Nos últimos tempos, alastrou-se entre os setores industriais, em particular nos de bens de capital, o costume de revisar seguidamente para baixo as previsões emitidas em janeiro, à medida que dezembro vai se aproximando. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), em cujo bojo o plástico se aloja em tubos e uma infinidade de acessórios, tornou-se assídua nessas correções impostas por uma economia às cegas. Em janeiro passado, por exemplo, a entidade noticiava previsão de queda de 4,5% para o faturamento deflacionado este ano versus 2015. “Projetamos queda da ordem de 10% na receita real do setor em 2016”, sinalizou em outubro Walter Cover, presidente da Abramat, para Plásticos em Revista.
Na média histórica, esclarece o dirigente, o mercado das indústrias de materiais de construção, se divide por igual entre construtoras e reformas residenciais, este último reduto atendido por lojistas. “2015 foi bem ruim para o setor e a ruindade continua no período atual, mas levemente melhor”, considera Cover. No ano passado, rememora, a Abramat constatou recuo de 12,5% na receita do setor, saldo que embute 14% de queda no movimento das construtoras e de 8% no da rede de comércio de materiais de construção. “O declínio de 10% antevisto para 2016 decorre da projeção de 12% no faturamento do setor no segmento de construtoras e de 8% no caso do varejo”, reparte Cover. Além disso, o balanço dos filiados da Abramat este ano é influenciado por um revés. “É preciso considerar o desempenho a desejar das obras de infraestrutura, a exemplo de portos e aeroportos”, coloca o dirigente. “Nos últimos dois anos, a infraestrutura respondeu por 18% das vendas de materiais de construção”, dimensiona o dirigente, “Trata-se de um segmento complementar, mas indescartável na receita do setor e seus resultados também foram complicados pelo envolvimento de grandes construtoras e empreiteiras na Lava Jato, engessando a atuação delas com efeito dominó nas suas compras de materiais de construção”.
Torniquete no crédito
Ao final da primeira quinzena de setembro, a Fitch Ratings, agência de classificação de risco de crédito, apregoava que 41% dos imóveis vendidos no país foram devolvidos em 2015. Segundo a mesma fonte, a cifra de R$ 21,7 bilhões corresponde ao total de imóveis encalhados no mesmo período. Em seu relatório mensal, a Abramat constatava em setembro último a persistência das dificuldades no mercado das construtoras, a reboque da retração na infraestrutura, distratos de apartamentos residenciais, redução do financiamento imobiliário e a diminuição do ritmo do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). “Ele já chegou a responder por 10% das vendas de materiais de construção”, situa Cover. No passado recente, insere, as construtoras também ganharam com empreendimentos de infraestrutura como os preparativos para as Olimpíadas do Rio, obras em geral entregues ao final de 2015. Até o reequilíbrio das contas públicas, não se tem notícia de mais projetos do mesmo porte liberados pelo governo.
Em varredura divulgada na segunda quinzena de agosto, o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (Inre) constatava 557 falências e 350 recuperações judiciais na raia das empresas de construção entre julho de 2015 e 12 meses depois. Walter Cover julga que esses números só têm aumentado desde então. “A quantidade de falências, pedidos de recuperação judicial e sinais de redução de atividades das construtoras tem crescido a reboque do desemprego, queda na renda familiar e repressão do crédito imobiliário”, ele diagnostica. “A situação chegou ao ponto de a Abramat constatar que a queda nos pedidos de financiamento já chegou a 25% este ano”. No cômputo do Inre, quase 25.000 famílias são hoje proprietárias de apartamentos e casas não entregues, um contingente equiparável ao total de vendas anuais de imóveis na cidade de São Paulo.
Jogo de cintura
Pela ótica tradicional, comenta Cover, o varejo sofre menos nas crises que as construtoras. “Sempre há alguma reforma a se fazer em casa”, argumenta. “Além disso, trata-se de um comércio dominado por controle familiar, com flexibilidade para não baixar as portas em fins de semana, fora outras facilidades e meios de reduzir custos como os trabalhistas”. No entanto, esse jogo de cintura não tem livrado um efetivo relevante de lojistas da falência e recuperação judicial, assinala o presidente da Abramat.
