Um prato cheio

Comer fora ficou caro a ponto de, ao menor descuido, o mês transbordar da carteira. Pesquisa em 51 municípios tirada do forno pela Associação das Empresas de Benefício ao Trabalhador situa acima de R$ 34 o custo médio nacional de uma refeição com prato principal, bebida, sobremesa e café. Para quem faz conta, este gasto em 22 dias de expediente mensal abocanha 80% do salário mínimo. Razão de sobra para 61% dos trabalhadores, atesta estudo das empresas Alelo e Ibope Conecta, diminuírem a frequência das idas a bares e restaurantes. Mas, por mais seco o limão, o caminho nunca fecha para a limonada e, terceira lei de Newton, para toda ação existe uma reação. Ao freio puxado na comida na rua contrapõe-se rédea livre para o mercado de delivery (entrega de comida pronta), um prato cada vez mais cheio para embalagens termoformadas de polipropileno (PP).

“Para este ano, o faturamento estimado para o setor delivery e on the go (consumir no percurso) é de R$12 bilhões contra R$ 8 bilhões em 2014”, cruza os dados Célio Salles, membro do conselho de administração da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), com cerca de um milhão de filiados. No segundo trimestre de 2017, assinala o dirigente, a Abrasel colocou a lupa sobre o segmento delivery. “Vimos que 46% dos estabelecimentos pesquisados já ofereciam o serviço como estratégia para aumentar vendas”, delimita Salles. “Entre quem trabalha com entregas, 49% o fazem há mais de três anos e chama a atenção o contingente de 44% que adotou o delivery há menos de dois anos, efeito do interesse do empresariado em diversificar os canais de comercialização”. O mesmo levantamento aponta que apenas 29% dos estabelecimentos procurados ainda trabalham com pedidos de entregas feitos por telefone, em contraste com a erupção do uso do atendimento digital. “58% dos respondentes utilizam plataformas coletivas e 13% lidam com ferramentas próprias de e-commerce”, distingue Salles. Pelo cômputo da Abrasel, o movimento delivery responde por cerca de 30% da receita de todo tipo de estabelecimento que serve comida em suas dependências, desde bar e restaurante a hotel ou casa noturna.
Salles projeta na média de 2% e 4% a participação das embalagens no custo de uma operação delivery e não há como eleger o tipo de recipiente mais consumido, culpa da pluralidade de alimentos e respectivas singularidades. “Por exemplo, pizza e comida chinesa ainda são domínios das caixas de papel”, diz. No plano geral, o especialista sustenta haver ainda muito caminho para as embalagens de delivery serem requintadas no Brasil. “Por aqui, a embalagem para viagem é a mesma empregada em delivery, enquanto no I Mundo há muito mais alternativas de recipientes de toda a gama de materiais, com peculiaridades estéticas e funcionais e desenvolvimentos específicos para determinados tipos de pratos prontos para entrega”. Salles abre com as condições térmicas os cuidados que pautam as tendências em embalagens delivery. “Trata-se da preservação do calor ou frio, caso de itens gelados como sorvetes”, ilustra. Outras diretrizes dizem respeito à garantia da integridade da comida mantida no seu transporte e ao zelo pela apresentação do prato entregue, proporcionada por embalagens bonitas e valorizadoras do conteúdo.

“Lógico que essas soluções diferenciadas têm preço acima da embalagem convencional”, mas há mercado para elas”, sustenta Salles. “Por exemplo, em lugar da praxe de misturar arroz e feijão no marmitex, recorrer mais a recipientes compartimentados para alojar os componentes do prato em separado”.

A Abrasel acompanha de perto as iniciativas de legislação contra o uso de embalagens descartáveis, que imperam no segmento delivery. “Existem descartáveis recicláveis, de acordo com as expectativas ambientalistas e a Abrasel apoia este tipo de embalagem”, sublinha Salles, acrescentando enxergar na ofensiva geral contra os descartáveis um repúdio específico ao plástico. “Não se vê tamanha oposição em relação a alternativas como papel”, argumenta. “As embalagens plásticas são recicláveis e sustentáveis, pois não causam dano à natureza se descartadas corretamente e, a propósito, a Abrasel defende a conscientização ambiental da população pela via da catequese educacional”. No arremate, o conselheiro salienta que sua entidade reprova a interferência do poder público no poder de escolha de uma embalagem, como ocorreu na decretada proibição desde julho do canudos plásticos em bares, restaurantes e quiosques na cidade do Rio de Janeiro. “A proliferação de leis contra os descartáveis chegou a situações de exacerbação como este banimento”.

Braskem: delivery de iguarias em PP

Braskem delivery de iguarias em PP

“O segmento delivery traz desafios às embalagens plásticas convencionais, pois precisam ser ainda mais eficientes em performance e custo”, percebe Nicolai Duboc, líder de desenvolvimento de negócios/ PP da Braskem. Em resposta, evidencia, a empresa tem trabalhado no desenvolvimento de soluções de altíssima fluidez para elevar a produtividade, como a resina Maxio RP149. “Consta de um copolímero random de altíssima fluidez para injeção de parede fina”, ele descreve, acenando para este mesmo reduto com copolímeros de impacto CP100 e CP180. No âmbito de embalagens termoformadas de delivery, abre conciso o expert, está em desenvolvimento um homopolímero que alia alta rigidez com incremento de produtividade. “Apesar da aplicação incomum no Brasil, espumas a partir de PP com alta resistência do fundido, como nossa linha Amppleo, também soam atraentes quando o quesito é a conservação do calor do alimento”, acena Duboc.

