Se a régua for o volume, alimentos só perdem para a construção civil no ranking dos setores consumidores de plásticos. Na esfera de polietileno, a resina mais transformada, perto de dois terços de sua demanda global são mobilizados por embalagens de uso único, cujo principal mercado – adivinharam?– é a indústria alimentícia. Por causa dessa relevância e por conter indicadores extraídos da vida real para orientar desenvolvimentos de embalagens e abrir os olhos para novas oportunidades de vendas, merece atenção redobrada da cadeia plástica a pesquisa “A Mesa dos Brasileiros”, chancelada pela Fiesp/Ciesp. Em sua segunda edição, divulgada no ano passado, ela é fundamentada por 3.000 entrevistas com consumidores de 16 anos em diante e realizadas em 2017 em 12 Estados e no Distrito Federal. A edição inicial era balizada por 1.512 respondentes ouvidos em 2010.
O confronto entre os cenários de 2010 e 2017 é crucial por revelar um ajuste de rota que ricocheteia no universo das embalagens plásticas. Trata-se dos novos hábitos de consumo trazidos pela crise, evidenciados pelo estudo no contexto de 2015 a 2017, período por sinal sem diferenças gritantes em relação à conjuntura atual de uma retomada por ora insinuada de leve na economia. Pelo pente fino de “A Mesa dos Brasileiros”, sobressaem entre as alterações no intervalo entre a primeira e segunda edição, a ascensão do preço como fator determinante na compra de alimentos industrializados e o enfraquecimento do apelo da praticidade – diretriz sempre enaltecida nos projetos de embalagens –, em razão da maior valorização do preço pelo público e pelo aumento do envolvimento da população no preparo das refeições.
A pesquisa também lista os aspectos mais importantes, na visão dos entrevistados, na hora da compra de alimentos. No topo estão: ter marca confiável; ser gostoso/saboroso; ser barato e, por fim, ter qualidade. Lá no 11º lugar, foi citado ter embalagem prática e três colocações abaixo, ter embalagem bonita. Cabe lembrar que a embalagem é ferramenta vital para um alimento industrializado ter preço em conta e sabor e qualidade preservados. Tem muito mais: sete em cada 10 entrevistados admitem ter, sob pressão da crise, alterado ao menos um de seus hábitos de compra de alimentos. São mudanças que os respondentes se mostraram propensos a manter mesmo quando o poder aquisitivo tornar a revigorar, entre elas a busca por promoções e descontos e cozinhar em casa. Com isso, diminuiu o interesse dos entrevistados por comprar alimentos semiprontos, quintal dos flexíveis multicamada, pois também perdeu força, entre 2010 e 2017, o argumento de que não se queria perder muito tempo preparando comida. Nesse caso, o controle dos gastos domésticos passou a falar mais alto. Na esteira, completa o levantamento, nota-se “a diminuição da disposição de desembolso por produtos de fácil preparo e por embalagens práticas”.
Componentes do conjunto da embalagem, os rótulos também estão sujeitos a críticas no estudo “A Mesa dos Brasileiros”. As 3.000 entrevistas indicam ser a leitura dos rótulos pouco frequente e, em regra, cinge-se à verificação do prazo de validade. Para o grosso dos respondentes, os rótulos são pouco didáticos e suas informações não são úteis, carecem de clareza e as fontes tipográficas das letras são, em geral, muito pequenas.
No pano de fundo das conclusões, a pesquisa assinala ficar patente que os consumidores de alimentos industrializados buscam preço baixo, mas sem comprometimento da qualidade. “Apesar de mais atentos ao preço, eles desconfiam da qualidade do produto quando está barato demais”. Por sinal, um custo/benefício extensivo às embalagens plásticas. •
1 Comentário
Gostei do artigo acima. Como fabricante de máquinas/equipamentos voltados para área alimentícia estamos sempre atentos à embalagens. E, percebemos que alguns fabricantes pecam muitas vezes na confecção da mesma pensando sem no custo benefício. Então acredito que poderiam melhorar essa questão pois, os consumidores prezam muito pela boa conversação dos produtos. Principalmente pela correria do dia-a-dia que todos nós no encontramos.