A loja é o ringue da luta entre marcas premium e de combate (movidas a preço) de materiais de construção. No plano geral, Cover é adepto da lógica de que, em ambiente de crise, as pessoas vão atrás de preço e assim favorecem produtos de qualidade pior. “As marcas premium, que construíram um marketing sólido e eficaz de qualidade, se vêm então arrastadas à disputa com fabricantes em regra menores e cujos produtos não raro afrontam as conformidades técnicas”, ele pondera, acrescentando que tubos plásticos não fogem à regra. “Para competir nessas circunstâncias, alguns fabricantes de marcas de primeira linha recorrem a saídas como atrelar a diminuição dos preços a ações para baixar seus custos sem afetar o valor agregado em tecnologia, como a redução da mão de obra ou das jornadas de trabalho”.
Outra enxaqueca para as marcas de primeiro time é o assanhamento da concorrência informal em momentos de crise. “O comércio marginal é encarado por um contingente de indústrias menores como alternativa para baixar custos e preços”. No arremate, coloca Cover, seu setor ainda é atazanado pelas importações, cuja competitividade ele deixa subentendido não ter sido tão chamuscada pelo comportamento do câmbio. “É o caso de produtos de manufatura menos complexa, como argamassa e tubos de aço, ou de ampla oferta mundial, como vergalhões e cerâmicas”.
Um terço sumiu
Cover fixa 70% como a média histórica das intenções de investir no período de 12 meses por parte dos filiados da Abramat. O percentual, ele frisa, antecede os anos de irreal bonança econômica na era PT. “Em crises passadas, como em 2009, o índice caiu a 55-60%, mas jamais chegou ao patamar de 44% de hoje em dia”. Em janeiro de 2016, por sinal, o indicador em questão estampava 37% contra 52% um ano antes. O presidente da Abramat entrevê na marca de 44% o agravamento da conjuntura acarretado pela subida no nível de ociosidade das indústrias do seu setor. “O patamar tradicional de ocupação era de 83% e hoje caiu para 65%”, ele especifica.
Nos últimos três anos de demanda em queda livre, calcula Cover, um terço do mercado da Abramat foi embora e o setor está de volta ao platô de 2008. Para 2017, Cover projeta no momento crescimento zero, empate com este ano, o que pode ser lido como boa nova após um triênio de recuos a fio no balanço. “O primeiro semestre será ruim, mas virá uma reação no segundo”. O dirigente põe fé numa retomada em gotas, a tiracolo, em especial, da redução da população sem trabalho, hoje calculada em 16,4 milhões de pessoas desocupadas ou subocupadas. “Será o fator chave para a confiança e crédito voltarem ao consumidor e investidor, nas pegadas das reformas encaminhadas pelo novo governo”, ele assinala. “A aprovação da PEC 241, do teto dos gastos públicos, é um bom começo”.
A ver se, dessa vez, a Abramat não vai mudar sua previsão de vendas no desenrolar do próximo ano.
Tomando mercado dos grandes
O pulo do gato da Plastilit é tornar a qualidade mais acessível
A Plastilit foi fundada em 1988, por empresários da família Abage, ligados à construção civil e de olho numa cenoura à frente da carroça: combater a carência de tubos de PVC de qualidade e preço notada na região de Curitiba. 28 anos depois, a mesma estratégia transposta para o mercado nacional leva a indústria paranaense a sustentar que está hoje entre as quatro primeiras de tubos e conexões prediais no país. A linha de ação também explica a continuidade de seu crescimento em meio aos lançamentos imobiliários e o consumo formiga (segmento de reformas) na geladeira. Nesta entrevista, o diretor comercial Ruy Cesar Feuerschuetter Neto dá um zoom no setor e nos pisões da Plastilit nos calos dos concorrentes no topo da pirâmide.
PR – Entre suas vendas de tubos e de acessórios, quais delas têm se mostrado mais e menos afetadas pela recessão dos últimos 2 anos?
Feuerschuetter – A linha de conexões tem demonstrado maior impacto da crise sobre as vendas, devido ao consumo direto de obras prediais. Já acessórios como assentos sanitários, sifões e torneiras de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) tiveram crescimento considerável por serem produtos de maior rotatividade nos lares.
PR – Porque a Plastilit não ingressa na produção de tubos de água quente?
Feuerschuetter – Já pesquisamos muito sobre a situação de linha de água quente. Mas a análise do mercado não chegou à conclusão de qual a melhor alternativa. Visualizamos algumas empresas com duas a três soluções para a mesma finalidade, a exemplo de tubos de polietileno reticulado, de PVC clorado (CPVC), Super CPVC e copolímero random de polipropileno (PP). Não percebemos resultados satisfatórios. Além do mais, ainda estamos consolidando a nossa participação na linha de esgoto e água fria; por isso nossos investimentos focam mais essas áreas.
