“Olha aqui, pessoal, nada do que vocês estão vendo aqui é para já, mas esse futuro está a caminho e pode chegar antes do que se imagina”. José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) sentiu, à certa altura, a necessidade passar este aviso semi tranquilizador ao perceber o impacto da revolução digital e da quebra de vários paradigmas sobre a plateia do 7º Seminário Competitividade, realizado em 14 de setembro último em São Paulo. Organizado pela Abiplast e Plásticos em Revista, o temário do evento desta vez fugiu da praxe de avaliar a conjuntura, as mazelas do Custo Brasil e os rumos do mercado no plano imediato. Em lugar dessa abordagem, a grade de palestras foi pautada pela economia circular, o modo de pensar da nova geração e pela aceleração dos fluxos globais de comércio, finanças, redes sociais e conectividade.
O trampolim para esse mergulho no futuro foi erguido na palestra de Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. Além de dissertar sobre causas e consequências da baixa produtividade do Brasil perante a média mundial, ele analisou a já crônica participação da indústria no PIB e reiterou que os esboços de retomada hoje discernidos na economia só ganharão sustentação se as reformas estruturais forem aprovadas na formatação adequada para combater calamidades como o déficit das contas públicas, puxado pelo rombo da previdência social.
A instabilidade política e econômica radiografada por Evandro Buccini compôs um misto quente com a exposição de, diretor da consultoria de inovação e gerenciamento de marcas CBA B+G/diip. A viga mestra de sua palestra foram as tendências e hábitos de consumo mundial, um compartimento onde ele alinhou desde a visão do mundo da nova geração hiper conectada até a proliferação de start ups dedicadas a empreendimentos como turismo aeroespacial, a busca científica da imortalidade, guinadas na engenharia genética, a contagem regressiva para fontes de energia fósseis e o alvorecer dos carros autônomos.
A palestra de Espinosa serviu de deixa perfeita para a exposição sobre as reviravoltas em curso na mobilidade urbana, desvendadas por Ricardo Takahira, diretor de pesquisa e tecnologia da Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Ele deu o que pensar aos transformadores de autopeças no auditório, não só por alertar para a repaginação dos veículos em função da inteligência artificial embarcada e do antevisto fim do motorista, mas por confirmar uma constatação de Alex Espinosa: os jovens hoje prezam muito mais o iPhone da hora do que comprar carro novo. Esse comportamento, ele reconheceu, assume feições inquietadoras no Brasil. Afinal, um contingente de mais de 20 montadoras hoje opera com 50% de ociosidade e que já se encontra sob fogo cruzado. De um lado, a nova geração optando por carros compartilhados, aplicativos de táxi e Uber, bikes e transporte coletivo. Do outro, uma avantajada população da terceira idade, bem menos propensa a trocar de carro. Takahira deixou claro que essa batata quente vai queimar na carne do setor automotivo nacional.
Outra enxaqueca pela frente, ele adiantou, é o risco de, dada a regulamentação defasada e custos nada competitivos, o Brasil virar canal de desova para tecnologias automotivas abolidas no I Mundo pela adesão a veículos elétricos, híbridos e autônomos. O motor a gasolina, por exemplo, já está com dias contados em países europeus formadores de opinião na indústria automobilística, caso da Alemanha, citou Takahira.
Componentes automotivos e demais peças técnicas de menor tamanho já formam entre os alvos preferenciais para prototipagem e desenvolvimentos da impressão 3D. As oportunidades para essa tecnologia, assim como a influência da manufatura aditiva nas novas linhas de injetoras, povoadas por sensores e softwares para múltiplas etapas do processo, compuseram os pratos de resistência das palestras de Andréia Cavalli, porta voz da 3D Systems, fabricante norte-americana dessas impressoras, e de Suzana Boaventura, gerente de marketing da operação brasileira de plásticos de engenharia (poliamidas 6 e 6.6) da Rhodia, subsidiária do grupo belga Solvay, que engatou na segunda quinzena de setembro a marcha rumo à venda desse negócio global para a Basf.
As.novas frentes para o consumo de plástico evoluir, levadas inclusive pelo engajamento da indústria em tecnologias exponenciais de energia limpa e no desenvolvimento sustentável pavimentaram as palestras ministradas por Éverton Simões Van-Dal especialista da Braskem, e Antonio Calcagnotto, vice-presidente de sustentabilidade e assuntos corporativos da Unilever Brasil. Em sua apresentação, Calcagnotto frisou o culto à sustentabilidade e à economia circular como ativos fixos do modelo global de negócios de sua corporação, exemplificando com medidas como a redução no peso das embalagens (dominadas por plásticos) dos produtos alimentícios, de higiene & beleza e de limpeza doméstica da Unilever. O mesmo espírito, assinalou, permeia a preferência do grupo por formulações concentradas, com efeito colateral da economia de água. Calcagnotto também manifestou sua preocupação com a programada revisão, em 2018, da lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em especial no que se refere ao ultra adiado fim dos lixões, determinação descumprida por prefeituras sempre sem caixa para implantar aterros sanitários.
Uma conjunção astral da sustentabilidade com a internet das coisas veio à tona na sessão final do seminário, sobre a onda em formação das embalagens inteligentes, vanguarda internacional já na tela do radar dos convertedores brasileiros de flexíveis. A nova onda foi dissecada nas exposições de Claire Sarantópoulos, pesquisadora científica prata da casa do Centro de Tecnologia de Embalagens (Cetea), e Márcia Pires, pesquisadora em ciência de polímeros da Braskem. As palestras forma arrematadas com debate das duas sumidades no ramo mediado por Domenico Macchia Jr., diretor de uma convertedora joia da coroa, a catarinense Videplast. Pelo andar da carruagem, evidenciou o trio, a perenidade de quem transforma filmes técnicos avançados para alimentos como perecíveis estabelecer alianças com empresas especializadas em recursos da inteligência artificial como sensores, para corresponder a crescentes exigências do comércio e do consumo final, como maior vida de prateleira e redução de perdas no ponto de venda e nos domicílios. •