Dois anos seguidos de crepúsculo nas vendas de bens duráveis balearam a carótida dos compostos de engenharia, efeito do seu tubo de oxigênio ligado em autopeças e eletroeletrônicos. Em lugar de chorar no meio fio, uma saída do beco é pensar fora do quadrado, sugerem os movimentos da subsidiária local da Radici Plastics, braço do grupo italiano Radici, cânone global na polimerização e beneficiamento de poliamida (PA). Contra a lógica do negócio, ela fechou o balanço de 2016 com receita na órbita de R$ 164,8 milhões contra R$160 milhões precedentes Desde 2015, sua participação de mercado saltou de 2% para 12%, com vendas dominadas em 55% por São Paulo, vindo bons corpos atrás a região sul, com 20%. A partilha ensaia uma mexida em 2017, dá a entrever na entrevista a seguir a diretora geral Jane Campos, por obra do aluguel de galpão para CD em Pernambuco em 2017, visando melhor servir clientes como sistemistas que atendem a unidade Jeep da Fiat Chrysler em Suape, e com a engorda de 20% na capacidade de compostos em Araçariguama, interior paulista, decorrência de nova extrusora a entrar em ação.
PR – Com os mercados de bens duráveis em queda livre, como a empresa conseguiu crescer 3% em receita em 2016 sobre os R$160 milhões faturados em 2015?
Jane Campos – As vendas reagiram porque aumentamos a participação de nossas especialidades em segmentos como embalagens (em especial flexíveis), agronegócio e brinquedos, campos antes pouco explorados pela Radici. Também aumentamos de forma significativa a exportação de formulações para o restante da América Latina.
PR – Quais segmentos de alimentos atendidos pela Radici considera não tão afetados pela recessão e por quais razões já que o empobrecimento do consumidor final e a inadimplência de clientes se agravaram em 2016?
Jane Campos – Nosso fornecimento consiste em produtos para os mercados de embutidos, carnes a vácuo e queijos, um mix bem diversificado e, ao final das contas, as oscilações da demanda de cada um converge para um saldo geral compensador para o nosso atendimento. Quanto à inadimplência no âmbito dos transformadores de embalagens, trata-se de um tema delicado; muitas empresas estão sofrendo com a baixa das vendas e a dificuldade de crédito devido à queda nos resultados. Por muitas vezes isso limitou o crescimento do nosso negócio em 2016.
PR – Poderia dar exemplos de produtos customizados e serviços diferenciadores prestados pela Radici no mercado brasileiro?
Jane Campos – Vamos começar pelas embalagens. Individualizamos formulações nobres como PA 6.10 e PA 6.12 com alta viscosidade, destinadas à extrusão de filmes de menor absorção de umidade e maior resistência ao rasgo e à punctura. Em autopeças, são referências as novas linhas de compostos Radilon HHR e Radilon Xtreme. A primeira consta de PA 6.6 aditivada com retardante de chama, destinada à injeção ou sopro de peças de resistência ao trabalho sob altas temperaturas superior à do tipo convencional de PA 6.6. A série Xtreme também integra a vertente das peças injetadas e sopradas de maior resistência térmica. Seu ponto de partida é um polímero de poliamida desenhado e produzido na Itália por uma controlada do grupo, a Radici Chimica SpA. As formulações XTreme sobressaem por propriedades como a fusão a 280ºC, 20 graus a mais que o grade tradicional de PA 6.6, mesma vantagem aferida na sua temperatura de transição vítrea de 90ºC. Em autopeças, é indicado para componentes como dutos de ar de motor turbo ou componentes da troca de calor integrantes do sistema de controle de temperaturas da câmara de combustão. A propósito, a Radici lançou na K’2016, em outubro passado, a poliftalamida (PPA) Radilon Aestus T, diferenciada por aliar alta resistência térmica, à chama e química, em especial no trabalho com fluidos agressivos. O lançamento se destaca por características como a alta temperatura de fusão, a resistência à deformidade sob o calor no compartimento do motor e um índice de fluidez compatível coma injeção de peças de parede fina, como conectores integrantes do sistema de combustível dos carros. Pretendemos produzirem 2017 esses compostos de PPA em Araçariguama
Em termos de serviços, a assistência técnica que prestamos se estende a encargos como a seleção do material talhado para desenvolver projetos. Em alguns casos específicos fazemos um estudo completo de CAE e CAD em conjunto com a matriz na Itália sugerindo um produto em linha ou até mesmo personalizando uma formulação para a aplicação em vista.
PR – Quais os seus fundamentos para prever aumento de 5,7% na receita da Radici Brasil em 2017 mesmo com a recessão e instabilidade política em campo?
Jane Campos – Minha previsão baseia-se em projetos de desenvolvimentos programados para começar em 2017. Por sua vez, a compra do negócio de compostos e blends de engenharia da norte-americana Invista pela Radici agregou alguns clientes em nossa carteira. Além do mais, reitero que nossas exportações latino-americanas seguem avançando, em particular na Argentina, Colômbia e Peru.
PR – Qual a sua estimativa brasileira do volume total de PA 6 e 6.6 consumido no Brasil em 2016? A sua projetada participação de 12% neste mercado provém tanto da produção local como de importações?
Jane Campos – Fora o setor têxtil, o mercado interno de poliamidas em 2016 é estimado em 90.000 toneladas. Nossos compostos são 100% produzidos em Araçariguama com polímeros importados- poliacetal, polibutileno tereftalato, PA 6, PA 6.6, PA 6.10 e PA 6.12. Importamos do grupo alguns materiais básicos para revenda e não se tratam apenas de poliamidas. Eles representam 30% de nossas vendas. Em relação às poliamidas mais consumidas, há que se convir que as importações brasileira de PA 6 para uso em plástico são inevitáveis, dada a falta de produção local. •