PR – Nesses dois anos de retração contínua, quais as principais mudanças notadas nos hábitos de compra dos consumidores de materiais de construção da Plastilit?
Feuerschuetter – Percebemos um fortalecimento no posicionamento da marca Plastilit, pois os consumidores estão mais críticos e atrás de soluções mais acessíveis. No nosso setor, participamos do mesmo programa de qualidade seguido pelos líderes de mercado (PBQP-H).O que nos deixa no mesmo nível de competitividade quanto à qualidade. Uma mudança de atitude que constamos foi a de lojistas concentrarem em atacadistas e distribuidores as compras do seu mix básico de produtos. Daí porque reforçamos o contato com esse canal.
PR – Na visão da Plastilit, as marcas premium de tubos e acessórios têm ou não perdido nessa crise vendas para as marcas de produtos de combate (movidos a preço)?
Feuerschuetter – Não reconhecemos essas marcas como premium, mas como líderes de mercado, mérito do ótimo trabalho de marketing realizado por longos anos, pois, tecnicamente, os nossos produtos possuem as mesmas certificações. Percebemos que o mercado predial retraiu e que eles sentiram maior impacto, por praticarem preços acima dos nossos. Com base nessa situação, crescemos em vários clientes, mas já percebemos uma ação deles com considerável baixa de preços.
PR – Segundo a agência Fitch Ratings e o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial, de junho de 2015 a junho de 2016, 557 construtoras faliram e 350 entraram em recuperação judicial. No mesmo período, foi aferido que 15.350 compradores não conseguem receber o imóvel que adquiriram. Crescem os distratos de imóveis vendidos. Como esses fatos, agravadas pelo crédito imobiliário restrito, ricocheteiam nas vendas da Plastilit?
Feuerschuetter – Essas avarias afetaram diretamente o movimento. Foram necessárias novas ações de vendas e marketing para manter o faturamento. Os preços praticamente estabilizaram e não foi possível repassar os aumentos de matéria prima e mão de obra. A Plastilit executou um grande projeto de melhoria de produtividade. Ele nos possibilitou competir com rentabilidade adequada ao atual cenário econômico.
PR – Em média com qual índice de ociosidade a Plastilit tem rodado nesses dois anos e como tem procurado reduzir esse indicador? E qual a expectativa para 2017?
Feuerschuetter – Fizemos grandes investimentos na indústria em 2013, prospectando um aumento muito alto na produção. Mesmo assim, nossa ociosidade total não ultrapassa 10% da capacidade total produtiva. Prospectamos um aumento de 8% a12% nas vendas este ano. Com melhora na economia, aumento do mix de produtos e devido ao esperado resultado das nossas ações de treinamentos de vendedores, prevemos um aumento de 15 a 20% no movimento em 2017.
A construção civil mobiliza 16% das vendas de resinas da Braskem, movimento encabeçado por PVC, cujo vitrine nesse reduto são os tubos prediais. Desde 2015, devido à parada nos canteiros de obras e à postergação de reformas residenciais até dias melhores, o Brasil passou de importador de volumes complementares de PVC a exportador regular do vinil, mudança também bafejada pelo fator cambial.
Nº1 do país em PVC, a Braskem constata queda na demanda doméstica da resina desde 2014 e não vê este ano fugir à regra, como atesta Américo Bartilotti, diretor da área de vinílicos. “O segmento de tubos e conexões fechará 2016 em linha com o movimento do mercado total, implicando uma redução das taxas de ocupação da capacidade desse setor em relação a 2015”. Para o executivo, sinais de melhora em tubos e conexões devem vir à tona na segunda metade de 2017. Para ilustrar essa expectativa, ele aponta para a reação notada na procura por dutos de irrigação, um segmento de participação pequena no âmbito dos tubos de PVC, mas mesmo assim é uma boa notícia, salienta Bartilotti.
A calmaria na construção civil não estanca o fluxo de projetos de inovação da Braskem na esfera do vinil. Além das ações em leves e resistentes telhas antichama, esquadrias e pisos, Bartilotti destaca a gradativa popularidade, no reduto de obras imobiliárias, do sistema Construtivo Concreto PVC. “Ele possibilita erguer uma casa com acabamento completo em até uma semana, além de reduzir perdas com entulho e economizar nos gastos de energia e água na construção”, assinala o executivo.
