Trocando em miúdos: NPE mostrou a grandeza dos nanomateriais

Rigor das normas de saúde pública e ambientais inspira formulações inteligentes, constata dirigente da Nanox
Nanox

Cabeça pensante de materiais inteligentes, a Nanox, startup desmembrada do Centro de Desenvolvimento de Materiais da Universidade Federal de São Carlos, chega aos 20 anos imersa numa estratégia de globalização, puxada por filiais montadas em Coimbra, Portugal, e no estado norte americano de Massachussets. “Em Portugal, o foco é abrir o acesso ao mercado europeu e, nos EUA, pretendemos internacionalizar algumas soluções e construir alternativas diretamente voltadas ao mercado local com possibilidade de importar essas soluções para o Brasil”, esclarece o sócio fundador e COO Daniel Minozzi. “Além disso, estamos sempre abertos a firmar acordos de licenciamento e parcerias comerciais para desenvolvimentos e oportunidade de negócio agregadoras de valor ao nosso portfólio”. Essa linha de ação justifica a presença da Nanox entre os raros expositores do Brasil na NPE, vitrine nº 2 do plástico mundial e cuja última edição foi realizada em Orlando, Flórida, de 6 a 10 de maio último. Na entrevista abaixo, Minozzi avalia as tendências em nanoformulações para turbinar o desempenho de polímeros em evidência na feira.

Daniel Minozzi, CMO e Cofundador da Nanox
Daniel Minozzi: avanços em grades autorreparáveis de PU, elastômero e epóxi.

No plano geral, quais os principais avanços, ainda inéditos no Brasil, notados na NPE em termos de materiais inteligentes?
Destaco produtos como materiais com sensores, sistema de resposta e funcionalidade. Constam de materiais plásticos capazes de reagir a estímulos externos (temperatura, luz, umidade, etc) de forma controlada, para alterar suas propriedades ou comportamento. Por exemplo, podem mudar de cor em resposta a mudanças de temperatura, tornar-se mais flexíveis em resposta à aplicação de pressão ou liberar substâncias ativas em resposta a certos estímulos ambientais. Em resumo, eles têm a aptidão para ’responder’ ao ambiente ao seu redor de uma maneira que altera sua ´funcionalidade’ ou características físicas. Essa capacidade de resposta pode ser incorporada aos materiais durante o processo de fabricação, por meio de aditivos ou modificadores específicos.

Outro ponto alto da feira em materiais inteligentes foi o desenvolvimento de polímeros com capacidade de autorreparação. conhecidos como polímeros ‘self-healing’. Entre as opções autorreparáveis expostas figuravam polímeros de poliuretano (PU) acrescidos de materiais como microcápsulas preenchidas com um agente de cura, a exemplo de metacrilato de metila ativado por calor. As microcápsulas se rompem quando o material é danificado, liberando o agente de cura para preencher as fissuras. Outra alternativa apresentada em Orlando foi o polímero de borracha autorreparável, recomendado a aplicações dependentes de flexibilidade. Podem conter aditivos como polímeros de enxofre, que se misturam e se religam quando danificados, restaurando a integridade do material. Ainda nesse compartimento cabem as resinas epóxi autorreparáveis, indicadas para peças técnicas e acrescidas de  insumos como microcápsulas de polímero líquido. Quando o material é danificado, elas se rompem liberando o polímero líquido para fechar as fissuras e recuperar a resistência da resina epóxi, ampliando por extensão sua vida útil.

Quais as principais novidades que viu na NPE em termos de nanomateriais para incorporação em termoplásticos?
Chamaram a atenção avanços como a incorporação de nanopartículas em polímeros para melhorar as propriedades mecânicas, térmicas e elétricas. Por exemplo, empresas demonstraram a utilização de nanopartículas de óxido de grafeno, material de alta condutividade elétrica e térmica,em termoplásticos como PP e PEAD.  Nessa mesma trilha, desponta o uso de nanopartículas de sílica em polímeros como PU e PS. A sílica é conhecida por sua resistência mecânica e capacidade de reforço e sua adição pode melhorar a resistência ao desgaste e a rigidez dos polímeros. Por sua vez, algumas empresas apresentaram a incorporação de nanotubos de carbono em polímeros como PA e PET. Nanotubos de carbono primam pela alta resistência mecânica e condutividade elétrica. Sua incorporação melhora a resistência à tração e a condutividade elétrica do polímero  aditivado, assim como sua rigidez e resistência à abrasão e risco. Daí a recomendação dessa solução para assegurar a condutividade a peças plásticas para aplicações eletrônicas ou até mesmo em itens condutores para baterias etc. Por fim, a NPE também expôs nanocompósitos de desempenho aprimorado em quesitos como barreiras a gases, à permeabilidade de água e de produtos químicos. Seu foco são as embalagens, mercado em franca ascensão nos EUA, mas também se adequam a aplicações técnicas.

Quais os principais progressos notados na NPE em termos de aditivos antimicrobianos?
Esses avanços sobressaíram, em especial, na área de aditivos seguros para aplicações em embalagens em produtos de consumo, no rastro da evolução da legislação a respeito e dos produtos aplicados para polímeros. Em nível internacional, órgãos reguladores como as agências Food and Drugs Administration (FDA), nos EUA e European Food Safety Authority (EFSA) na União Europeia têm revisado suas normas relacionadas a aditivos antimicrobianos em embalagens de alimentos, procedimento que inclui a avaliação de novos ingredientes ativos, métodos de aplicação e limites de uso seguro. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa adota a mesma conduta e, a propósito, tem atualizado suas diretrizes relacionadas à aditivos antimicrobianos em embalagens de alimentos e outros produtos de consumo, caso de normas relativas à toxicidade e impacto ambiental. Isso inclui a avaliação de novos ingredientes ativos, métodos de aplicação e limites de uso seguro. Além disso, a Anvisa tem implementado medidas para aumentar a rastreabilidade dos aditivos antimicrobianos e a transparência das informações necessárias sobre eles para o consumidor final. Uma referência de adequação a esses padrões regulatórios mais severos é o nanoaditivo introduzido na NPE pela minha empresa, a Nanox, para proteger embalagens plásticas contra bactérias, vírus e fungos. Foi formulado em linha com anormatização da indústria alimentícia e se distingue pela durabilidade da proteção contra a proliferação de microorganismos.

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