Poucas componedoras no Brasil passaram por reviravolta tão intensa quanto a actplus, controlada do Grupo activas, cuja distribuidora homônima é vice-líder no varejo autorizado de termoplásticos no país. De 2008 a 2022, a actplus primou por low profile em compostos de engenharia, discrição em boa parte culpa de uma indústria automobilística de produção há bom tempo estagnada na faixa de 50% da capacidade de 4.5 milhões de autos/ano. Desde o ano passado, porém, o grupo activas deu um um basta na calmaria e redesenhou o negócio de especialidades com uma injeção de sangue novo em masters, tanto em termos de gestão como de capacidade (passou de 1.000 a 6.000 t/a), por meio da compra dos ativos ligados a concentrados da componedora Complast, cuja planta em Diadema (SP) também passou a abrigar os equipamentos transferidos da ex sede da actplus, em Cotia (SP). Para adensar a linha divisória entre passado e futuro, ferve hoje o entrosamento dos negócios da actplus e activas, a exemplo de vendas de campo e por call center, desenvolvimentos de aplicações e logística de armazenagem e entregas, comenta nesta entrevista Laercio Gonçalves, CEO do Grupo activas.
A imagem do trabalho monótono na manufatura e a péssima reputação ambiental do plástico pesam para afastar os jovens de vagas na indústria plástica. Como a actplus lida com essa falta de mão de obra qualificada?
Também acompanhamos a escassez de pessoal habilitado em outras áreas de negócios do nosso grupo, fato agravado por estarmos em São Paulo, estado que minimiza essa falta de mão de obra. Daí porque a actplus investe em capacitação técnica para preparar os talentos internamente, além das parcerias com instituições educacionais.
Como a actplus encara a concorrência dos masters produzidos na Zona Franca por indústrias locais e por filiais de grandes componedores do país, inclusive múltis?
O mercado de master, apesar de repleto de players, tem alguns campos mais nichados. Nós estamos focados no desenvolvimento de soluções personalizadas que atendam às necessidades específicas dos clientes, o que já é um diferencial competitivo em relação aos produtos remetidos da Zona Franca. Claro que grandes volumes são importantes, mas conseguimos atender o mercado com um pacote de soluções mais técnicas. Além disso, contamos com a expansão do portfólio da actplus em nova frente de negócios, a recicladora actcycle, que conta com o serviço de logística reversa: coleta seletivamente resíduos industriais (aparas) dos clientes e os recicla, podendo inclusive submeter o material recuperado a aditivações, ajuste de cor, etc.
Do ponto de vista inicial, o custo do master pode facilitar a venda. No entanto, para manter negócios sustentáveis, o pacote de soluções, a robustez do grupo controlador, o parque fabril, laboratório e frota própria são trunfos fortalecedores da competitividade da actplus frente à Zona Franca.
A vantagem dos incentivos fiscais e infraestrutura portuária podem posicionar o polo de Manaus como player importante na produção de masters de cores convencionais. No entanto, a demanda por suporte técnico e customização permanecerá um diferencial na venda e daí porque é essencial a proximidade física do cliente, aprimorando a capacidade do componedor de atender as necessidades específicas de quem consome seus masters.
Desse modo, a questão do preço do produto da Zona Franca pode fazer um barulho pontual na praça. Mas para grandes projetos e em prol da linearidade de atendimento, a proximidade e investimento em infraestrutura e tecnologia falam mais alto.
A guerra na Faixa de Gaza complica desde o ano passado a importação por navios de matérias-primas da Ásia para a actplus?
Estamos ficando craques em lidar com situações como essas. A pandemia inspirou estratégias aos negócios que hoje nos tornam mais preparados. Sofremos pontualmente com a bagunça no frete marítimo mundial, mas nossas parcerias com fornecedores globais e linearidade de volumes importados ao longo dos anos, nos contemplou com prioridade nos envios, minimizou bastante o impacto do frete instável no Mar Vermelho. Outra questão crucial nessas circunstâncias, seja para a actplus ou o Grupo activas como um todo, é a capacidade de manter estoques preventivos locais para atender sem demora os clientes.
Com a produção e laboratório de P&D da actoplus agora concentrados em Diadema, qual deve ser o lead time este ano para aprovar cores sob encomenda?
Como trabalhamos em projetos customizados e/ou com uma ampla variedade de soluções, cada caso tem que ser tratado em separado. No plano geral, nosso prazo médio é de sete dias.
Quais as medidas adotadas para entrosar mais a fundo, o negócio da actplus com o da distribuidora activas, em termos comerciais, logísticos e produtivos?