Gigantão dá lição
Por que a Nicom é um caso à parte no varejo da construção
Fora crise e pesquisas de mercado, o noticiário do setor de materiais de construção é tomado por anúncios de abertura de lojas e mais lojas por redes varejistas, iniciativas abençoadas por analistas do ramo, todos defensores da expansão territorial como a alma do negócio. Há 27 anos a Nicom dá um nó na cabeça desse pessoal. Com sua única loja, na zona sul paulistana, ela foi listada por rankings setoriais em quinto lugar no Estado de São Paulo e vigésimo no Brasil em faturamento por metro quadrado, além de formar entre os 500 maiores correntistas do Itaú. “Nossa estratégia é crescer passo a passo”, estabelece o presidente Hiroshi Shimuta. “Se tivesse expandido a ponto de contar com 30 filiais teria menos hoje do que com a minha loja”, assegura. Não é à toa que o slogan da Nicom é “O Gigantão da Construção”.
Economista, advogado e graduado em Contabilidade, Shimuta recusa acomodar sua visão no preceito de que o boi só engorda aos olhos do dono. Ele aprofunda o argumento a partir do controle da Nicom, do qual participa com 97% e os demais 3% cabem à sócia executiva Emília Kato. “Aqui eu tenho total comando do negócio e dito os rumos sem ter de ouvir e depender de ninguém”, declara. “Numa rede com lojas por aí afora, as decisões acabam, por necessidade, sendo tomadas por um colegiado, incluindo quem está mais dedicado à atividade de determinada subsidiária. Não é o melhor dos mundos. Ter 30 filiais equivale a ter 30 esposas. Nada mal estar com uma mulher diferente a cada dia do mês. Mas, por trás delas, são 30 sogras para se aturar”.
Navio fretado
Numa esquina do bairro do Brooklin, a loja da Nicom ocupa terreno de 3.000 m² com área construída de 6.200 m². “Temos 300 funcionários registrados e 50 terceirizados e comercializamos em torno de 45.000 produtos de um efetivo aproximado de 400 indústrias de materiais de construção”, enumera o contador Marcelo Aquino da Costa. “Na média por dia, a loja emite 950 notas fiscais e recebe 1.500 visitantes no expediente das 7:00 às 21:30 hs”, Com três milhões de clientes cadastrados em carteira, calculam o executivo e Shimuta, a Nicom tem suas vendas cindidas em 55%-60% para construtoras (imóveis novos) e a fração complementar cabe ao consumidor formiga, comprador de lotes picados para reformas residenciais. O presidente informa que, de hábito, o faturamento mensal gira em torno de R$ 12 milhões e, com base na trajetória desde os idos de 1983, Aquino estima em 3% a taxa média de crescimento anual das vendas, “exceto em períodos recessivos, como 2015 e 2016, quando a receita tem se mantido estável”, ressalva o contador.
Shimuta embarca na corrente de que, se as reformas aviadas pelo governo vingarem, a retomada começará a se esboçar em 2017 e, no seu rastro, as venda da Nicom voltarão a encorpar. Por sinal, um termômetro da crise atual, ilustra o varejista, é a queda em torno de 30% no ticket médio do cliente da Nicom. “Mas ele continua comprando aqui, o que também pode significar que estamos tirando venda de alguém”, contrapõe o presidente. Na esteira, ele ressalta o índice médio de 0,2% de inadimplência aferido em sua receita mensal. “Fui vice-presidente e diretor de crédito do Citibank no Brasil; sinto até pelo cheiro da ficha cadastral se devo ou não liberar um financiamento”.
Para azeitar o ímã de atrair público, Shimuta se empenha em manter viva a lembrança da Nicom na memória do consumidor e ressalta como mão na roda, nesse sentido, o cadastro atualizado de três milhões de nomes. Em paralelo, ele informa sempre destinar de 1,5% a 2% do faturamento mensal para publicidade em rádio e em cadernos da grande imprensa dedicados à arquitetura, decoração e construção. Outras formas de promover a Nicom, polir sua política de RH e estreitar laços com clientes e fornecedores são ideias de Shimuta como fretar um navio para réveillon em cruzeiro no litoral paulista, patrocinar shows e realizar frequentes comemorações dentro da loja durante o ano.
