Uma situação inédita

Otávio Carvalho, sócio executivo da consultoria MaxiQuim, aponta nesta entrevista uma conjunção de fatores sem equivalente no passado da petroquímica mundial. A América do Sul, ele deixa claro, entra nessa foto como um dos canais de desova do excedente de resinas internacionais mais acessíveis, situação agravada pela deflação mundial sem fim à vista, a erupção da petroquímica norte-americana movida a gás de xisto, desaceleração da China e a necessidade crescente de importações complementares de poliolefinas (e PVC) para corresponder, em poucos anos, ao crescimento do consumo sul-americano, mesmo sujeito a altos e baixos em sua caminhada.

Carvalho: três causas da reviravolta.
Carvalho: três causas da reviravolta.

PR – As exportações norte-americanas de poliolefinas para a América do Sul deverão praticamente dobrar em cinco anos, segundo a consultoria IHS. Como essa projeção afetará a competitividade dos produtores de PP e PE na região?  
Carvalho – Há alguns fatores a considerar. Primeiro, nunca houve na história recente da petroquímica tamanha diferença de custos de produção entre produtores base gás e base nafta. Segundo, tampouco houve crescimento da demanda tão concentrado em apenas uma região do mundo, em economias emergentes de elevada taxa de crescimento econômico, como China. Terceiro, nunca houve tamanha expansão de capacidade em um mercado maduro como a América do Norte. Esses três fatores combinados são raros e, provavelmente, não serão repetidos nas próximas décadas. Sob este cenário transcorre a análise de timing, capacidades e custos de matérias-primas relativos a  projetos de expansão da capacidade de poliolefinas na América do Sul. O fato de esses projetos terem uma competição desigual, pelo lado dos custos, é  o que os posterga ou cancela, conduzindo a projeções de aumento das importações sul americanas. Como a história nos tem provado, alguns projetos ficam pelo caminho, seja devido a custos,  mercado,  disponibilidade de matérias-primas, política etc. É muito provável que não sairão do papel projetos cuja competitividade é comprometida por esse novo cenário.

PR – Braskem sustenta que a capacidade do Brasil e Argentina é suficiente para suprir a demanda brasileira de PE até 2020. Mas como viabilizar, economicamente, a continuidade desse suprimento com custos de produção muito acima dos desfrutados pela resina obtida da rota do gás de xisto nos EUA?
Carvalho – A capacidade brasileira de PE é de 3,025 milhões de t/a e a da Argentina, 660.000 t/a. O consumo somado nos dois países ronda 3,2 milhões de t/a. No papel, com projeções de crescimento modestas, poderíamos dar conta. Porém, plantas petroquímicas em geral rodam no limite pouco acima de 90% de suas capacidades. Se considerarmos as limitações no fornecimento de gás na Argentina e Brasil, além dos eventuais problemas operacionais e manutenções programadas, teríamos uma capacidade efetiva próxima de 3,4 milhões de t/a. Porém, tanto a Dow (N.R.- único produtor de PE na Argentina) tem condições de abastecer clientes com suas fábricas em outras regiões, sobretudo os  EUA, como Braskem pode, a partir de 2015, começar a trazer resinas produzidas no México. A questão não é mais de onde vem o produto, mas quem vai suprir o mercado.

PR – Segundo a IHS, o Brasil dependerá de importações complementares de PP a partir de 2016 e, em 2018, à sombra de propeno mais barato os EUA voltarão a exportar o polímero com vigor. Quais as consequências disso por aqui?
Carvalho – Nossa capacidade local é da ordem de 1,9 milhão de toneladas e o consumo ronda na faixa de 1,5 milhão. Mesmo considerando a capacidade efetiva, teremos autossuficiência  pelo menos até 2017 e, se necessário, desgargalamentos poderão ser feitos. Quanto aos EUA, tem vários projetos de expansão de capacidade de propeno, mas muito poucos de PP e estes ainda assim previstos para partir apenas ao final da década. Assim, a volatilidade de preços de propeno tende a ser menor a partir da entrada das plantas on-purpose, seja via desidrogenação de propano (PDH) ou outra tecnologia. Mas não creio em preços baixos. O Capex (investimento em bens de capital e instalações) dessas plantas é elevado e não há, como no caso do eteno, uma vantagem tão grande do ponto de vista de custos. Ou seja, esse movimento vai resolver o problema local, mas não será suficiente para mudar a lógica de outros mercados e ainda estará sendo ofuscado pela expansão da capacidade na China, essa sim, bastante robusta no propeno e PP. •

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