Numa conjuntura de arrepiar, qualquer sinal de potencial incremento de vendas é abraçado de imediato feito tábua de salvação pela transformação de plásticos. Embora os Jogos Olímpicos de 2016 estejam restritos ao Rio, produtores de artefatos descartáveis esperam consequente aumento na demanda e alguns, levando em conta perspectivas de melhores dias, até acariciam investimentos. Em outros casos, o megaevento abrirá oportunidades para diminuição de ociosidade nas fábricas em tempos de consumo em fogo brando. Somando-se a tudo isso, se vislumbra outra janela de esperanças para descartáveis: o colapso no suprimento de água, principalmente na região sudeste. Segundo especialistas, a crise hídrica já faz com que restaurantes cogitem aderir a utensílios plásticos de uso único em vez dos tradicionais de vidro ou metal, em prol da economia de água na lavagem de pratos, copos e talheres.
A BelloCopo, integrante do grupo Isoforma, forma na ala dos passistas mais otimistas e tem engatilhados diversos aportes em suas operações. A companhia, que afiança estar entre as três maiores transformadoras de poliestireno (PS) do país, irá despender R$ 20 milhões em 2015. “Estamos investindo em aumento de capacidade, não apenas devido às Olimpíadas, mas buscando atender à busca do mercado por descartáveis de qualidade com custos competitivos”, justifica o CEO Ricardo Mello. Em julho próximo, a empresa inaugura sua segunda planta em Cabreúva (SP), para a qual vai transferir a divisão de descartáveis, enquanto na fábrica atual permanecerão as atividades de extrusão de chapas. Com isso, a BelloCopo irá expandir a produção de copos de PS e incorporar ao portfólio talheres descartáveis, bem como copos de polipropileno (PP), de aceitação a 100 graus em eventos, sublinha o dirigente. “Em 2016, pretendemos incluir copos impressos no portfólio”.
O parque atual da Isoforma/BelloCopo vai ficar mais sarado com o anabolizante do novo maquinário. A área de extrusão de chapas, atuante com oito equipamentos, vai ganhar outra linha, ao passo que a termoformagem passará a rodar com seis máquinas em comparação às quatro atuais. Entre o fim de 2015 e início de 2016, o grupo ainda pretende colocar para operar quatro injetoras de talheres, assegura Mello. “Nossa divisão de descartáveis tem apenas dois anos, porém a expansão tem sido rápida e expressiva”, comemora. Segundo o acompanhamento do executivo, o reduto brasileiro de transformação de copos, talheres e outros descartáveis de PP e PS, excluindo embalagens, possui 45 empresas na ativa que consomem individualmente mais de 50 t/mês de resina. “Estamos por ora na 15ª posição, mas, se seguirmos crescendo como no passado, iremos dobrar nossa produção até as Olimpíadas de 2016 e então nos tornaremos um dos principais players do ramo”, antevê o porta-voz.
Mello não faz coro com algumas cabeças coroadas do setor quanto ao impacto negativo da Copa do Mundo sobre o consumo de descartáveis no ano passado. “Concordo que houve desaceleração entre junho e agosto de 2014. Mas acredito, contudo, que a demanda foi transferida para meses anteriores e posteriores aos jogos”, ele assinala. Nas Olimpíadas, prossegue o CEO, a indústria não sentirá esse mesmo efeito. “O mercado aprendeu a lição e não ficará superestocado”, pondera. Para ele, nem os fabricantes irão produzir demais, nem os varejistas irão comprar muito acima do projetado. No plano geral, Mello espera um pequeno crescimento em 2016 sobre o exercício atual, com os jogos Olímpicos contribuindo para o melhor desempenho do segmento, ele completa.
Mário Schlickmann, empresário à frente do Grupo Copobras, maior produtor brasileiro no reduto de descartáveis com plantas em Santa Catarina, Minas Gerais, Paraíba e Amazonas, avisa que pretende alavancar os níveis de utilização da capacidade em vez de comprar equipamentos adicionais. “Nesse setor, vendemos mais no verão. Temos sorte porque as Olimpíadas acontecerão justamente na época do ano em que a comercialização de nossos artigos diminui”.