O mico da exclusividade
Uma sacada ovo de Colombo virou praxe no varejo nacional de materiais de construção. “Resolvi aproveitar um espaço destinado a tranqueiras no fundo da loja de uma forma inédita no setor”, conta Shimuta. O primeiro passo foi rastrear fabricantes de vastos mostruários, cuja localização de seus produtos forçava o cliente a deslocar-se por grandes áreas na loja. “Pensei então: por que não concentrar tudo num único centro de compras?” A Tigre, nº1 do Brasil em tubos e acessórios domissanitários (ver à pág. 32), comprou a ideia ao pé da letra, pois topou patrocinar o primeiro projeto, nos idos de 2012/2013. “Foi bem sucedido a ponto de ser logo seguido pelo centro montado pela concorrente Amanco”, exulta o empresário. No embalo, Shimuta pretende abrir espaço para centros de compras de grandes marcas de tintas.
Os centros de compra também convenceram o varejista do que considera um erro estratégico cometido nos primórdios da Nicom: dar exclusividade a grandes marcas. “Isso nos torna vulneráveis a reajustes de preços e poda o poder de barganha, duas fraquezas que o estabelecimento da concorrência corta pela raiz, pois competidor algum quer ficar para trás”, vaticina Shimuta. Ele ilustra seu posicionamento com o projeto de repaginar em breve o frontal da loja. “Já acertei parceria no patrocínio dessa reforma com várias das marcas de tintas que vendemos”.
A salutar concorrência em materiais de construção (tubos de PVC que o digam) desdobra-se no quebra pau entre marcas premium e de combate, estas movidas a preço. “O brasileiro é um libanês”, suspira Shimuta. “Quer produto BBB: bom, bonito e barato”. 27 anos de balcão lhe renderam a certeza de que o que vende mesmo é o preço médio. “A missão da Nicom é fornecer o mais abrangente leque de produtos e dele constam os da categoria premium, os mais caros e requintados”. Mas as eternas feras no giro são os artigos da classe média, ele percebe. “Não são o suprassumo da tecnologia, mas cumprem o básico que se espera deles”, analisa o comerciante. “Aqui vai um paralelo: os produtos de qualidade e preço médios são como o uísque Johnny Walker Red Label ou o Toyota Corolla. Não são um Blue Label ou uma Ferrari, mas acabamos comprando com satisfação, seguros de não estarmos bebendo destilado de quinta categoria nem dirigindo um calhambeque”.
Saída do anonimato
Um punhado de produtos plásticos para construção têm, há décadas, a decolagem travada no Brasil por não conseguirem mudar a cultura do consumidor. São casos emblemáticos os perfis de PVC para portas e janelas ou telhas de termoplásticos diversos. Shimuta reconhecer o poder dos descontos no PDV para despertar a compra por impulso, mas não vê por aí a saída para tirar esses artigos do limbo.
A solução que sugere ele aprendeu com um fabricante de impermeabilizante de silicone para concreto e argamassas. “Eu nunca ouvira falar da marca e recusei todas as ofertas de cinco vendedores enviados em sequência e o último foi uma morena com pernas de prender meus olhos”, ele conta. Num sábado, o presidente da indústria em pessoa veio ao escritório de Shimuta, questionou a recusa dele em comprar seus vedantes e, diante do argumento do anonimato da marca, conseguiu luz verde do varejista para uma estratégia. “Ele passou a colocar na loja os produtos em consignação, incumbindo uma promotora de divulgar as características e vantagens deles no PDV, tendo ao lado um vendedor nosso munido de talonário”, relembra o empresário. “Na realidade, era ela quem vendia e o meu funcionário apenas tirava os pedidos. Aos poucos, o giro dos produtos ganhou densidade e regularidade a ponto de, em determinado momento, eu substituir o esquema da entrega em consignação por compras convencionais da Nicom”.
Para Shimuta, é este o caminho para marcas e produtos pouco conhecidos se firmarem na praça. “No entanto, muitas dessas indústrias relutam aceitar o sistema de consignação e assim continuam a ficar sem vender”, ele observa. “A possibilidade de a Nicom comprar delas no escuro é zero, pois é alto o custo do depósito de produtos micados, sem giro”.
“Em épocas de aperto, os mercados tendem a buscar soluções mais competitivas em materiais e sistemas construtivos, uma circunstância favorável ao plástico no plano geral, pela sua vocação de entregar qualidade com o melhor custo/benefício”, argumenta Mônica Evangelista, líder dos segmentos de Engenharia e Construção na área de polipropileno (PP) da Braskem. Entre as oportunidades para o polímero, ela cita o sistema de lajes nervuradas, usuário de formas de PP para moldar o concreto. “Reduz o custo da laje por tornar desnecessário o uso de concreto na região tracionada”. Outra garfada de PP no concreto transparece do sistema BubbleDeck. “Diminui o peso da laje mediante o emprego de esferas de PP para ocupar a zona de concreto que não desempenha função estrutural, resultando em menor custo e mais rapidez na construção”. Mônica também chama a atenção para a gradual catequese da nossa engenharia civil às conveniências das leves e anticorrosivas microfibras de PP para reforçar concreto em pisos. “Permitem o uso de menor quantidade de concreto por m²”, assinala.
