Um e-mail meio fora da curva pingou, no início de novembro, na caixa de entrada do editor de Plásticos em Revista. O signatário se apresentava como professor da área de processamento de polímeros (identificação confirmada nas redes sociais) de uma universidade federal de primeira linha. “Gostaria de saber se tem alguma empresa fabricante de injetoras que queira fazer uma parceria com o curso de engenharia de materiais (da referida universidade pública)”. O acordo acenado referia-se à doação de uma injetora e, “em contrapartida, a empresa poderá fazer demonstrações do seu produto, como workshops, seminários etc”.
A proposta não para em pé. Do lado do professor, ela dá a entender que, de três vale uma:
a) A universidade carece de verba a ponto de não poder instalar um elemento vital ao ensino de engenharia de materiais – um centro/laboratório de aprendizado prático do nível básico, no qual injetora, sopradora e extrusora são imprescindíveis.
b) O professor já tentou, por iniciativa própria, contatar fabricantes de injetoras e ninguém deu bola.
c) Ele supõe que o editor pode lhe abrir portas que desconhece, não tentou ou foi posto de lado no contato inicial.
O outro lado da moeda diz respeito aos fabricantes de injetoras, pois, se o professor chegou ao extremo de recorrer à imprensa, isso dá a entender que:
a) Permanece ínfima, na vida real da cadeia plástica, a tão decantada interação entre universidade e indústria, de braços dados em P&D e na formação de talentos.
b) No geral, o meio acadêmico ignora os predicados e recursos para sua evolução disponíveis na indústria e vice-versa.
O quadro constrangedor de uma universidade percorrendo o mercado, de chapéu na mão, para suplicar por uma injetora para o curso de polímeros sintetiza o fato de que, nos planos da educação e cultura, o Brasil está colhendo o que plantou. Além da precária formação escolar, o quadro ajuda a explicar o desinteresse dos jovens por fazer carreira em áreas industriais como a do plástico, repudiadas pela mesmice e retorno lento, na mão oposta da vibe dos serviços e do mercado financeiro. Indústrias como a do plástico também têm culpa nesse cartório, pois não souberam se fazer atraentes aos olhos dos millenials.
Deu no que está dando e, nesse sentido, a indústria plástica lembra muito aquele conhecido tipo de pessoa física ou jurídica que, mesmo ciente das calamidades do aquecimento global, vai empurrando com a barriga as medidas a seu alcance para atacar o problema. Por essas e outras, hoje é aguda a falta de pessoal qualificado na industrialização do setor plástico brasileiro e na fabricação de suas máquinas. Um drama que promete pretejar à medida em que a inteligência artificial vai tomando corpo como chave mestra da competividade fabril. Mas quem vai manejá-la nas plantas da cadeia plástica do Brasil?
Resposta do editor ao professor: “Proponho publicar no site da Plásticos em Revista uma entrevista sua discorrendo sobre: 1) A precariedade de recursos para seu curso de engenharia de materiais prover ensino adequado. 2) O notório desinteresse dos jovens por cursos ligados à atividade fabril. 3) A contribuição da péssima imagem pública dos plásticos para distanciar os jovens de cursos universitários ligados ao setor. 4) Consequências desse cenário para um setor plástico cada vez mais automatizado e digitalizado, dependente de pessoal ultra qualificado. 5) Avaliação do nível (médio) notoriamente a desejar dos alunos recém-chegados aos cursos de engenharia de materiais”.
O professor: “Vou verificar com o pessoal sobre esse assunto e te retorno”.
Nunca mais deu notícia. •
Reciclagem química passada a limpo
O que realmente constitui a reciclagem avançada de plásticos?