A Copobras fabrica copos, bandejas, pratos e demais descartáveis de PS e PP. “Possuímos uma capacidade dimensionada para casos como este, quando há aumento de demanda e precisamos elevar o nível de produção”, coloca Schlickmann. Para este ano, a expectativa do industrial é de crescimento muito tímido da transformação nacional de plásticos no plano macro. “E difícil prever qual será o resultado dos ajustes previstos pelo governo. Mas é fato que consumo no Brasil sempre vai existir”, confia. Tudo vai depender da segunda metade do ano, período historicamente mais forte para o setor, encaixa o diretor-presidente.
A crise hídrica no Sudeste, embora deixe de cabelo em pé a população da região, abre espaço para maior penetração de artefatos plásticos descartáveis. Restaurantes já adotaram esse artifício porque não conseguem dar conta de lavar seus utensílios tradicionais. “Ainda não há muita intensidade, mas temos notado alguma procura nesse sentido”, verifica Schlickmann. Para ele, inclusive, esse movimento vai extrapolar o comércio e chegará às residências. “A escassez de água vai modificar a cultura do brasileiro”, vaticina.
Schlickmann antecipa um ambiente favorável durante as Olimpíadas, diferentemente do que aconteceu durante a Copa do Mundo no ano passado, quando houve uma supervalorização do potencial da utilização de descartáveis. “Além de a Copa ter sido um evento mais elitizado, muitas pessoas ficaram em casa por medo dos protestos, o que arrefeceu o consumo”, ele percebe. “O cenário será diferente nos Jogos Olímpicos e a demanda irá crescer satisfatoriamente”, conclui o transformador.
Também não é de crista baixa a leitura sobre o saldo da Copa de 2014 de futebol de Hemerson De Villa, diretor executivo da Minaplast, outra fera em descartáveis. “Os mercados distribuidores anteciparam as compras por medo de problemas de logística durante o torneio. Esses reveses de fato ocorreram, mas não com a gravidade projetada”, ele lembra. Em maio passado, antes do pontapé inicial da Copa e do naufrágio do 7×1, a Minaplast observou demanda fora do comum, sinal de que seus redutos consumidores se estocaram. De Villa garante que houve, sim, impacto positivo nas vendas e espera efeito similar para as Olimpíadas, porém em menor escala.
De acordo com o porta-voz da Minaplast, esses megaeventos, a exemplo do que ocorreu durante a Copa, tendem a manter o consumo estável durante todo o ano. “Mantivemos o uso da capacidade instalada próximo aos 100% em 2014”, ele abre. Ainda assim, De Villa não planeja investimentos em expansão de seu parque visando as Olimpíadas e acredita que suas quatro extrusoras de chapas e 25 termoformadoras darão conta do recado. Confirmando a previsão de concorrentes, o diretor executivo afiança que os Jogos Olímpicos irão elevar as taxas de ocupação dentro da fábrica durante a desaceleração habitual no inverno. “Em 2014 houve um aumento de demanda de quase 20% nos meses de julho e agosto em relação aos mesmos meses em 2013. Esse crescimento específico não causou necessidade de incremento de capacidade produtiva, pois ocorreu em períodos de ociosidade na planta”, arremata.
Muita calma nessa hora
Fornecedores de equipamentos apalpam com cautela o potencial da demanda de copos descartáveis nas Olimpíadas
Aimagem de multidões sedentas nas arenas esportivas ou em festejos cariocas durante as Olimpíadas cai bem para transformadores de copos descartáveis assuntarem a respeito da compra de mais máquinas para agüentar o rojão em 2016. “As consultas estão acontecendo e as encomendas precisam vingar este ano, para atender em prazo suficiente a instalação e início de produção dessas linhas”, comenta Cássio Luis Saltori, diretor geral do escritório brasileiro da alemã battenfeld-cincinatti, dama de ouros em extrusoras de chapas.
Saltori se anima com o potencial dos Jogos no Rio, mas vê o buraco mais embaixo. “Contar com alta relevante na demanda de descartáveis agitada pelas Olimpíadas é uma situação definível como ouro de tolo”, pondera. Afinal, ele argumenta, trata-se de um evento de duração restrita a um mês e a uma determinada cidade. “Além do mais, a venda de descartáveis pelo padrão acordado com entidades olímpicas e o poder público restringe-se ao interior dos locais das provas e, dada a ligação da cadeia industrial com o governo do Rio, esse fornecimento tende a ser encampado por transformadores do Estado, um quadro oposto ao da Copa de 2014, um torneio realizado em prazo maior, de alcance nacional e desfrutado por indústrias de todas as regiões”.