No ringue dos tubos prediais, copolímero random de PP (PP R), produzido pela Brakem trava briga de foice com PVC clorado importado pelo transporte de água quente. Um duelo endurecido na atual conjuntura devido à combustão casada pela construção civil em coma com importações oneradas pelo câmbio. “A Braskem acredita no tubo de PP R por ser páreo para CPVC em quesitos como baixa condutividade térmica, resistência a impacto e a altas pressões e temperaturas”, esclarece Mônica. “Além do mais, PPR garante ao duto uma união contínua por não depender de cola ou outros produtos para aliar o tubo à conexão”.
Caixas d’água são uma jóia da coroa de polietileno (PE) em materiais de construção. Um segmento onde o massacre do legado de Lula e Dilma à economia é contrabalançado por um tormento climático: a persistência da crise hídrica em alguns Estados explica o crescimento estável, apesar dos pesares, da procura por caixas d’água rotomoldadas, deixa claro Renato Yoshino, líder do segmento de rígidos de PE da Braskem. As deficiências nas infraestruturas, responsáveis pelo agravamento da crise hídrica, também afagam as vendas de caixas d’água por meio da falência das contas públicas. Sua quebra secou as verbas do governo para providenciar encanamento à população de baixa renda, deixando-a sem escapatória senão o reservatório de água.
De olho nessa brecha para grandes caixas d’água e outros tanques, a Braskem tem logrado boa receptividade para o grade de média densidade linear base hexeno ML3602U, distingue Yoshino. “Sobressai pela resistência inicial e acabamento, além da prolongada exposição às intempéries”. Outros ases que a empresa tira da manga para a construção civil, emenda o especialista, referem-se à restrição do ruído residencial. “Constam de soluções em PE expandido e de um software de cálculo de projetos acústicos para profissionais como arquitetos”.
Ela está sempre em construção
Recesso em imóveis não deixa Tigre imóvel
Se tudo correr nos conformes na economia, lá por 2025 mercado brasileiro da construção civil voltará aos níveis de 2014, condiciona Thomas Karsch, gerente corporativo de marketing da Tigre, nº1 do Brasil em tubos e acessórios de plástico para o setor. “Para voltar aos níveis de dois anos atrás, é preciso que o PIB cresça à média anual de 1,2% a 1,4% até 2025, uma condição dependente da volta da confiança ao investidor e consumidor de materiais de construção”, pondera o executivo. Entre os pedregulhos no caminho, ele se inquieta, em especial com o nível de desemprego – 16,4 milhões de pessoas sem trabalho ou desocupadas na contagem oficial de outubro – e com a continuidade garantida por meio mundo do seu agravamento em 2017, um bode na sala das esperanças de volta por cima nos lançamentos imobiliários e nas intenções de reformas residenciais. “O varejo tende a reagir mais rápido a melhoras da conjuntura que as construtoras”, pondera Karsch, alinhado com a visão da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção (Abramat, ver à pág. 22).
A crise coincide com uma transição em andamento na Tigre. Ao atingir 75 anos de estrada, o grupo catarinense, sinônimo nacional de tubos de alto padrão, “está se firmando como uma indústria de acessórios para a construção”, descortina Luís Roberto Wenzel Ferreira, diretor executivo de marketing, vendas e inovação. No linguajar da Tigre, acessórios são traduzidos em três acepções nas apresentações PowerPoint: produtos relacionados à água, produtos plásticos e produtos que se conectem a outros do grupo. Entre os exemplos recentes, constam o registro VC compacto para tubos, torneira bóia click e grelhas de design patenteado, injetadas com copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS), ilustra Rene Kuhnen, coordenador de marketing de produtos. Um acessório fora do quadrado: a linha de adesivos para tubos de PVC, de produção terceirizada pela Tigre em laboratórios autônomos. No momento, o mostruário do grupo comporta ao redor de 15.000 itens.
