a capacidade nominal do vinil não chega hoje às 1 milhão de t/a aferidas até maio de 2019. Foi quando os efeitos dao acidente geológico levaram a Braskem, maior produtora de PVC no país, a deixar de minerar sal-gema para sua cadeia de soda/cloro. Desde então, o emaranhado da escassez e encarecimento do polímero junto com dólar, inflação e petróleo indigestos sobressalta mercados finais, caso da construção civil, que sempre lista o vinil entre os materiais que mais forçam reajustes nos orçamentos de obras. Nesta entrevista, Eder Ottolini Balbani, expert de milhagem platinum no mercado e cuja representação comercial transita por materiais como PVC importado, pincela o enrosco vinílico sem previsão de trégua até onde a lógica alcança.
1PVC anda com preços recordes e oferta interna insuficiente. Como vê a reaplicação do antidumping para importações da China, oficializada ao final de setembro, para transformadores da resina no Brasil rodarem a contento?
A resolução (GECEX 255 de 24/09/2021) que reaplica a taxa de 21,6% de antidumping para resinas de PVC importadas da China, foi tomada de forma equivocada considerando a economia brasileira atual. Se verificarmos a média de preços da resina nos mercados europeus e asiáticos, podemos constatar reajustes quase semanais. As variáveis do cenário também incluem os impactos decorrentes da grande crise logística mundial em vigor, com aumentos nos valores do frete, a exemplo dos embarques das resinas da China para cá, que passaram de US$2.000 por container antes da pandemia para próximo a US$10.000 em outubro último. Isso afeta direto nossa cadeia de abastecimento de termoplásticos. Vale considerar que as duas indústrias fabricantes de PVC no país (Braskem e Unipar Carbocloro) mantiveram seus preços sem reajustes e até com reduções nos últimos meses precedentes ao repique da sobretaxa no vinil chinês. Logo depois de publicada a resolução, ambos os produtores anunciaram aumentos variando de 12% a 17%.
2Diante da carência doméstica e internacional de PVC e da permanência do gargalo logístico, quais precauções os transformadores daqui dependentes da resina importada devem tomar para reduzir o risco de desabastecimento em 2022?
Ser empresário no Brasil requer muita coragem. É o que se deduz diante da instabilidade fiscal, desemprego e até da concorrência com produtos finais importados, a meu ver merecedores de taxação mais rigorosa. Do plano geral para o campo específico do PVC, o sofrimento dos seus transformadores foi agravado no ano passado com a carência doméstica da resina, pois a produção local não consegue atender a demanda desde os problemas ocorridos com a operação de soda/cloro da Braskem em Alagoas. A persistir a situação atual, fica muito difícil para o transformador tomar uma decisão preventiva. Ou seja, importar e sofrer com o risco da variação cambial e aumentos dos fretes e da resina; importar de países com grades de qualidade questionável ou comprar PVC nacional correndo risco de ficar sem matéria-prima. A propósito, em função dos leilões voltados para concessões privadas de serviços de saneamento e devido às projeções de investimentos na construção civil, não acredito que o setor nacional de PVC consiga atender a demanda futura de consumo de tubos, perfis e esquadrias. Por tabela, os consumidores serão obrigados a buscar opções de compra no exterior e muitos países, em razão de sua maior estabilidade na política financeira / fiscal, oferecem preços mais competitivos que os nossos, quadro prejudicial para nossa indústria de transformação e geração de empregos.
3Qual a possibilidade de transformadores de tubos sem fôlego para acompanhar os reajustes da resina e sem acesso a um fornecimento estável e nos volumes devidos de PVC virgem partirem, para continuar no mercado, para burlar normas técnicas com artimanhas como o uso de resina reciclada ou de maiores teores de carbonato de cálcio?
Nossos fabricantes de tubos carecem de união para pressionar suas entidades de classes para que protestem junto ao governo e levem ao conhecimento público o ônus que tais infrações trariam à população em geral. Se este cenário de desobediência da regulamentação vingasse, teríamos desemprego no setor e o aumento de carga e materiais reciclados na fabricação pioraria a qualidade do tubo, podendo criar problemas ao consumidor como rachaduras provocadas pela baixa resistência em prol do barateamento no preço de venda. O mercado por enquanto comenta isso à boca pequena, mas é fato que, devido à intensificação dos reajustes e disponibilidade limitada do vinil virgem determinado pelas normas técnicas, tem transformador menor de tubo recorrendo na surdina à resina reciclada, de modo que a imagem do produto já corre perigo. •