Todas as três empresas do grupo já possuem essa sinergia entremeada em seus processos. Por exemplo, a integração das áreas de supply chain, financeiro, compliance, marketing, recursos humanos e comercial. Nosso verticalizado processo operacional nos proporciona grandes vantagens não apenas em estrutura e gestão, mas por se beneficiar dos preços e negociações a cargo da activas e pela garantia de fornecimento. A propósito, a distribuidora já vende soluções da actplus para clientes fora do alcance dela, nos permitindo diversificar e ampliar a cobertura de mercado. Hoje, o time comercial da activas está imerso em todas as frentes do negócio, podendo fazer toda a gestão do cliente e ofertando todo o portfólio de masters, com o objetivo de realizar vendas de forma agregada. Cabe assinalar que activas e actplus têm clientes em comum.
Plástico pós-consumo reciclado (PCR) saiu do paraíso para o purgatório desde 2021. Suas margens têm sido prejudicadas por resina virgem mundialmente super ofertada a preços próximos do material recuperado. Esse panorama tem pausado os desenvolvimentos da actplus para PCR ou para reciclagem de resina virgem?
O cenário acirrado entre PCR e resina virgem tem, de fato, imposto desafios. No entanto, as marcas estão muito pressionadas a entregar os números prometidos há anos quanto às soluções em PCR. Dessa forma, algo que até então estava apenas no calendário chegou como certeza. Temos um mercado que ainda segue mais distantee dessa realidade, mas notamos uma gama de clientes buscando tanto a resina, quanto o master base PCR. Somado a isso, temos no portfólio da actcycle soluções circulares, materiais de fonte renovável e biodegradáveis e a prestação de serviços de moagem e reciclagem de aparas. Aliadas aos recursos do nosso grupo, essas ações da recicladora auxiliam na formação de valor agregado e de pacotes de soluções para clientes.
Tem crescido o desenvolvimento de embalagens rígidas com teores de PCR. Quais as inovações em masters concebidas pela actplus para assegurar a coloração em vista e sua durabilidade nesses recipientes?
O importante é trabalhar na compatibilidade e uniformidade: Nossos masterbatches são projetados para serem altamente compatíveis com resinas recicladas, garantindo uma dispersão uniforme da cor, mesmo em materiais com variação de cor e qualidade, característica comum nos plásticos reciclados. Em relação à estabilidade cromática, concebemos fórmulas que asseguram a preservação da cor original ao longo do tempo, enfrentando desafios como a variabilidade dos lotes de resina reciclada e as condições de processamento. Também podemos incorporar aditivos UV nos masterbatches base PCR para proteger artefatos transformados contra a degradação causada pela exposição à luz solar. Para finalizar, nossas soluções maximizam a eficiência na utilização de pigmentos e aditivos, resultando em cores vivas com menor quantidade de material necessário, aliando economia e sustentabilidade.
Quais as novidades da actplus em masters de aditivos capazes de colaborar com a a substituição de flexíveis multimaterial por tipos mono, que mantêm as propriedades de barreiras necessárias e têm reciclagem facilitada?
Um dos principais desafios enfrentados nessa transição é garantir que estruturas monomaterial, como PE e PP, preservem a mesma eficiência na proteção contra gases e umidade provida pelas soluções multimaterial, em várias camadas. Para isso, a actplus tem se estruturado no desenvolvimento de aditivos avançados que otimizam essas propriedades de barreira dentro de uma estrutura de material único. São projetados para melhorar a resistência das embalagens à passagem de gases e vapor d’água, sem a necessidade de combinar diferentes tipos de materiais, o que tradicionalmente dificultava a reciclagem mecânica. Ao focar em soluções monomaterial, a actplus permite que o processo de reciclagem seja significativamente mais eficiente, eliminando a complexidade de separar materiais distintos durante a reciclagem e, ao mesmo tempo, reduzindo a contaminação que em regra ocorre nesse processo. Isso resulta em maior pureza e qualidade dos reciclados. Entendemos que este desenvolvimento é um case que nos exige mais estudo para entender as necessidades e desafios de cada aplicação final.
Actplus reformulou recentemente os integrantes do seu comando. Como ficou o novo organograma?
As mudanças começam pela minha decisão de assumir a direção da actplus, junto com o apoio direto dos diretores da activas que agora participam do modelo de governança de todo o nosso grupo. E estamos muito felizes em anunciar a chegada de Gustavo Citrângulo para o cargo de gerente comercial da acrtplus. Vem com uma bagagem de mais de 20 anos em petroquímica nas áreas técnica e comercial e em empresas do setor de master e compostos. A actplus também agregou ao seu gerenciamento Gabriel Pettenatti, com mais de 15 anos de experiência industrial em componedoras de concentrados atuantes nos segmentos de laticínios, autopeças e linha branca. Fora essas contratações, contamos com equipe comercial de 20 pessoas e o atendimento especializado de Tatiana Oliveira, voltado a clientes dos setores automotivo e eletroeletrônico, e de Kassia Regina, dedicada aos mercados de linha branca e embalagens. Para completar a prioridade dada pela actplus à transparência e serviços de qualidade, inauguramos em junho, no site da actplus em Diadema, o laboratório de P&D actcolor, respaldado pelo know how de ases como a gerente de tecnologia Marcela Boneti.
