Uma história pouco contada

Seja qual for a régua, os efeitos das embalagens plásticas são muito melhores do que se noticia

É preciso aceitar que, nos últimos anos, as diversas críticas sofridas pelo plástico não foram geradas sem algum embasamento. A indústria entende que o plástico tem seus problemas, em particular no cenário ambiental. O mundo moderno e as mudanças nas relações de consumo impuseram uma nova realidade: lidamos com um consumidor mais antenado e consciente de que suas ações e opções atuais determinarão o futuro do planeta. E o plástico, por ser material que dura muito, acaba se destacando. Ou seja, a indústria entende e respeita as críticas da sociedade e, de modo geral, apoia e suporta as políticas públicas relativas ao consumo consciente e a reciclagem, especialmente quando inserida na chamada ’nova economia do plástico’, em essência, a economia circular.

Bosco
José Bosco Silveira Jr

Mas é preciso uma visão do todo para se chegar a uma solução para esta equação. A cadeia do plástico e, especificamente as embalagens flexíveis, têm muitas vantagens, inclusive socioambientais, que devem ser consideradas e divulgadas. Cabe à indústria fazer sua mea-culpa e assumir: por muitos anos o setor foi mais reativo que proativo, pisando em ovos quando surgiam ataques pontuais. Se partia para a defesa, o ataque era engavetado e a indústria voltava a cuidar do dia a dia dos negócios, negligenciando o gigante verde adormecido, carinhosamente chamado de sustentabilidade. Hoje, porém as ofensivas não são mais pontuais e ameaçam toda uma cadeia produtiva de valor.

Esquecemos o óbvio: mostrar que o plástico, desde o seu surgimento, exerceu papel preponderante no desenvolvimento da sociedade moderna. Nos dias atuais, não alardeamos a contento como as embalagens flexíveis estão cada dia mais relevantes e alinhadas a temas ultra em voga como save food e food safety. De pronto, podemos atestar que embalagens flexíveis com barreira são fundamentais na preservação de alimentos e na sua consequente oferta para mais pessoas, por mais tempo (extended shelf life) e em mais lugares.

Andre Gani
André Gani

É por isso que a ONU utiliza pouches metalizados para embalar a chamada ‘fórmula’, um suplemento alimentar distribuído nos locais mais inóspitos do planeta com o objetivo de sanar a desnutrição infantil. Esta embalagem tem que ser suficientemente resistente e com barreiras apropriadas para que os atributos do produto, inclusas condições de nutrição, não se percam nas longas viagens e na falta de uma cadeia refrigerada. E como se trata de uma doação humanitária, a embalagem deve se encaixar no orçamento dos órgãos competentes.

Nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a embalagem flexível também tem o seu papel social. Um alimento acondicionado nela invariavelmente dispõe de um price point inferior ao envasado em embalagens rígidas, possibilitando que mais consumidores tenham acesso ao produto e que novos usuários passem a comprar itens até então ausentes de sua cesta. Ou seja, novos consumidores entrando em categorias de produtos até então ‘proibidas’ a eles pela barreira do preço. Um exemplo clássico de embalagem flexível que derrubou esta barreira de entrada foi o molho de tomate em stand-up pouch (SUP).

A tecnologia aplicada aos flexíveis vem derrubando diversas barreiras técnicas. A principal, sem dúvida, é a da vida de prateleira. Uma embalagem flexível hoje atende aos requisitos de preservação da maior parte dos alimentos, com vantagens além do preço e extensivas à proteção do meio ambiente. A pegada de carbono de uma embalagem flexível é menor. Por ser bem mais leve que uma embalagem rígida, a flexível tem impacto altamente positivo na logística da cadeia de alimentos e bebidas. Exemplo: uma embalagem com capacidade para 340 gramas de produto. No caso do vidro, o caminhão transportará 48% de embalagem e somente 52% de produto. No caso do flexível, este número cai para 6% de embalagem e sobe a 94% de produto! O ganho ambiental desta equação é brutal. Em outro comparativo, uma embalagem rígida de 200 gramas depara com seu equivalente em flexível pesando apenas 12 gramas.

O recipiente flexível derruba outras barreiras de entrada, um trunfo para a expansão da própria indústria. Enquanto o investimento na linha para latas pode rondar US$ 30 milhões, o aporte na linha de flexíveis, com tecnologia de ponta, esbarra nos US$ 2 milhões. Mais players na praça garantem maior competitividade e quem ganha é o consumidor final, pois passa a contar com mais opções. O público e o varejo ganham ainda com a segurança da embalagem flexível – não quebra – e com a sua acessibilidade – é fácil colocá-la no PDV, inclusive em gancheiras.

Enfim, a história real precisa ser contada e os benefícios das embalagens plásticas flexíveis merecem ser propagados. Dois deles, em particular, devem ser reforçados. O primeiro é de cunho ambiental: pegada de carbono inferior às de outras soluções de embalagens, mérito em especial de sua leveza. O segundo argumento tem conotação social e econômica: o menor custo em toda cadeia produtiva leva à maior concorrência (investimento, material de embalagem, logística, ponto de venda) o que gera preços finais menores e a consequente possibilidade de termos mais consumidores comprando novas categorias de produto.

Entendemos que o plástico impacta de alguma forma no meio ambiente e as indústrias do setor têm a responsabilidade de trabalhar para minimizar tais efeitos. Mas vale enfatizar o saldo das análises: há mais benefícios que prejuízos gerados. E é este o alerta para a indústria: é preciso reverter a percepção que a sociedade tem do plástico, contando a sua verdadeira história. Percebemos uma clara dicotomia entre a crença e a prática: o consumidor usa o plástico em praticamente todas as ocasiões de seu dia a dia, mas não consegue linkar seus benefícios ao objeto. Por enquanto, quem está pagando esta conta é a indústria de embalagens plásticas. •

*José Bosco Silveira Jr. e André Gani são, respectivamente, presidente e diretor de vendas e marketing do Grupo Terphane.

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