O andar de baixo sofre
Na receita do grupo hoje em dia, Wenzel distingue a parcela da ordem de 30% originária das filiais no exterior (América do Sul e EUA) e, no mercado interno, atribui ao varejo 70% de suas vendas e a fração restante às obras de acabamento em imóveis novos. “Em períodos sem crise, os lojistas pegam 65% e as construtoras, 35%.” Sem descer a números e justificativas, Wenzel expressa fé no crescimento da Tigre este ano versus 2015, quando o faturamento divulgado pelo presidente Otto Von Sothen foi de R$ 3,36 bilhões. No entanto, a julgar pelos indicadores reproduzidos na imprensa econômica, a Tigre vira a página de 2016 com seu quarto exercício seguido de vendas líquidas no vermelho. No balanço de 2013, como saldo de US$ 515,7 milhões, a redução foi de 3,6%. Em 2014, com US$ 506,3 milhões, o recuo foi de 1,8%. No ano passado, o total de US$ 492,6 milhões traduziu declínio de 2,7% e a projeção publicada para 2016 é de vendas líquidas da ordem de US$ 425,7 milhões, implicando queda de 13,6%. A descida da ladeira também vara a superfície do parâmetro ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Conforme foi noticiado, o resultado de US$ 99,7 milhões em 2013, caiu para US$ 66,2 milhões em 2014, US$ 58, 9 milhões em 2015 e a expectativa para 2016 é de US$ 28,7 milhões.
Do seu mirante no topo da pirâmide em tubos prediais, Wenzel acha que os pedidos de recuperação não tendem a proliferar daqui para frente nas indústrias no escalão intermediário. “Quem conseguiu resistir até agora não deve sair do mercado”, afirma. De outro ângulo, ele chama a atenção para o enxugamento de fabricantes de tubos de alcance regional, no andar de baixo do ramo. A Tigre assiste a esse rearranjo, deixa claro o diretor, recostada em seu fôlego financeiro e nas estacas fincadas no reduto de maior valor agregado das marcas premium – a marca de tubos de combate Cardinali foi eliminada, tal como a marca de acessórios Plena.
Para Wenzel, “as marcas de tubos mais afetadas pela recessão são as situadas entre tubos movidos a preço e os de qualidade premium”. Não é bem a opinião da Abramat (ver à pág. 22) e da varejista Nicom (pág. 26), também entrevistada e ponto de venda da Tigre.
Ainda em produtos prediais, a Tigre forma entre as marcas que assinam tubos de água quente injetados tanto com PVC clorado (CPVC) como com copolímero random de polipropileno (PP R). Com diplomacia, Wenzel argumenta que a escolha cabe ao consumidor e as duas opções tendem a permanecer em oferta. “No Brasil, CPVC tem 90% de participação enquanto na Argentina PP dá as cartas em água quente”, exemplifica. Para Rodrigo Grella, gerente de operação da Tigre, se a economia ficar do jeito atual, CPVC tende a ceder terreno ao rival por ser material importado, encarecido pelo câmbio, além do fato de a resina nacional de PP ter performance equivalente na condução de água quente. De outro ângulo, executivos da Tigre consideram o tubo de CPVC mais fácil de instalar, por depender apenas de solda adesiva enquanto o de PP R requer termofusão e lixamento.
Produtos de nicho
Na unidade em Rio Claro, interior paulista, extrusoras produzem perfis de PVC adquiridos pela Claris, outra controlada do grupo, para montar porta e janelas na unidade em Indaiatuba, no mesmo Estado. Para Wenzel, portas e janelas são produtos de nicho, tais como os tubos corrugados de polietileno produzidos em joint venture com a norte-americana ADS em Rio Claro e na alagoana Marechal Deodoro. No caso dos perfis vinílicos, o diretor reconhece a irrisória participação amargada até hoje no mercado brasileiro, atrás das alternativas mais baratas da madeira e metal. Perguntado se não seria um negócio incompatível com a envergadura da Tigre, ele alega tratar-se investida a longo prazo. O que é fato, pois o grupo atua em perfis desde o final dos anos 1990. Um possível vento a favor dos perfis vinílicos de janelas no Brasil é vislumbrado no endurecimento da regulamentação de isolamento acústico em novos imóveis. Será um alento tão logo a construção deles reviva.
Em relação à manufatura a quatro mãos com a ADS, Wenzel reconhece a parada dura que é depender de verbas públicas à míngua para a infraestrutura. Trata-se de campo chave dos tubos corrugados de polietileno de alta densidade (PEAD) em aplicações onde duelam com dutos de cimento, como drenagem pluvial, saneamento, sistemas de qualidade de água ou aterros sanitários. Mas o diretor salienta que a iniciativa privada tem sido um cliente relevante nesses tempos de governo no saldo devedor.