Reaquecimento diferenciador
Silano Diniz, gerente comercial da Starpack, dínamo nacional em embalagens termoformadas para alimentos, não vê, por ora, como desbancar descartáveis de PP do segmento delivery, por maior que seja a fúria ecoxiita. Ele exemplifica com a insuficiência de requisitos para tanto na alternativa da embalagem de celulose. “Carece da estrutura adequada para aguentar o transporte, depende de selagem com plástico, é muito cara e a reciclagem é complicada pela composição multicamada”, ele fulmina. Na esteira, Diniz considera reinar muita desinformação na praça sobre embalagens plásticas. “São recicláveis e sustentáveis”, ele acentua. “Tal como nos países desenvolvidos, nossas autoridades precisam investir em campanhas de informação, descarte, separação e coleta dessas embalagens, além de incentivar essas práticas não com subsídios, mas com bônus para quem recicla e ajuda a despoluir”.

Com 34 anos de bagagem, a Starpack hoje roda no interior paulista com capacidade total, inclusas coextrusão de chapas e termoformagem, acima de 600 t/mês, situa o executivo. “Podemos trabalhar com diversos polímeros, mas PP é o nosso diferencial”, assinala Diniz. “Conseguimos aperfeiçoar o design de embalagens delivery, atentando para o empilhamento, fechamento, transparência e resistência ao intenso transporte por moto”. Conforme reitera, os recipientes de PP da Starpack batem os rivais alumínio e poliestireno expandido (EPS) devido a predicados como custo competitivo e a viabilidade do reaquecimento no microondas.

Sem abrir cifras, Diniz alega dificuldade para pinçar a fatia do delivery do faturamento da Starpack. “Mais de 90% do nosso portfólio é de embalagens com tampa e desenvolvidas para exposição e transporte de alimentos”, ele expõe. “Podemos aludir ao delivery de outro modo: de 2015 ao semestre passado, aumentaram mais de 30% as nossas vendas de embalagens específicas para o transporte de refeições, munidas de fecho hermético e capacidade de reaquecimento posterior à entrega.Vale o mesmo para recipientes para transporte de pequenas porções”. Em paralelo, a Starpack apalpa as possibilidades de sofisticar a linha delivery com aditivos, a exemplo de antifog e bactericida. “O agente antimicrobiano ainda é caro e, sem a divulgação de explicações claras sobre os benefícios oferecidos, os clientes não aceitam o aumentam do custo associado ao aditivo”.

Fechamento com BOPP
O emprego de agente bactericida também está sob escrutínio na Delpak, outra força motriz em termoformados delivery de PP e com troféus na parede como a introdução, em 2003, de um passo adiante no universo da comida entregue: as bandejas seladas. “O aumento nas vendas de delivery reflete-se no crescimento de clientes desse segmento em nossa carteira”, associa Alicio Del Nero Neto, gerente comercial da transformadora com 35 anos de estrada. Pela sua interpretação, a tendência de alta em delivery cristalizou-se nos últimos tempos e resulta da embolada de fatores como o pesadelo da mobilidade urbana, busca de praticidade nas refeições, a mão na roda da míriade de aplicativos de acesso e, para adensar o molho, o inchado gasto de se comer fora de casa hoje em dia.

Na fábrica sede a sudoeste da Grande São Paulo, a Delpak sobressai por embalagens de PP virgem, recicláveis e garantidoras de segurança e inviolabilidade da refeição levada pela moto. “Fomos os pioneiros no país em fechar embalagens alimentícias termoformadas com filmes de PP biorientados (BOPP) e termosseláveis, possibilitado a um pequeno estabelecimento a mais alta proteção à refeição transportada, lacrando a embalagem e assegurando a chegada da comida intacta ao seu destino”, distingue Del Nero Neto. No âmbito do tempo de aquecimento original da comida despachada, ele comenta ser habitual em operações delivery a adoção de sistemas tipo hot box durante a entrega. “Garantem assim que a refeição chegue quente, seja qual for a embalagem utilizada”, ele explica, engrossando a corrente dos que enaltecem como plus dos termoformados delivery de PP a possibilidade de reaquecimento no microondas, “ sem risco de contaminação pela degradação de material quando exposto ao calor”, completa o gerente comercial da Delpak.
Del Nero Neto fecha com os pontos de vista de Silano Diniz e da Abrasel quanto ao impasse que paira sob o mercado delivery na forma de uma enxurrada legislatória de vetos e restrições às embalagens descartáveis. “Seja qual for o material, o impacto ambiental negativo surge apenas com descarte incorreto”, nota o executivo. “Faltam no Brasil políticas públicas eficientes em prol da recuperação de refugo pós-consumo, desde campanhas educacionais para a separação do lixo doméstico à implantação efetiva da coleta seletiva e incentivo às cooperativas de reciclagem”. É pendência para não acabar em pizza, mesmo se pedida por delivery. •

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