Bem mais tentadora, julga Saltori, é a oportunidade descortinada para vender máquinas subjacente numa desgraça: a crise hídrica no Sudeste “Conforme foi divulgado, um típico restaurante paulistano gasta, em média, 315.000 litros na lavagem diária de louça, talheres e copos”, expõe o diretor. Se o colapso não arrefecer, nota Saltori, uma forma de poupar água seria o emprego emergencial de copos descartáveis .
Para assediar esse potencial, ele acena com o sistema de calandragem de placas Multi-Touch, cuja concepção foi norteada pelos ganhos com a velocidade do processo de extrusão. Sua configuração, apoiada em vários rolos de compressão, permite a refrigeração uniforme de ambos os lados da placa, uma solução cuja eficiência reverte em aumento da transparência de polímeros semicristalinos e contribui para considerável redução de tolerâncias de espessura. “O sistema Multi-Touch proporciona produções da ordem de até 2.300 kg/h quando integrado à extrusora e de até 3.600 kg/h sem esse entrosamento”, expõe Saltori. Para completar o show, ele sugere a série de extrusoras High Speed . “São ofertadas com diâmetro de rosca de 75 mm e relação L/D de 34 ou 40, a depender da necessidade do cliente”, ele detalha.
Porta bandeira das extrusoras nacionais de chapas, a Rulli Standard reconhece possíveis efeitos sobre seus negócios, a tiracolo das Olimpíadas no Rio e crise hídrica na região sudeste. Mas se aferra a uma condição mais pragmática, de pés no chão, para bons fluidos baixarem sobre as intenções de compra de equipamentos pelos transformadores de descartáveis. “Eles ampliarão sua capacidade de produção baseados num crescimento real da demanda possibilitado pelo aumento do poder aquisitivo”, sustenta o diretor comercial Luis Carlos Rulli. É líquido e certo, assinala, que os Jogos Olímpicos e a crise hídrica devem aquecer a procura por copos mono uso. “Mas tratam-se de pontos isolados na trajetória do consumo e decerto a indústria brasileira de descartáveis está preparada para suprir essa demanda extra”, ele reitera. Ainda assim, algumas promessas já afloram pelos lados de sua carteira de pedidos de extrusoras de chapas. “Começamos a acompanhar novos investidores de olho na demanda de copos a reboque de um evento como as Olimpíadas”, revela o dirigente. “Por seu turno, os competidores atuantes no ramo já demonstram preocupação com esse aumento pontual da demanda e, para atendê-la, voltam-se para o lançamento de copos diferenciados, sejam impressos ou de maior espessura”.
Para a entrega da máquina não furar o plano do cliente de ampliar a produção de copos a tempo de surfar nas Olimpíadas de 2016, Rulli delimita o prazo de seis a oito meses a partir do pedido para montar e instalar sua extrusora de chapas. “No plano geral, a produtividade é a chave para se baixar custos e aumentar as margens de lucro num mercado com o grau de disputa do de descartáveis”, ele considera. “Nesse setor, porém, determinadas peculiaridades norteiam as encomendas de extrusoras, a exemplo de indústrias mais capitalizadas e possuidoras de mercado maior preferindo linhas aptas a gerar 2.000 kg/h de chapas, enquanto outras de menos recursos e raio de alcance mais limitado pendem para extrusoras capazes de produzir 300 kg/h”.
