Gustavo Duhamel, maestro da filarmônica de Los Angeles, é a prova dos nove da eficácia de El Sistema, o programa de desenvolvimento social de crianças e jovens pobres pela prática musical coletiva, criado em 1975 pelo governo da Venezuela, então a salvo do populismo chavista. No Brasil, o primeiro projeto nas pegadas do venezuelano é o Neojiba, a cargo do governo da Bahia e patrocinado pela Braskem. Hoje em dia, ele beneficia mais de 4.600 pessoas. Há dois anos em cena, a Orquestra Plástica é um afluente do Neojiba derivado da confluência de duas conveniências: a educação musical infantil e a confecção de instrumentos (luthieria) a partir de tubos vinílicos de esgoto, saída encontrada pelo maestro Natan Paes, da pequena cidade de Angilcal, para ensinar os alunos de sua fanfarra, a tocar, pois não tinha como pagar caro por genuínos violinos e demais membros da família de cordas, abre o luthier Alan Jonas Brito, coordenador técnico e pedagógico da Orquestra Plástica. “A proposta é proporcionar iniciação musical e disseminar o ofício da luthieria”, ele sintetiza.
O ponto de partida, coloca, foi a pesquisa da concepção de instrumentos plásticos de corda sob estímulo do ineditismo. Afinal, encontra-se mundialmente consolidada a produção de instrumentos, em versões para amadores e profissionais, como os da família de sopro, tipo sax, trompete e flauta doce.Já dominada a técnica de luthieria do violino e viola de plástico, adianta Brito, estão na mira agora a manufatura de violoncelo e contrabaixo. Tomando como referência o violino, ele informa que a construção é baseada, no geral, na metodologia adotada para instrumentos de madeira. “Cortamos o tubo de PVC de 75 mm de diâmetro no tamanho proporcional ao violino e o transformamos por aquecimento numa chapa”, descreve Brito. “Vale o mesmo para confeccionar a lateral do instrumento com tubo de 40 mm de diâmetro”. Desenhado o contorno do violino na chapa, é realizado seu corte em serra específica, processo repetido com o fundo do instrumento e completado pela colagem da barra harmônica e a feitura dos ‘∫’s no tampo. “As peças são então coladas e fica pronta a caixa acústica”, resume Brito.
Os luthiers baianos produzem o braço e espelho do violino preenchendo moldes com termofixo (poliéster com fibra de vidro). “Aguardamos o tempo de cura do material e depois é só desmoldar com cuidado”. Os demais acessórios são os mesmos dos violinos convencionais, tal como ocorre com os arcos de madeira com crina animal ou sintética. Para chegarem à plena autonomia no processo, os luthiers do Neojiba beberam da expertise do mestre suíço Andre-Marc Huwiler.
Mais que uma solução econômica, os instrumentos de plástico são vocacionados para a iniciação musical, deixa claro o luthier. “Por falta de cuidado ou desatenção, muitos violinos de madeira são irreparavelmente danificados pelas crianças”, ele observa. Para complicar, insere, o instrumento tradicional saído da loja requer ajustes do luthier antes de ser tocado, caso das cravelhas ou o acerto dos pés do cavalete. “Um violino de plástico não depende disso”, contrapõe Brito. PVC não tem o volume sonoro da madeira, mas o timbre é o mesmo e isso, sustenta o luthier do Neojiba, é o mais importante para o correto desenvolvimento da técnica de execução. “Se temos o instrumento físico e de fácil acesso, é um grande passo para os alunos aprenderem a tocar”, conclui.