Wenzel retoma o fio enaltecendo a participação crescente da Tigre em caixas d’água de PE rotomoldado, com capacidade máxima de 5.000 litros. O diretor descarta a hipótese de entrar em cisternas, reservatório lesionado em suas vendas pela parada nas compras do governo, por falta de caixa, para distribuição à população no semiárido castigado pelas secas. Outra peça rotomoldada pela Tigre é o dispositivo TIL, para inspeção e limpeza de redes coletoras de esgoto, é o único acessório soprado pelo grupo são os assentos sanitários.
Manutenção interna
Numa panorâmica, a operação brasileira da Tigre hoje consome cerca de 15.000 t/mês de PVC, lastreada em capacidade instalada na órbita de 22.000 t/mês, arredonda o gerente Rodrigo Grella. Pela sua estimativa no plano geral, as fábricas do grupo no país têm operado com ociosidade média de 15-18%, sequela da recessão. Por tabela, ele encaixa as compras de máquinas novas tramitam em níveis muito baixos. “Em alguns anos das duas décadas passadas o grupo chegou a comprar de 50 a 100 máquinas num único exercício”, rememora.
Em Joinville, a unidade mais antiga é um microcosmo fabril da Tigre. Colocando PVC e PE no mesmo compartimento, Grella dimensiona entre 3.000 e 3.500 t/mês o consumo de resinas ali destinado a tubos e, na esfera do vinil, de 1.000 a 1.200 t/mês para conexões. “A fábrica dispõe de 25 extrusoras e 125 injetoras”, esclarece o gerente. Quanto ao parque de extrusão, operam em Joinville linhas para tubos rígidos e flexíveis de grifes como battenfeld cincinnatti e KraussMaffei e, no efetivo de injetoras, modelos da extinta Sandretto coexistem com uma pluralidade de marcas ,entre elas linhas chinesas e um equipamento sem colunas Engel victory, esta a injetora favorita de Érico Schio, gerente de engenharia da Tigre. “Toda a assistência das máquinas é fornecida internamente; não dependemos de terceiros”, assegura Grella. O índice atual de reprocesso na fábrica é fixado por ele em 2,6% na injeção e 3,4% na extrusão. “Em média, reutilizamos 98% do refugo gerado em linha e nenhum produto Tigre contém reciclado pós consumo”.
Singularidades vinílicas
Caso à parte em Joinville é a única matrizaria do grupo. De 2002 até hoje, calcula Érico Schio, ela confeccionou cerca de 800 moldes de injeção, construindo 70 por ano, em média. “No momento, o grupo dispõe de cerca de 2.000 moldes ativos”, acentua o gerente. Conforme analisa, num setor que volta e meia endeusa a terceirização, caso dos materiais de construção, é raro um fabricante contar com ferramentaria própria. “O Centro de Desenvolvimento de Moldes (CDM) convém para a Tigre devido à sua estratégia de conceber internamente as ferramentas mais complexas, ponto a favor dos custos e da preservação do sigilo dos desenvolvimentos – sempre um risco quando se depende de fornecedor de fora, apesar dos acordos firmados de confidencialidade”. Na média, situa, a confecção em casa dos moldes sai de 10% a 40% mais barata que os orçamentos das matrizarias da praça. Delas, por sinal, completa Schio, a Tigre só adquire moldes mais simples e convencionais.
Como referência dos desenvolvimentos gestados no CDM, equipado com cinco centros de usinagem e prototipagem em 3D, Schio cita um molde de 64 cavidades para joelho de PVC de 64 mm de diâmetro. “A complexidade decorre das peculiaridades reológicas de PVC, a ponto de, por exemplo, os índices de fluidez e densidade do composto, também formulado na planta, poderem se alterar entre o preenchimento da primeira e a última cavidade.
A Tigre programa investir R$ 600 milhões em cinco anos, um planejamento no qual o CDM, interpreta Schio, deverá ser imcumbido de estreitar a integração dos moldes com a infra de automação do processo de injeção do grupo, Inclusive para isso uma delegação da Tigre visitou a feira alemã K 2016, em busca de informações sobre sistemas conjugados de manufatura. Até agora, afirma Schio, o grupo não opera com células de injeção. “Mas queremos saber mais sobre o conceito Indústria 4.0”. •
O editor Hélio Helman viajou a Joinville a convite da Tigre.