Pedra angular das termoformadoras nacionais, a Hece também espia com pé atrás o poder do esporte dito amador nas Olimpíadas para acender o pavio da demanda de descartáveis no próximo ano. “Tanto as Olimpíadas em agosto como os Jogos Paraolímpicos, marcados para setembro, estarão concentrados no Rio de Janeiro”, analisa o diretor Luiz Fernando do Valle Sverzut. “Decerto haverá crescimento do fluxo de dinheiro na economia estadual influindo, por tabela, na demanda de descartáveis. Mas trata-se de um aumento temporário e de cunho local”. Além do mais, encaixa, poucas indústrias de descartáveis termoformados operam naquele Estado e, até o momento dessas declarações, consulta alguma de compra de linhas pingara na mesa de Sverzut. Ainda assim, ele põe na mesa os predicados da sua termoformadora HF-750 DCT PP, munida de 70 cavidades para o copo de 200 ml e admitindo insertos de 180 ml. “Seu sistema de empilhamento e empacotamento elimina qualquer contato manual nos descartáveis produzidos”, distingue o diretor.
No céu das bocas
Consumo de copos promete decolar
O incremento do uso de descartáveis de poliestireno (PS) e polipropileno (PP) recai sobre a cadeia e beneficia fornecedores de matérias-primas. Na percepção do Grupo Unigel, produtor icônico de estirênicos, mais do que as Olimpíadas, a pane hídica no Sudeste irá alavancar o consumo este ano. “Constata-se que um restaurante paulistano gasta, em média, 315.000 litros diários na lavagem de louça, talheres e copos. Nos lares, uma pessoa lavando louça com a torneira meio aberta em 15 minutos gasta 117 litros”, situa a responsável de marketing da corporação brasileira, Michelle Botuzov Branco. Para a especialista, um copo descartável devidamente encaminhado para reciclagem é mais ecológico do que um similar de vidro, pois este necessitará de água e detergente para ser limpo e reusado. Na foto do momento, ela encaixa, o volume de PS destinado ao segmento de descartáveis bate 140.000 t/a e a projeção da Unigel aponta para expansão de 2% nesse reduto no exercício atual.
Esse aumento, no entanto não será favorecido pelas Olimpíadas, rebate Paulo Gubeissi, gerente comercial da Unigel. “É importante lembrar que a Copa, um evento de proporções muito maiores, não significou avanço na produção de descartáveis no Brasil”, ele sustenta. Além do mais, lembra o executivo, durante o mundial de futebol no ano passado, os copos utilizados dentro dos estádios foram importados em sua totalidade. Por conta disso, Gubeissi não vê entre clientes de PS intenções de investimento em maquinário para atender à demanda dos Jogos Olímpicos. “O setor de descartáveis opera com capacidade ociosa para suprir uma eventual procura maior”. Para esse nicho, o grupo recomenda seu grade de PS de alto impacto U8884 para extrusão e termoformagem.
Por seu turno, Rubén Madoery, diretor comercial da Innova/Videolar, turbo do Brasil em estireno e PS, considera que, mais do que os Jogos Olímpicos, são as crises de suprimento e água e energia que abrem de fato a descartáveis uma janela para o céu. “Os efeitos ultrapassariam a duração desse megaevento”, ele considera. As adversidades pelas quais o país passa, ele acrescenta, leva a população a repensar o consumo dos recursos naturais. Tais mudanças de hábito, pela visão de Madoery, aumentam o potencial para uso de descartáveis, mais um quesito no qual o Brasil perde feio até para seus vizinhos. “Poderíamos, sim, pensar nas Olimpíadas como chance para incremento pontual de 15%, ou mesmo visar crescimento anual entre 3% e 4%”, ele projeta. Porém, em vez disso, é preponderante chamar a atenção para a utilização dos descartáveis em um momento como este, propõe o porta voz da Innova/Videolar. “É um serviço que esses artigos irão prestar ao país”, completa.
No flanco de PP, a Braskem, única fornecedora nacional do polímero, aposta na contribuição dos Jogos Olímpicos para o aumento nas vendas de copos descartáveis. Contudo, por ser um evento pontual e localizado, o efeito tende a ser diluído na demanda consolidada anual, pondera Luciano Camargo, líder do segmento UD e acessórios no negócio PP da petroquímica. “No caso de copos promocionais injetados, o efeito será mais destacado”, enfatiza. No geral, o reduto de copos descartáveis já tem crescido acima da média dos demais nichos consumidores da resina, trunfo de suas vantagens econômicas e de desempenho do produto. “Esse mercado movimenta perto de 40.000 t/a de PP e apresentou taxa média anual de crescimento da ordem de 15% nos últimos cinco exercícios”, o especialista completa.•